QUANDO O PENSAMENTO CESSA: "Os ensinamentos são importantes por - TopicsExpress



          

QUANDO O PENSAMENTO CESSA: "Os ensinamentos são importantes por si mesmos e intérpretes ou comentadores apenas os distorcem, sendo aconselhável ir diretamente à fonte, os próprios ensinamentos, e não valer-se de nenhuma autoridade” (Krishnamurti) Pergunta: Passei os dez melhores anos de minha vida na prisão, por causa de atividades políticas que me ofereciam grandes coisas. Agora, é a desilusão, e me sinto inteiramente consumido. O que devo fazer? Krishnamurti: Outros podem não passar dez anos na prisão, mas passam um ou dois anos no encalço de esperanças enganosas, dedicados a falsas atividades, fazendo alguma coisa a que se entregaram de corpo e alma, para, no fim, verem que é tudo em vão. Assim temos procedido, não é verdade? Segue um homem um determinado caminho, um determinado plano de ação, na esperança, de que ele produza grandes coisas, na esperança de que beneficie os entes humanos, liberte os entes humanos, nas esperança de que, no final, reinará a compaixão e o amor; e a isso ele dedica a sua vida. Entretanto, um belo dia, descobre que essa coisa é inteiramente vã, isto é, que a causa para a qual viveu não tem mais significação alguma; e o homem fica, emocionalmente, consumido. Não conhecem casos assim? Não são um desses casos? Não estão na mesma situação? Não passaram por essa experiência, não sabe, que estavam seguindo o caminho do Mestre, do iniciador, político ou religioso, que lhes prometia um ideal pela revolução — ideal a que dedicaram seu zelo e energia, dedicaram suas vidas e, no final de tudo, se veem desiludidos e consumidos, emocionalmente? Trabalham por uma causa e depois a abandonam. Mas logo vem outro indivíduo, tolo e ignorante, ocupar a vaga de vocês. Continua ele a obra, alimentando aquele jogo inútil. E, se se consome, abandona-o. Mas outro virá substituí-lo. E prossegue o movimento de estultice, em nome da religião, da política, de Deus, da paz — não importa como o chamem. Surge outro problema: Como evitar que os tolos venham empenhar-se na mesma batalha vã, sem utilidade, sem significação? As sociedades, as organizações são coisas vãs, principalmente as religiosas. Assim, que devem fazer, quando se veem consumidos? Perderam a elasticidade. Estão envelhecendo. Todas as cosias pelas quais lutaram não têm significação alguma. E, então, ou se tornam cínicos e amargurados, ou ficam como um inútil pedaço de carvão, jogado num canto, no isolamento. Isso é um fato evidente, não? Sabemos tudo isso, há centenas de exemplos; talvez sejam um deles. Que deve fazer uma pessoa que se acha nesse estado? Pode o que está morto ser ressuscitado? Pode o que é vão, que é falso, dar seu alento ao falso? Pode o que está morto voltar subitamente à vida, ver o que fez, dedicar-se ao real, e renovar-se? Tal é o problema, não é? Posso eu, que dediquei a maior parte da minha vida para uma coisa vazia de significação — significação profunda, eterna — posso eu, que perdi aquele estado, que me consumi inteiramente, encontrar de novo a vida, recuperar o meu zelo? Creio que sim. Se quando me vejo inteiramente consumido, se quando compreendo que lutei em vão, em vez de ficar amargurado, eu perceber o significado daquilo que fiz, perceber que andei no encalço de um ideal, e que o ideal sempre destrói — porque o ideal não tem significação alguma, o ideal é sempre autoprojeção, o ideal é adiamento, o ideal me impede de compreender o que é, impede-me de compreender o todo; se eu puder estar tranquilo, sem ser traído noutra direção; se reconhecer todo o processo daquilo que fiz e perceber o que foi que me levou a esperanças falsas e despertou em mim toda a sorte de ambições; se puder perceber esse fato, sem fazer nenhum movimento noutra direção, seja de justificação, seja de condenação; se puder permanecer com "ele", viver com "ele", tenho então a possibilidade de reviver, não é verdade? Porque a mente se dedicou a uma coisa da qual esperava resultados, utopias, maravilhas. Etc. Se a mente reconhece o que fez, há renovação, não acham? Se sei que fiz uma coisa má, uma coisa falsa, se estou cônscio disso, se o compreendo, então, certamente, essa própria compreensão é luz, é o novo. Mas a maioria de nós não têm paciência ou sabedoria, ou capacidade de reconhecer silenciosamente o que praticou, sem sentir amargura. Tudo o que sei é que gastei minha vida em vão, e agora aspiro a uma vida nova. Estou ansioso por agarrar a coisa nova. Se tenho essa ânsia de agarrar, então estou de novo perdido. Porque, então, aí está o guru, o guia político, a promessa de utopia, para novamente me arrastar. E assim vejo-me novamente envolvido no mesmo processo de antes. Mas reconhecer esse processo é ser paciente, é estar cônscio, é saber o que fiz, e não tentar mais nada. Isso exige muita sabedoria. É preciso muita afeição para saber que não vou mais participar de nenhuma dessas coisas. Não importa aonde eu seja levado, mas não quero mais fazer aquilo. Quando assim procedemos, quando nos achamos naquele estado, garanto-lhes que há então renovação, que há um novo começo. Mas preciso ter cuidado para que minha mente não crie uma nova ilusão, uma nova esperança. Jiddu Krishnamurti - 20 de janeiro de 1952 - QUANDO O PENSAMENTO CESSA. "Afirmo que a Verdade é uma terra sem caminho. O homem não pode atingi-la por intermédio de nenhuma organização, de nenhum credo (…) Tem de encontrá-la através do espelho do relacionamento, através da compreensão dos conteúdos da sua própria mente, através da observação."
Posted on: Fri, 16 Aug 2013 17:46:30 +0000

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