Para refletir! As manifestações tomaram as ruas que há - TopicsExpress



          

Para refletir! As manifestações tomaram as ruas que há décadas foram proibidas às pessoas. E como elas são ocupadas todos os dias pelos que podem mais (automóveis, polícia e bandidos), está sendo uma emoção ocupar uma cidade e torná-la sua, sem carros, sem polícia, sem lei! Até o tal vandalismo faz parte dessa liberdade: Destruamos o poder que impede nossa felicidade, qualquer poder, agências bancárias, museus e teatros que não frequentamos, lojas que desafiam nosso poder de compra, cabines da PM que nos reprime, televisões que mentem e só nos mostram com desprezo... Que mais? É claro que a direita pró-golpe e a classe média “cansei”, principalmente em São Paulo, que nunca viu o povo apoiando sua crise existencial, gosta da festa, apesar do medo da bagunça: Vai que isso vira pra outro lado... Mas é bom não esquecer que, ainda que em uma conjuntura muito diferente, depois das tentativas de organização política pré-1968 e do desmantelamento violento do Movimento estudantil, operário e camponês, nós, nas organizações da chamada “Nova Esquerda”, também dizíamos que os partidos não nos representavam. Não, não eram só o MDB e a ARENA: A maior parte das organizações rejeitava mesmo era o nome e a estrutura de “partido”. Nós simplesmente não acreditávamos nesse instrumento para alavancar mudanças sociais. Mas, afinal, o que falavam, escreviam e pretendiam esses novos grupos da esquerda? Democracia, naquele momento, era só a palavra que a Ditadura usava como se fosse sua; muitas organizações lutavam por uma democracia proletária, democracia de todo o povo, democracia socialista, libertação nacional e por aí vai. Eram os discursos da época no mundo todo... Eram nossas referências. Nós sequer inventamos muita coisa de novo. Socialismo era uma palavra mágica, o caminho para eliminar todos os males e limar as enormes desigualdades. Mas o que é que se pretendia, traduzido de forma compreensível para os dias de hoje, já que a palavra socialismo, com tantos vieses históricos, tem tantos significados que já não define mais nada? A esquerda pretendia promover as mudanças profundas que a sociedade brasileira clamava desde sempre: Inclusão de camadas extensas da população no acesso aos bens que o país dispunha e produzia. Comida, por exemplo... E a participação dessa maioria no poder, nas decisões políticas. Reforma Agrária, contra a histórica violência da apropriação latifundiária da terra, sustentada pelas Forças Armadas. Libertar as forças produtivas das amarras que as sujeitavam ao imperialismo americano do pós-guerra, na lógica da grande divisão do Mundo, a Guerra Fria. Depois da experiência tragicamente frustrada do Chile de Salvador Allende (e da derrota de quase todas as organizações armadas no Continente), parecia que as ditaduras na América Latina iriam durar até que se esgotassem por si sós. Esgotamento, novas formas de luta política e novos tempos foram derrubando as ditaduras do Continente e passamos a viver uma nova realidade, democrática e, desta vez, aparentemente duradoura. Por inúmeras razões, que não vale a pena enumerar, é difícil imaginarem-se golpes militares na América Latina nos nossos dias. Bom, se não há milico ameaçando a liberdade, quem impede, hoje, o encaminhamento das velhas aspirações de justiça social e inclusão? O que impede os eternamente excluídos de terem poder político? Quando é que se formou esse falso consenso de que a democracia representativa era o único caminho para libertar o país de suas históricas mazelas sociais? Que teoria política sustenta essa posição "inovadora" dessa esquerda? Que foi que disse que, ao povo, basta votar em representantes e, à economia, bastam gerentes competentes? A mesma esquerda, que acreditava na solidariedade, como caminho para liberar a criatividade do povo, agora acredita é na competição? "Estude que você vai melhorar de vida". "Consuma mais, porque é isso é inclusão social". "Vote, porque assim os eleitos terão mais poder terão para representá-lo”. “Acredite na mineração, no agronegócio, nas grandes empresas que lhe oferecerão bons empregos, nos bancos que financiarão o crescimento da economia, nos esforços do governo para manter o valor da moeda que você recebe de salário". "Todos, um dia desses, com o Brasil crescendo, serão de classe média. E todos sabem que ser de classe média é bom"! Em que momento a esquerda, com poucas e frágeis dissensões, passou a acreditar nesse amontoado de tolices? Os movimentos sociais só foram necessários para que se chegasse a esse efêmero poder? Ainda que o caminho da verdadeira inclusão seja tão longo e os desvios de rota tão radicais? A verdade é que não há um projeto político que dê poder real às pessoas e às suas organizações autônomas. A estrutura social do país pouco mudou, e as instituições reais, aquelas que todos vêm e sentem, menos ainda: A Ditadura criou as PMs, militarizou as polícias e elas têm piorado desde então. A propriedade da terra concentrou-se ainda mais. As desigualdades sociais aumentaram apesar do êxito das iniciativas para atender a emergência da fome, da saúde e da escolarização. Os ricos ficaram mais ricos, os bancos ganham mais, os altos salários estão ainda maiores e mais distantes da média, as cidades cresceram e continuaram atraindo mais pessoas, como se essa concentração fosse desejável para o bem da economia. E é claro que o aumento da competição, a lógica de um capitalismo selvagem, o mesmo que se esgota pelo mundo afora, iria aumentar a violência, o trânsito, a alienação dos habitantes do espaço público. E foi com isso que esquerda se contentou? As teorias políticas que abraçávamos no passado tinham sérias limitações e aqui no Patropí, na verdade, nunca tiveram sequer a oportunidade de errar. Mas a esquerda tinha um horizonte definido. Podia ser utópico, romântico, talvez irreal e até ultrapassado. E agora? Qual teoria política sustenta esse projeto de poder? Quem, de boa fé, acredita que mais do mesmo que aí está se sustenta no tempo? O que, afinal, se pretende como futuro? Qual é a nossa utopia? Já se disse que essas manifestações de rua são mais existenciais que políticas. Como é sempre possível querer o impossível, querem mudar tudo, acabar com as imperfeições do Mundo: Limpar o país, acabar com a corrupção, a desonestidade, os maus hábitos, o mau transporte, a dificuldade em competir socialmente e todos os signos dessa sociedade capitalista que nós estamos estreando: "Se há dinheiro para subsidiar os ricos, tanto que basta ser rico para obtê-los, porque não há dinheiro para tudo aquilo que falta aos que não têm competência ou oportunidade, para os excluídos de sempre"? Claro que é tudo muito simplista. E é esse simplismo que às vezes se assemelha tanto ao fascismo. Enfim, a esquerda patinou nesse pântano político de tal forma, que até as velhas ideias fascistas ("vai trabalhar vagabundo, bandido bom é bandido morto, vamos piorar as cadeias e prender adolescentes") encontram insuspeitáveis adeptos. A democracia representativa, nos moldes que a construímos, tem a séria limitação de não oferecer mais respostas para o futuro. Ela só pode sobreviver se outras formas de democracia direta lhes derem suporte. Assim como a palavra socialismo foi deformada pela realidade do capitalismo de estado, o sonho da esquerda, de uma sociedade justa e solidária, é entendido agora como uma proposta mentirosa. Mas nem a história está no fim, nem as ideologias acabaram. O que se vê é o começo do fim de um projeto socialdemocrata, cada vez mais à direita, tão distanciado do dia a dia das pessoas, tão encastelado em palácios e gabinetes que acaba de ser surpreendido pelo próprio povo que ele pensa que representa. Essa esquerda, no Brasil, está a ponto de esgotar suas propostas para o mundo real desse século. Pra piorar, não dá tesão na juventude: Não entende de internet, não entende nada de índio, nem de meio ambiente, nem de segurança pública moderna, nem de escola moderna, nem de agricultura moderna; nem discute defesa nacional moderna, nem energia e nem sequer é transparente nas suas articulações políticas. Se a soberba impedir a revolução de seu pensamento político, a esquerda, pelo menos aqui, vai sim perder o bonde da História. E o que vai diferenciá-la da direita? O Aécio, o ex-comunista arrependido Roberto Freire, o não alinhado Eduardo Campos, todos dizem a mesma bobagem: “Falta competência ao governo” Eles não questionam o rumo nem as opções políticas, questionam os gerentes! Todos nós percebemos com clareza que existem dois modelos políticos nítidos na Venezuela: O dos bolivarianos e o da direita fascistóide; assim como na Bolívia, na Argentina, Uruguai, Equador... E cadê o NOSSO modelo político, democrático, de Brasil? Os nossos adversários históricos não são os manifestantes de hoje, por mais que eles nos pareçam um bando de sem noção. Edmauro Gopfert
Posted on: Fri, 21 Jun 2013 20:42:28 +0000

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