Prezados, Transcrevo aqui os depoimentos da colega Natália - TopicsExpress



          

Prezados, Transcrevo aqui os depoimentos da colega Natália (SEPE), em nome dos professores e demais profissionais de Educação que estão envolvidos com os importantes debates travados com a Secretaria Municipal de Educação, a irresponsável imprensa do jornal carioca EXTRA e os governos municipal e estadual do Rio de Janeiro. Leiam a íntegra. *********** Prezados jornalistas da Bandnews FM. Diante da repercussão dada à causa dos professores, após o processo de mobilização sem precedentes em que estamos e CONTINUAREMOS envolvidos, reencaminho email enviado a esta redação há dois anos, em que já eram denunciados alguns dos inúmeros problemas enfrentados pela comunidade escolar do município do Rio de Janeiro durante a gestão do prefeito Eduardo Paes. Aproveito para esclarecer algumas das dúvidas que possam surgir entre os jornalistas a respeito das insatisfações e demandas do conjunto de professores da cidade. 1- Os professores NÃO criticam o sistema meritocrático apenas porque ele os obriga a aprovar alunos desqualificados "em troca" dos bônus e similares oferecidos pelo governo. Esse sistema é criticado porque a lógica de uma escola é diferente da lógica de uma empresa. Alunos não são parafusos, não são objetos a partir dos quais é possível pré-determinar um aumento nos percentuais de produção de aprendizado, de aprovação. Não há sentido em "obrigar" o professor a atingir metas pré-estabelecidas por pessoas de fora da escola, que não vivem a realidade escolar, não tem conhecimento pedagógico e não conhecem os alunos. Há alunos com lacunas muito profundas, com dificuldades de raciocínio e de abstração, vocabulário insuficiente, problemas na escrita, falhas conceituais, para citar só os problemas mais comuns da minha disciplina, História. Para resolver esses problemas, os professores precisam de autonomia para analisá-los caso a caso e elaborar estratégias individuais, de longa duração. Não se corrigem problemas como esses em dias, ou meses. Não há percentual de curto prazo que dê conta de traduzir para índices matemáticos os avanços conseguidos com esses alunos dia a dia. Esse resultado aparecerá no médio ou longo prazo. Desse modo, o professor que REALMENTE está engajado na recuperação desse alunos (esses são a maioria no nosso município) não pode ser pressionado a apresentar melhoras do dia para a noite. Não é assim que funciona a educação. Não somos trabalhadores fabris, para aumentarmos a produção de alunos aprovados. O nosso trabalho é processual, é individual, é contínuo. É assim que acontece nas escolas da elite que o prefeito diz poder pagar para seus filhos. Felizmente, nessas escolas, seus filhos não serão tratados apenas como peças de uma engrenagem que precisa parecer que funciona para que o prefeito possa garantir seus dividendos políticos e eleitorais. Além disso, o SEPE foi duramente criticado por alguém que, apesar de comandar a cidade, deu mostras constantes de que não conhece a sua realidade escolar. Não sabe dos absurdos, das precariedades, dos professores em desvio ilegal de função (algo que eu havia denunciado a vocês há dois anos, e que não é apenas um caso isolado, mas parte da política educacional do município). Ele não sabe de nada, mas se sente no direito de julgar se o SEPE é ou não é o representante legítimo de nossa classe. Pois nós, professores, respondemos: o SEPE nos representa, nós decretamos greve coletivamente, em assembleia convocada pelo sindicato, da qual participaram 1.500 professores. Nossas garantias democráticas nos permitem a organização sindical. São os professores que devem dizer quê entidade os representa, isso não pode ser determinado pelo prefeito. No entanto, o Sr. Paes parece pouco familiarizado com o jogo democrático, pois diz ter encerrado a negociação com um sindicato cuja maioria dos integrantes milita em partidos de oposição. Mas não é assim que funcionam as democracias, a partir de acordos e negociações entre representantes das mais variadas correntes político-ideológicas? Eis aí mais uma evidência da postura autoritária do nosso prefeito: diante de uma categoria que lhe faz, majoritariamente, oposição, ele fecha unilateralmente os canais de negociação e impõe aos professores apenas o que lhe interessa. Não aceitaremos e não recuaremos em nossa luta, que é uma luta pelo Brasil. Por favor, leiam o relato feito por mim há dois anos a respeito da situação da educação no município. Ele os auxiliará a compreender melhor as razões da greve dos professores. Att, Natália ***************** Olá aos jornalistas e reporteres da Band News FM, Me chamo Natália Peixoto Bravo de Souza, e sou professora de História da Rede Municipal do Rio de Janeiro e do Colégio Pedro II. Escrevo como ouvinte, que reconhece na Band News uma das poucas emissoras realmente preocupadas em discutir e divulgar os problemas relativos à educação no nosso país. Escrevo também como amiga. Na infância e adolescência, estudei com Rodolfo Schneider, com quem não tenho mais contato, mas de quem ainda me lembro com muito carinho. Eu e Rodolfo Schneider tivemos a sorte e a oportunidade de estudar em uma escola de qualidade, e certamente devemos parte do nosso sucesso profissional a isso. Acho, então, que nesse ponto, concordaremos os dois: a educação é fundamental na vida do cidadão, como promotora de igualdade de oportunidades, formadora de cidadãos críticos, de mão de obra qualificada para o país, entre outros motivos. No entanto, o que tem acontecido no Município do RJ é um atentado aos direitos dos professores/alunos/comunidade escolar e à própria lei. Consequentemente, a educação de qualidade, que todos queremos, está longe de ser oferecida no nosso município. Desde que assumiu a Secretaria de Educação, a Secretária Claudia Costin vem tomando medidas autoritárias, sem consultar a comunidade escolar, que atentam contra a autonomia do professor, contra a qualidade do ensino oferecido e contra a lei! Em sua gestão, os professores recebem apostilas, aulas prontas (extremamente superficiais, e frequentemente com erros grosseiros), provas prontas. Tudo vem da Secretaria de Educação. Os professores viraram meros executores de projetos pré fabricados. Meros apertadores de botões. Perderam todo o controle sobre o processo de produção das aulas. Essa iniciativa torna a educação superficial, repetiviva, acrítica. Em uma palavra: emburrecedora. Mas isso está longe de ser o pior. Além de desrespeitar os profissionais de educação do município, a Sra Cláudia Costin desrespeita a lei. Há 3 anos, está em vigor uma lei federal, de número 11.738 e de autoria do senador Cristovam Buarque, que determina a reserva de 1/3 da carga horária do professor para planejamento. Como todos sabem, o trabalho do professor é muito mais extenso do que aquele em sala de aula: professores preparam aulas, corrigem trabalhos, elaboram testes e provas, corrigem essas mesmas provas...Desse modo, é mais do que justo que ele seja remunerado por esse trabalho realizado fora de sala. No entanto, a prefeitura do RJ não respeita a lei federal, e os professores concursados para o cargo de 16 h trabalham 12 tempos em sala de aula. Se vocês fizerem as contas, irão perceber que o tempo reservado pela Prefeitura do Rj para planejamento é inferior ao previsto em lei. Essa é uma luta dos professores que não é divulgada pela mídia. E por incrível que pareça os absurdos não param por aí. A novidade da Sra secretária é a criação do Ginásio Carioca, uma suposta escola de excelência, na qual os alunos estudarão em tempo integral, todos os dias. Nessas escolas, os professores darão aulas de TODAS as matérias, sem ter habilitação para isso. Ou seja: você tem licenciatura em Português, mas vai dar aula de Português, Matemática, Ciências, História, Geografia. Eu te pergunto: Como??? Os professores receberão capacitação de 2 SEMANAS para fazê-lo. Você acha possível substituir uma graduação de 4 anos por 2 semanas de capacitação??? Além disso, como é possível a secretária determinar que os professores podem dar aulas de disciplimas para as quais os professores não têm autorização do MEC para ministrarem? Como se sabe, o MEC só autoriza a ministração de aulas de disciplinas nas quais os professores têm licenciatura. Sendo assim, a Prefeitura do RJ está, mais uma vez, descumprindo uma lei federal. Está passando por cima dessas leis. E essa medida tem outras consequencias bastante graves: o número de turmas será drasticamente reduzido, assim como o número de professores nessas escolas. Isso quer dizer que professores vão, de uma hora para a outra, perder o seu lugar na escola depois de anos e anos trabalhando no mesmo lugar. Alunos também serão obrigados a deixar a escola por conta dessa medida. O que dizer para os pais dos alunos? Que seus filhos não podem mais estudar na escola onde sempre estudaram, porque um novo projeto experimental está sendo implantado, sem que ao menos eles tivessem sido consultados a esse respeito? O pior de tudo é que nada disso foi decidido em conjunto com professores, alunos e pais. As coisas são decididas, implantadas e os funcionários que as cumpram. Nada parecido com o que se conhece como uma democracia. Por favor, divulguem esses absurdos, e nos ajudem a tentar salvar a educação do Rio de Janeiro. Obrigada, Natália.
Posted on: Sat, 17 Aug 2013 15:26:17 +0000

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