Por que aquelas canções que a gente conheceu no rádio na adolescência marcam tanto, mesmo quando se é exposto a coisa bem melhor depois (ou seja, sem essa de "a música do meu tempo é que era boa!") ou quando a adolescência não foi particularmente feliz e não se tem grande saudade dela (ou seja, sem essa de "ah, meu tempo....")? Meu palpite: acho que a gente sente falta é justamente da ausência de referências, que acabam trazendo o peso de "informação" a tudo que se escuta mais tarde. Aos 13, 14, 15, não se conhece nada direito, não há o distanciamento posterior que o acúmulo de conhecimento torna inevitável ("ah, esse é o tal Franz Ferdinand? Legal, parece Talking Heads, Gang of Four..."). Não, não tem nada disso, é direto na veia. Aquilo vira o tecido básico, o que se segue ao longo dos anos, por audição fundamental que venha a se tornar, já entra por cima, já fica depositado na cadeia de gordura. E o tecido básico é isso, básico, naturalmente mais sensível ao toque. De alguma maneira, é como se ouvi-las te libere de ter que entendê-las, interpretá-las, ir mais fundo. Deve ser isso: sentir falta do espaço vazio na mente que dá mais espaço pra que as ondas sonoras daquilo que se ouvia na época ressoem pelos cantos. (Reflexão pós-término da leitura de Dias de Luta)
Posted on: Thu, 04 Jul 2013 22:13:31 +0000
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