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Por que dízimo? Imprimir E-mail Data de publicação Acessos: 4694 .. A palavra dízimo, etimologicamente, significa dez por cento de um todo. Porém, seria uma palavra comum, um simples percentual, se não tivesse “toda uma ressonância bíblica e tradicional na consciência cristã”(Pastoral do Dízimo,p.51-CNBB). Dízimo é um tema instigante e inquietante. Alguns apaixonam-se por amar a Deus, à Igreja e aos irmãos através do dízimo. Outros, o negam por não percebê-lo presente no Novo Testamento. Não raras vezes, ouvimos dizer que os católicos não oferecem o dízimo, porque dão qualquer coisa. Também, já me foi pedido para que não falasse mais em dízimo. Por fim, foi- me sugerido que se trocasse a palavra dízimo, ou seja, que a palavra dízimo não fosse usada na Igreja. Mas, apesar de tudo isso, o dízimo se mantém firme, inabalável, querendo ser acolhido, amado e praticado como Palavra de Deus e único instrumento bíblico de sustentação de nossas paróquias. O termo dízimo surgiu na Bíblia com Abrão, e, antes de ser normatizado pela lei mosaica, era praticado espontaneamente, como sinal de louvor e gratidão ao Deus Altíssimo (Gn 14,18-20). No mesmo sentido é a manifestação de Jacó ( Gn28, 20). O questionamento de que o dízimo, com seu percentual numérico, é próprio do Antigo Testamento, e que, no Novo Testamento, valeria o que São Paulo nos propõe, é verdade, porém, não com o texto restrito (2Cor 9,7): “Dê cada um segundo o impulso de seu coração”, mas com o texto ampliado: “Saibam de uma coisa: quem semeia com mesquinhez, com mesquinhez há de colher; quem semeia com generosidade, com generosidade há de colher. Cada um dê conforme decidir em seu coração, sem pena ou constrangimento, porque Deus ama quem dá com alegria” (2Cor 9,6-7). Isso combinado com o Primeiro e o Segundo retratos da Comunidade de Atos, onde a vivência cristã era da partilha total: “Todos os que abraçaram a fé eram unidos e colocavam em comum todas as coisas; vendiam suas propriedades e seus bens e repartiam o dinheiro entre todos, conforme a necessidade de cada um” (At 2,44-45). “A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma. Ninguém considerava propriedade particular as coisas que possuía, mas tudo era posto em comum entre eles” (At 4,32). “Entre eles ninguém passava necessidade, pois aqueles que possuíam terras ou casas as vendiam, traziam o dinheiro e o colocavam aos pés dos Apóstolos; depois, ele era distribuído a cada um conforme a sua necessidade” (At 4, 34-35). Portanto, mesmo que o dízimo literalmente signifique 10%, esse percentual é um mínimo em relação à proposta apostólica. Não nos preocupemos com esse percentual. O Dízimo Cristão perdeu sua conotação numérica e mantém seu sentido religioso, numa caminhada de fé que expresse amor a Deus, à Igreja e aos irmãos. Lembremos, então, que o dízimo bíblico, antes de ser um percentual, fixado pela lei mosaica, era expressão de graça divina e manifestação espontânea de gratidão da criatura ao seu Criador. Ao oferecer o dízimo, Abrão praticou um ato religioso, demonstrando toda sua fé e gratidão ao Deus Altíssimo (Gn 14, 18-20). O dízimo, antes de ser um percentual, é manifestação de obediência à Palavra de Deus. Os dízimos pertencem a Deus, sendo coisa consagrada (Lv 27, 30.32). Se pertencem a Deus, não são nossos. Devemos devolvê-los. O dízimo, antes de ser um percentual, é parte da minha vida, é produto do meu trabalho que devo separar ( Dt 14,22) e levar ao Templo, “lugar que Javé escolheu para fazer habitar seu nome” ( Dt 12,11). O dízimo, antes de ser um percentual, é um ato de generosidade com o qual glorificamos o Senhor, dando, com alegria e de boa vontade, um dízimo justo e fiel (Eclo 35, 7-8). O dízimo, antes de ser um percentual, é um chamamento à conversão, na volta à observância da Lei do Senhor, corrigindo os enganos e livrando-nos do egoísmo e da infidelidade. (Ml 3,9). Por isso, Malaquias nos exorta: “façam a experiência comigo” (Ml3, 10ª). Deus sempre é fiel e nos cumula de bênçãos. A oferta do dízimo justo e fiel nos permite o reconhecimento das graças e das bênçãos recebidas e não percebidas: “Vocês hão de ver, então, se não abro as comportas do céu, se não derramo sobre vocês as minhas bênçãos de fartura” (Ml 3,10b). Pelo exposto, percebemos que dízimo é muito mais que um percentual. Ele, reitero, perdeu seu sentido literal/numérico da lei e retomou seu sentido religioso original. Mesmo sob a égide da lei mosaica, o dízimo tinha sentido religioso para os tementes a Deus (Tb 1,6-8). A Lei veio para favorecer a organização do povo e o dízimo veio para que o povo de Deus tivesse um sagrado instrumento de sustentação da comunidade. No Novo Testamento, também há referência textual ao dízimo. Jesus Cristo não veio abolir a Lei, e, sim, aperfeiçoá-la (Mt 7,17), ensinando-nos que o dízimo deve ser precedido por uma vida de justiça, de misericórdia e de fidelidade que se resume no mandamento do amor. Dízimo é um ato de amor, é a medida do amor, da justiça e da gratidão para com Deus. O Padre Cristovam Lubel, em seu livro O Dízimo e as Ofertas, observa: “Jesus não condena a prática do dízimo. Ele o usa para ressaltar o valor prioritário da Justiça. Quanto ao dízimo Ele até o recomenda ao dizer que ‘isto é que deveríeis praticar (a justiça, a misericórdia e a fidelidade) sem contudo deixar aquilo’ (o dízimo) (Mt 23,23b)”. Padre Dejoce Vanderley Adorno afirma: “Se por um lado, convém reforçar que estamos desobrigados de contribuir com Dízimo por Lei ou até mesmo por coerção psicológica, por outro lado temos o dever da contribuição pela Graça, pelo amor”. (Dízimo e Oferta na História da Salvação p.47) “Jesus não se comportou como anti-dizimista, nem se opôs à lei mosaica. Pelo seu parecer, nota-se ainda que sua posição era favorável ao Dízimo, todavia condena e corrige a hipocrisia, ou seja, os excessos e formalidades religiosas exteriores dos fariseus” (p.49) E, mais adiante, o Pe. Dejoce sintetiza: “na nova interpretação que o Mestre deu à Lei mosaica no tocante ao Dízimo, os filhos do Reino estão isentos. Isentos, é claro, quanto ao Dízimo sob as prescrições escrupulosas da Lei antiga (como taxas fixas, impostos e obrigações, no sentido aritmético e matemático: 10% dos rendimentos) (p.59) Assim, Jesus Cristo nos legou, não um dízimo percentual, numérico, mas um dízimo de amor total. Por sua vida, paixão, morte e ressurreição Cristo nos trouxe a salvação e resgatou-nos o verdadeiro sentido do dízimo como expressão de amor a Deus, como sinal de partilha comunitária e de solidariedade com os irmãos. As comunidades apostólicas eram perseverantes na oração, perseverantes na escuta dos apóstolos, perseverantes no partir o pão e perseverantes na partilha de bens, colocando tudo em comum (At 2,42). Assim, chegamos ao DÍZIMO CRISTÃO como expressão de amor a Deus, à Igreja e aos irmãos. Isso será possível se houver acolhimento da Palavra de Deus e conversão do coração, conforme a exortação de São Paulo, referida anteriormente. Não há dúvida que ser dizimista é graça divina, é uma caminhada de fé. Dízimo e fé crescem e caminham juntos. Por isso, todos devem ser dizimistas. É um compromisso de batismo que deve ser resgatado. Ninguém está dispensado do dízimo comunitário. Também o pobre, na sua condição, tem o direito de ser um dizimista justo e fiel. Não deve ser excluído. O melhor dízimo não é o maior em quantidade, e sim, aquele que é ofertado com alegria e de um coração agradecido. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil destaca: “O sistema de dízimo parece pastoralmente rico, portanto, enquanto sistema de contribuição sistemática (mensal), de compromisso moral com a comunidade (não jurídico, e fixado de acordo com a consciência formada de cada um (sem índice aritmético) Tirar-se-ia assim da palavra dízimo suas conotações matemáticas e históricas, conservando, prevalentemente, seu sentido religioso. Sob esse aspecto não nos parece útil e aconselhável substituí-la por outra palavra. “A palavra dízimo tem toda uma ressonância bíblica e tradicional na consciência cristã, que pode e deve ser valorizada dentro de um novo contexto e sentido histórico.” (Pastoral do Dízimo, estudos da CNBB – 8, 6ª Ed, p.51) Nesse sentido, também o Pe. Cristovam Lubel se manifesta: “Creio que, se ainda houvesse alguma dúvida, teria sido dissolvida com esse texto da CNBB. A Igreja no Brasil mantém o termo dízimo mas não impõe os 10% como obrigação. Aliás, não impõe nenhuma porcentagem, deixando a cada um a decisão de oferecer segundo o seu coração, embora sugira os 10% como um referencial... ao mesmo tempo o aponta como uma meta a ser atingida e até mesmo ultrapassada” (O Dízimo e as Ofertas, p. 121 e 122) Nos dias de hoje, convém questionamos se, para sustentarmos as nossas paróquias, acolhemos a Palavra de Deus, optando pelo dízimo, ou continuamos a acolher a palavra dos homens, “recorrendo a formas de arrecadação que não são coerentes com o evangelho”(Frei Michels) Não há nenhuma dúvida. É com o dízimo, Palavra de Deus, que devemos sustentar as nossas comunidades em todas as suas dimensões. “A Igreja cresce em qualidade quando cresce a comunhão e a participação mediante o dízimo”. ”(Frei Michels) Por que, então, continuamos a acolher a palavra dos homens, buscando o lucro em nossas festas excludentes (os fiéis “sem cartão”) e promoções viciantes (bingos e bebida alcoólica) A Igreja é sacramento de Cristo (LG, 1), é Comunidade sagrada, povo santo de Deus (LG, 12) Não temos nenhum outro instrumento sagrado de sustentação que não seja o dízimo. “Dízimo pertence a Deus. É coisa consagrada” (Lv 27,30). E nós devemos devolvê-lo a Deus, entregando-o à Igreja, a serviço da Comunidade de Fé. Assim, com fé e humildade, peçamos perdão a Deus pelas nossas incoerências pastorais e promoções paroquiais inadequadas, pedindo ao Espírito Santo que nos dê o discernimento evangélico, a força e a coragem para mudar o que for necessário. É o que nos propõem as Diretrizes Diocesanas de Novo Hamburgo: “Devemos buscar a renovação de nossas comunidades através da conversão pastoral pela auto-avaliação e coragem de mudar (DGAE, 46), reconhecer as faltas e os erros pastorais na condução de nossas comunidades. Com o tempo, deveremos abandonar os vigentes métodos de “promoções” paroquiais, fazendo a opção pelo dízimo como instrumento bíblico de sustentação, acolhendo, sem restrições, a Palavra de Deus” (Diretrizes Diocesanas, p.22) Paz e Bem! Rinaldo Alberton Coordenador Diocesano de Pastoral do Dízimo
Posted on: Wed, 20 Nov 2013 20:23:09 +0000

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