Por que deu errado (ou por que ler os comentários) Em junho foi - TopicsExpress



          

Por que deu errado (ou por que ler os comentários) Em junho foi tudo festa. A galera toda junta, cantando o hino nacional, distribuindo panfleto a favor da redução da maioridade penal e contra o bolsa-família... Não, calma: panfleto contra a redução da maioridade penal e contra o bolsa-família? Na realidade, aparentemente, fazer política é como aprender a andar de bicicleta. Antes de se equilibrar, você cai. Mesmo que você tenha algum tipo de apoio, é quase uma regra, . A incrível e calculada reviravolta da posição midiática pegou todo mundo de surpresa - a ação policial também pegou todo mundo de surpresa, inclusive a mídia, afinal, quem consegue entender que a polícia fechou a Avenida Paulista pra evitar que os manifestantes fechassem a Avenida paulista? A verdade é que as bombas, os tiros e toda a camaradagem da tropa de choque foi um exagero tão absurdo que a mídia entendeu que não dava pra varrer pra baixo do tapeto. Aquilo tudo foi muito mais do que qualquer um calculou. Nem o Datena conseguiu manter a opinião dele. Foi aí que entrou a novidade. O MPL se perdeu (com toda a razão) e vários outros atores políticos entraram no jogo. Atos políticos massivos são um campo político de interesse. E foi uma bagunça só. E, por mais que muita gente considere que o pessoal de esquerda é vagabundo querendo substrato pra dominar o planeta, a gente foi muito ingênuo. O movimento estudantil (e algumas dimensões do movimento de esquerda) não tem um contato direto com o pessoal que tá em casa e assiste globo. A realidade se mostrou assustadora, o pessoal ficou com medo do que tava acontecendo. O MPL até anunciou que não organizaria mais atos... Mas todo mundo sabe disso. Por que é importante falar nisso agora? Pra ser sincero, não é. O movimento atingiu o objetivo dos atos, a revogação do aumento, mas continua com sua pauta do passe livre. A experiência foi ótima para a população, para os líderes de movimentos estudantis e para o próprio MPL, mas isso todo mundo tá sabendo também. A questão é que ficou explícito que o movimento de esquerda não dialoga com a população. A população que não sabe qual a diferença de esquerda e direita, que não sabe nem mesmo em que posição do espectro ideológico se encontram (apesar de, inevitavelmente, ser de esquerda ou de direita), a galera que não tem ideia do que planeja o movimento. O movimento não só não dialoga, como, pior, não sabe o que pensa o pessoal de fora (aqueles que não são propriamente ativistas de direita, os inimigos declarados. Como se conversa com alguém que se diz apolítico, afinal?). É muito claro o que pensa a direita, a mídia manipuladora, e também as próprias ideias de esquerda, mas a população, massa amorfa e inconsciente que se encontra entre um polo e outro da linha ideológica, é uma incógnita. No grande ato pós ataque de pelanca da PM, uma parte desse pessoal foi às ruas. E nós vimos o quanto isso gerou dúvidas e confusões. É exatamente o que acontece nos comentários. Essa galera que sente um desejo íntimo de falar merda na notícia sobre a Dilma, sobre o mensalão, sobre o STF, sobre o propinoduto do tucanato, e assim vai, é representante de um segmento da população difícil de se alcançar. É esse pessoal, provavelmente de classe média, que se dá ao trabalho de ter uma opinião que considera apolítica. É esse pessoal que a esquerda (e eu aqui, quando digo que só falam merda) não ouve e considera somente do ponto de vista ignorância. Não quero dizer que não sejam ignorantes (até por que pensar nisso seria complicado), mas que merece atenção entender qual é o discurso que esse pessoal, que não se sente representado por nada, possui. Como funciona? Como pensa alguém que é à favor da redução do aumento e contra a redução da maioridade penal (não que tenha uma relação direta entre os dois exemplos, mas esse não é o padrão direita x esquerda)? É uma galera que sintetiza ideias anti-governo, anti-direita, anti-esquerda, anti-política, anti-capitalista, anti-empresarial, anti-greve, anti-tudo. E esse indivíduo está nos comentários. E estava nas manifestações. E quem trabalha e almoça com o pessoal da firma, ou vai nos jantares de família de classe média baixa/média, ou para pra conversar com a pessoa sentada ao lado no ônibus, vai conseguir notar esse mesmo movimento. Todas as alternativas são ruins, tudo está errado, o que sempre acontece é que todo mundo continua se fodendo. Afinal, que bom que a passagem tá só R$ 3,00 e hoje, dia de chuva, aqueles que São Paulo esqueceu de levar em consideração enquanto projeto, você só tem que enfrentar filas quilométricas pra entrar na linha 3 vermelha com velocidade reduzida ou pegar um trânsito infernal até o trabalho. Ler os comentários é uma atitude política. Falar com as pessoas que pegam ônibus todo dia pra entender sua visão de mundo e como votam também é. Além disso, é essencial se aproximar da galera querendo entender, não cooptar. Assim, talvez, a gente consiga mostrar por que lutar é a única alternativa possível.
Posted on: Wed, 02 Oct 2013 21:09:53 +0000

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