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Publico aqui, o brilhante artigo de Eulália Jordá-Poblet sobre a utilização de animais em pesquisas e que saiu no O TEMPO de ontem, sábado, dia 30 de Novembro de 2013: PESQUISA CIENTÍFICA EM ANIMAIS NÃO É NAD AMAIS DO QUE TORTURA Hoje, opositores têm um instrumento poderoso, a comunicação. Eulália Jordá-Poblet – médica e ambientalista Animais com olhos arrancados, pálpebras suturadas, privados de água, de alimentos, de espaço. Animais expostos a gases venenosos, queimados com ferros semelhantes aos de passar roupa. Animais com a “coroa de Cristo” perfurando suas calotas cranianas. Animais propositadamente inoculados com todo o tipo de patógenos. O arsenal dos pesquisadores de universidades públicas, laboratórios comerciais e escolas privadas é infinito e seu cardápio de torturas seria capaz de dar inveja ao falecido agente da CIA Dan Mitrione. Mitrione andou por Belo Horizonte, trazido por um convênio com a ditadura militar, e aqui ministrou um curso de “técnicas de interrogatório”, no qual experimentou seus conhecimentos do método científico diante de seus alunos (sim, jovens alunos, sim, da nossa escola militar), sem nenhum pudor. Nas classes, chegou a utilizar prisioneiros políticos, demonstrando “ao vivo” os pontos mais vulneráveis de seus corpos através de técnicas desenvolvidas para provocar a confissão, extrair delações ou meramente punir suas vítimas. A partir dessas aulas, esperava-se que os alunos estivessem aptos a torturas sem dilemas. Por essa época, havia médicos (sim, médicos diplomados, que estudaram em escolas de medicina mineiras) que exerciam seu ofício no sentido de farejar o limite da tortura a partir do qual o risco de morte seria iminente e, quando chegasse esse ponto, suspendê-la. É claro que, mesmo com essa “cuidadosa” observação, os torturadores ultrapassavam muitas vezes esse frágil umbral, matando as pessoas nos porões da ditadura. E porque escrevo isso quando desejo referir-me às experimentações em animais realizadas nas universidades públicas e privadas? Porque esses episódios são muito semelhantes às práticas atuais que vitimizam os animais em nome de uma religião chamada ciência. Porque trata-se de tortura o que ocorre com os animais. Porque a sociedade encontra-se diante do dilema em admitir ou não a tortura nos quadros científicos, nas pós-graduações, nos doutorados. Porque a discussão que se afasta desse foco é deturpada em considerações de teor menor, desdobra-se em sofismas e descamba, a maioria das vezes para o cinismo. A grande questão é: a tortura, seu ensino e sua aplicação em trabalhos acadêmicos são admissíveis dentro dos processos do método científico ou não? É possível ensinar ética sem ética? É preciso entender que há uma ética anterior às pesquisas que está sendo sonegada por uma espécie de cegueira moral diante de um círculo vicioso de rotinas caducas de investigação, ampliação de biotérios e morosidade em enveredar por outros caminhos não danosos. Os pesquisadores transformaram os animais em objetos burocráticos e os reduziram a meras quantidades, cancelando as demandas morais em seu entorno ao denominá-los, maliciosamente, de “cobaias”. Com o acirramento do pensamento filosófico em torno da questão da senciência – ou seja, a evidência de que o animal sente desejos, dor, frio e prazer como nós- e de que deveria possuir pelo menos o direito de não ser torturado, o movimento pela defesa dos direitos dos animais vem superando aquela primeira fase que ocorre com todos os movimentos libertários, que é o de ser ridicularizado, para penetrar em sua segunda fase. Nesta, começa uma séria colisão contra os interesses econômicos arraigados e contra estruturas psíquicas de professores e pesquisadores, construídas em muitas décadas de banalização do sofrimento animal, quando a oposição ainda não tinha instrumentos poderosos e rápidos como a comunicação social para atuar, nem teóricos em quem se apoiar.
Posted on: Sun, 01 Dec 2013 21:31:33 +0000

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