Para se pensar no 20 de novembro. É fácil quando o assunto - TopicsExpress



          

Para se pensar no 20 de novembro. É fácil quando o assunto não é você. Desconfie sempre de quem fala “sai dessa” quando o “essa” é algo que ele nunca experimentou. Afinal, do ponto de vista de quem está bem acomodado e seco no convés do barco, não há motivo pra se debater tanto, lá embaixo no porão, só porque tem água do mar entrando nos seus pulmões… SAI DESSA! Só para lembrar a escravidão no Brasil vigorou durante 388 anos motivo este que por si só defere direitos aos descendentes deste povo. “É nois.” Pior ainda são aquelas pessoas (muitas negras) que são contra as cotas (e similares) argumentando que “nunca precisaram delas”. E eu faço uma cara pensativa e respondo: Concordo claro, como não? E tem mais, também sou contra esse negócio de diálise em hospitais públicos e rampas para cadeirantes nas calçadas, acento e atendimento preferencial para idoso. Oras se passei a vida inteira sem precisar de nenhuma dessas coisas, é porque não são tão importantes assim, certos? Afinal, dado que eu sou o centro do universo e a medida de todas as coisas, as pessoas só deveriam receber o que eu recebi e as únicas necessidades válidas são as que eu também tenho! Certo? Quanta besteira! Agora vejamos os negros têm menos renda e sofrem mais violência. Nas periferias, as mortes violentas atingem mais jovens negros do que brancos. Nas universidades brasileiras apenas 5% dos alunos são negros. Entre as mulheres pobres, as negras ganham menos do que as brancas. Portanto, a questão do descaso com as culturas e etnias que construíram estes pais, merece reparação histórica, com a qual toda a sociedade brasileira deveria se comprometer. Basta frequentar uma repartição pública para ver quão raro se vê negros. O mesmo vale para as redações dos veículos de comunicação. Vale também para as cúpulas das empresas em geral. Para muitos brasileiros não podemos implementar cotas, par não corrermos o risco de nos assemelharmos aos norte americanos e etc...Somos profundamente racistas, e piora muito pelo motivo da cultura do deixa-disso, por pensarmos que o não falar sobre o racismo e a escravidão vai resolver por si só o problema. E preciso que a tragédia da escravidão, seja lembrada com grau de equivalência como o do Holocausto, é daquelas coisas que não pode ser esquecida, que visitas a calabouços de escravos remeta-nos ao campo de concentração Buchenwald: e que ambos nos fação lembrar a capacidade humana para cometer o Mal. A escravidão e o Holocausto deveriam ser ensinados nas escolas de modo a conectar a crueldade passada aos eventos atuais. “Eu Alessandro Carlos Perciliano peço desculpas pela escravidão, tenho vergonha.” É possível quantificar o horror? Somos os melhores em esquecer nossos crimes. O Holocausto perpetrado pelos alemães matou cerca de seis milhões de judeus, um terço de todos os judeus no mundo. Além de incontáveis milhões de outras pessoas. Não é minha intenção negar nem suavizar esse horror, mas não foi nem de longe o único horror perpetrado por europeus em sua longa história de horrores. É impossível visitar lugares de tortura e morte como Auschwitz, Treblinka, Sobibor sem uma atitude de respeito e reflexão, sem pensar na memória das centenas de milhares de pessoas que sofreram ali. Mas por que nós, brasileiros, não temos a mesma atitude ao visitar uma senzala, o Pelourinho (onde os escravos eram castigados publicamente) ou o Cais do Valongo? Auschwitz matou 1,1 milhão de pessoas, Treblinka, 900 mil, Sobibor, 200 mil. Enquanto isso, o Brasil recebeu 4 milhões de escravos. Estima-se que cerca de 40 a 75 milhões de vidas africanas tenham sido perdidas por causa do tráfico, entre mortos em guerras para obter escravos, em emboscadas para capturar escravos, ou em marchas forçadas para os portos exportadores de escravos no litoral. Quem consegue compreender a enormidade desses números? Quem consegue quantificar tamanho sofrimento? E essa pica é nossa! A escravidão africana nas Américas foi talvez a maior tragédia da era Moderna. Dentre as muitas nações que receberam esses escravos e que construíram sua riqueza nas costas deles, o maior culpado é o Brasil muitos portos brasileiros receberam essa massa humana desgraçada, o principal foi o Rio de Janeiro. (Dos nove deputados que votaram contra a Lei Áurea, vamos lembrar, oito eram da província do Rio.) Por fim, muitos e muitos séculos depois, no outro extremo dessa triste história, a última nação das Américas a abolir essa escravidão africana inventada pelos portugueses, a nação que mais teimosamente se agarrou aos seus escravos até o último minuto possível, foi justamente a nação gerada do ventre português: o Brasil. Nós. Na Alemanha basta uma simples menção ao nazismo, Holocausto ou Auschwitz para fazê-los abaixar a cabeça em silêncio, envergonhados, culpados, tristes. Nós brasileiros, se tivéssemos vergonha na cara, se tivéssemos um pouco mais de memória, faríamos a mesma coisa ao ouvir menções a senzala, navio-negreiro, escravidão, divida trabalhista, sequestro, cárcere privado, abuso de poder, violação dos direitos humanos, injuria, racismo, violação da dignidade humana, homicídios genocídios enriquecimento ilícito, segregação racial, politica e desaprovação cota racial. Negro Alessandro, consciência em memoria de zumbi.
Posted on: Tue, 19 Nov 2013 19:50:48 +0000

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