Primeiro que fosse contra a nação. Era contra a nação. A - TopicsExpress



          

Primeiro que fosse contra a nação. Era contra a nação. A nação como conceito, categoria, identidade, construção, narrativa. Depois pensei. Mais do que ser contra, ao transitar sobretudo pelo cinema contemporâneo, começando aqui com Felizes Juntos de Wong Kar Wai, o que me interessava era pensar aquém e além da nação. Aquém ao ver as conexões mais inesperadas até nos locais mais aparentemente distantes de todos os centros. Continuava na cabeça uma frase ouvida de Eneida de Souza. O terceiro mundo não é aqui. Desejo cosmopolita de estar no mundo sem deixar de estar no local. Mas o que seria então este lugar físico, afetivo, material de que se fala, de que falo? Estas são algumas possibilidades. Acabou não virando panfleto. Tanto melhor. Procurei, a partir da noção de paisagem transcultural, não perder a dimensão política marcada por novos sujeitos sociais e o desejo comparativista presente na formulação do entre-lugar, no início dos anos de 1970, por Silviano Santiago. Também devo à noção de interculturalidade (Nestor Garcia Canclini) a importância cada vez maior dos trânsitos não só geográficos (migrações, diásporas), mas a viagens feitas através dos meios de comunicação de massa, recolocadas na moldura da globalização após a queda do Muro de Berlim, por Arjun Appadurai. Diferente deste, contudo, incorporei à noção de paisagem transcultural toda a tradição que vem da história da arte sobre a paisagem para pensarmos as paisagens não só como “comunidades de solidariedade transnacional” (Appadurai), mas também como espaços estéticos a serem contemplados. A partir dessa perspectiva, creio que a paisagem transcultural pode ser uma alternativa que dialoga com outras possibilidades nos estudos de cinema, mas que tem um caminho próprio, como a crítica do eurocentrismo, formulando um multiculturalismo crítico (Robert Stam e Ella Shohat); na busca de um cinema com sotaque (Hamid Naficy) feito por artistas que transitam entre culturas, redimensionando as formas de produção e recepção; na identificação de uma memória sensória nos corpos que transitam (Laura Marks); e, por fim, nas experiências que redimensionam novos territórios a partir de novas fronteiras (Andrea França).
Posted on: Thu, 07 Nov 2013 09:14:56 +0000

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