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Processo de Criação Este livro que se origina no Seminário Arte & Pensamento — a Reinvenção do Nordeste promovido pelo Departamento Regional do Sesc Ceará, tem por objetivo problematizar as produções artísticas e culturais do Nordeste nos dias de hoje. Claro está que não se partirá de um vetor identitário e regionalista desde o qual apenas se nos habilitasse o engenho de cunho realista, qual seja, o escrutínio do grau zero, ponto de origem antiquíssimo, lá onde devesse primar a razão original e primeira no esclarecimento contínuo daquele que se expressa, o Nordeste, o nordestino. Nosso intento é vário, é outro. Buscar as condições históricas nas quais se forjou aquilo a que se costuma chamar de Nordeste, o nordestino, esta vontade de fixar-se por meio de demarcações regionais. E, além disso, na direção mesma desta pesquisa genealógica das condições de possibilidade históricas, tratamos de pensar a heterotopia, este outro do lugar de origem, emergência sempre baixa, fluida, precária, inscrita no inventário de miríades de acontecimentos sempre móveis, e fragilíssimos, e recorrentes. Partimos das artes — um dos motes de investimento contínuo das ações Sesc. O cinema, a música, a literatura, a poesia, as intervenções urbanas, a arte/mídia. Assunção contumaz da multiplicidade do que se vem produzindo desde o Nordeste, e toda ênfase aqui recai sobre o ‘desde’ como quem indica no suposto lugar de origem ele mesmo um vetor à diferenciação como modo preciso do pensamento, qual seja, como processo de constituição de si — coletivo e singular. Arriscaríamos dizer que, desta forma, talvez o Nordeste, o nordestino não (nos) seja o instante primeiro do processo de produção, mas o lugar de ancoragem, território pousada em que se reinvestem as forças do processo criativo — sempre este voltado para fora, como que num flerte renovado com os devires-mundo. Os textos, dispostos em ordem alfabética pelo nome de autor, se dispõe de modo vário sobre o temário das artes. Do cinema — na investigação sobre as formas do pensar o Nordeste, os seus modos, e André Queiroz busca um vetor de avaliação que se divide em duas metades: o cinema edificante, de Walter Salles, que trabalha a partir de imagens-clichês acerca do Nordeste e dos nordestinos — o que, antes, os paralisa no corpo mesmo dessas imagens, e o cinema desde a ruína, de Cláudio Assis, que se nos fala do Nordeste nos fala de uma cidade qualquer no mundo, uma cidade entre outras, uma cidade como muitas — forma de lançar para fora aquilo que supostamente lhe seria próprio. Daniel Lins nos convoca à crítica das leituras estratificadas acerca de Lampião: leituras do positivismo oficial e do legendário romântico. Trata-se antes do desejo de reparação, forma de reabilitação da memória no elogio do personagem, elogio este o de uma antiutopia, ou pelos modos de um niilismo positivo acabar por promover uma rebelião dos sentidos. Durval Muniz de Albuquerque Júnior escreve sobre o fenômeno musical da hora, qual seja, as bandas de forró eletrônico, e Durval salienta que se trata da formação — via processo de massificação e homogeneização — de regimes de escuta e de modos de subjetivação característicos do que se costuma chamar de pós-modernidade. Jorge Vasconcellos busca analisar filosoficamente as relações entre arte e pensamento na cultura musical contemporânea nordestina, e para tal, parte da junção filiatória Movimento Mangue (Manguebeat) com a antropologia de Oswald de Andrade. Luiz Manoel Lopes tece pontos à releitura dos Sertões de Euclides da Cunha a partir da geofilosofia de Deleuze-Guattari na direção do que seria o ser nordestino inscrito num pensamento da terra, do povo por vir, do êxodo — a inventividade dos que habitam os sertões se dá em meio às variações de intensidade que caracterizam esta região. Luizan Pinheiro se debruçou sobre a cidade, uma cidade, qualquer cidade como que à caça de um campo de experimentação no encontro de sua dimensão ontológica, e então, o encontro com o Cariri tecido pelas matérias-gentes-acontecimentos a conferir a força de que pode o olhar daquele que escreve e experimenta. Márcia Tiburi sugere a desinvenção da mulher do Nordeste aos moldes do que faz Michel Foucault nas suas pesquisas genealógicas. E isto porque se trata de pensar modos outros do ser uma vez a violência pensada de forma ontológica, e também numa sua perspectiva biopolítica, por exemplo, a violência como política patriarcal. Ney Ferraz Paiva nos apresenta a um João Cabral de Melo Neto canhoto, disposto ao erro e ao risco, e avesso às concessões na recusa ao senso poético modernista, ou à estocagem das imagens dos concretistas. Trata-se no invento de sua poesia de um Nordeste estrangeiro — combate contínuo da máquina arcaica que opera sobre e nas visões do Nordeste — , um Nordeste como um desterritório, um labirinto de possibilidades e sensibilidades. E por fim, Nina Velasco e Cruz nos apresenta a obra de Paulo Bruscky desde a pergunta capciosa sobre se ele seria ou não um artista nordestino — pergunta que, antes de ser uma pergunta, acaba por se mostrar uma estratégia de leitura das formas diversas do pensar e do fazer da arte no contemporâneo. Importante ressaltar o apoio irrestrito do Sesc Regional do Ceará no planejamento, produção, execução das duas etapas, que ora encerramos: Seminário e Livro. Forma perspicaz de compreender que para além do fazer e dos auxílios necessários ao tanto que é o fazer, trata-se de viabilizar as formas de ingresso e de participação as mais diversas, e ainda, para além disso, numa visada prospectiva se trata de apostar na reverberação do que se experimentou junto — aos modos do comunal intensíssimo. Por isso, e pelo tanto que é isso, o nosso agradecimento. andré queiroz
Posted on: Tue, 03 Dec 2013 11:38:14 +0000

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