Por que um Cirurgião-Dentista na Equipe Mínima de Saúde da - TopicsExpress



          

Por que um Cirurgião-Dentista na Equipe Mínima de Saúde da Família? Prezados colegas Cirurgiões-Dentistas, O momento atual revela grandes conflitos e dilemas na atenção à saúde do povo brasileiro. O Programa Mais Médicos tem o objetivo de levar assistência às regiões mais necessitadas do nosso país. Este programa do Governo Federal tem tido apoio progressivo de instituições de ensino e pesquisa no Brasil. O debate deste Programa, trazido pela mídia, tem versado sobre ganância, racismo, preconceitos, elitismo e racismo dos profissionais médicos.. Entretanto, o cerne da questão tem sido deixado em segundo plano, diante do debate caloroso que se estabelece na mídia. Essa falta de foco no objeto central do debate é tamanha que nos questionamos até que ponto a inocência se faz presente ou se existe um direcionamento nos discursos para a tomada de decisões sobre o tema. Gostaria de chamar atenção que o debate é necessário para viabilizarmos a criação de carreira de Estado para os profissionais da saúde, especialmente os da atenção básica que são mais vulneráveis no que diz respeito à precarização do seu trabalho. Muitos profissionais da atenção básica têm contrato temporário, sem direitos trabalhistas. Dessa forma, nesse debate falta discutir: carreira de Estado, remuneração dos profissionais, condições dignas de trabalho e a contratação de profissionais da medicina sem obrigatoriedade da revalidação do diploma de médico. Especificamente com relação à Odontologia, gostaríamos de construir um debate saudável na luta pela valorização da nossa atuação em todos os níveis de atenção. O debate deve focalizar a atenção primária, pois a população precisa dessa assistência para prevenir e corrigir agravos que, quando não são sanados na atenção básica, podem comprometer gravemente outros níveis da atenção à saúde. A atenção básica à saúde indubitavelmente será fortalecida com a inclusão do Cirurgião-Dentista como integrante da equipe mínima da ESF. Para fomentar o debate, coloco dois exemplos da minha prática clínica: um deles abrange o tratamento de pacientes com doença hepática crônica onde, em caso de transplante hepático, o mesmo pode ser impedido ou dificultado por muitas doenças relativas à saúde bucal. A depender da gravidade da doença, o indivíduo pode ser inativado na lista de espera de transplante. Dentre estas doenças, destacam-se a periodontite e as cáries com comprometimento pulpar que podem evoluir para infecções intraósseas e abscesso. O tratamento dos processos infecciosos bucais de pacientes nesse estágio da doença hepática crônica implica, frequentemente, no aumento de custo ao SUS. Geralmente, é necessário internamento hospitalar, uso de hemoderivados e anestesia geral. Estes procedimentos se justificam pela deficiência dos fatores de coagulação produzidos pelo fígado e pela plaquetopenia, podendo, mesmo em pequenas cirurgias, ocorrer sangramento abundante com risco de evolução para óbito pelas complicações da doença de base. Sendo assim, medidas preventivas de promoção da saúde bucal, diagnóstico precoce, tratamento de cáries e gengivites, nestes pacientes, podem impedir a progressão da DHC e reduzir consideravelmente o número de internamentos hospitalares para tratamento desses processos infecciosos bucais. O outro exemplo refere-se aos doentes cardiopatas do Programa de Atenção à Saúde Bucal de Gestantes, Idosos e Pacientes Especiais da Faculdade de Odontologia da UFBA, onde 49% possuem doença periodontal avançada e índice CPO-D de 17,31. Desses pacientes, 51% apresentam hipertensão arterial e 23,5%, diabetes. Neste Programa, também temos atendido a portadores de doença renal crônica e a pacientes em tratamento oncológico, dentre os quais muitos não tiveram acesso a um Cirurgião-Dentista para realização de diagnóstico precoce do Câncer bucal. Temos que privilegiar a atenção básica e a prevenção. Necessitamos atuar na base da pirâmide. Um levantamento publicado na Revista Bahiana de Saúde Pública pela Profa Sônia Chaves, utilizando dados secundários do Datasus, evidenciou a distribuição desigual dos recursos humanos do SUS nas Macrorregiões baianas e que a cobertura da primeira consulta odontológica é baixa em todo estado, variando de 0,4% em Salvador a 2,0% na Macrorregião Centro-Norte, independente da cobertura das Estratégias de Saúde da Família. O artigo identifica que o panorama da odontologia pública na Bahia está inserido em um processo de burocracia estatal, associada ao predomínio da prática odontológica liberal. Esses achados sinalizam a importância de formar recursos humanos e a necessidade de fortalecimento do movimento da saúde bucal coletiva e melhor gestão dos serviços públicos em Odontologia. Temos grandes desafios na Odontologia. Alguns desses incluem, luta por salários dignos e equivalentes aos profissionais da Medicina e luta pela Carreira de Estado para todas as áreas da saúde. Não podemos pensar apenas na nossa classe de forma isolada, mas assumir a postura de que somos parte da equipe multiprofissional que deve ser valorizada de forma geral. Temos também o desafio na formação generalista e humanizada dos futuros Cirurgiões-Dentistas que precisam atuar como parte integrada à equipe de ESF. Reafirmamos nossa posição em relação a manifesto recente do CRO-BA, solicitando a Revisão da Portaria do Ministério da Saúde No. 2.488/2011. Reza esta Portaria que a Equipe Mínima da ESF deve ser composta por Médicos, Enfermeiros, Auxiliar e Técnicos de Enfermagem e Agente Comunitário. A inclusão de Cirurgião-Dentista na equipe multiprofissional fica dependente de decisão do Gestor Municipal. Isso termina afastando a participação do Cirurgião-Dentista da Atenção Básica à Saúde da População. Esta é a minha opinião. Liliane Elze Falcão Lins Kusterer Presidente da Comissão de Políticas Públicas do CRO-BA
Posted on: Mon, 09 Sep 2013 03:01:51 +0000

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