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Qual o papel do professor da escola inclusiva? Seria ele o principal responsável pela educação do aluno com necessidades especiais? Lucia Reily: O professor tem um papel essencial como mediador dos processos de ensino-aprendizagem. Na escola inclusiva, é ele que recebe o aluno com necessidades especiais na sala de aula. Sua atitude perante a deficiência é determinante para orientar como esse aluno, com as suas diferenças, vai ser visto pelos colegas. O professor também organiza o trabalho pedagógico e pensa estratégias para garantir que todos tenham possibilidade de participar e aprender. No entanto, ele não é o único responsável pela educação do aluno com necessidades especiais. A escola também responde pela inclusão, e cabe ao professor promover uma mediação entre família e escola, solicitando suporte e acompanhamento da escola durante o ano letivo. Assim, vemos que a mediação se dá em vários níveis: no trabalho pedagógico, nas relações na sala de aula, na escola e também nas relações com a família e a comunidade. Em sua obra, você afirma que os recursos pedagógicos são ilimitados. Mas como o professor de uma escola inclusiva reconhece os melhores recursos para impulsionar a aprendizagem de seu aluno? Lucia Reily: Entendo a atuação pedagógica como um processo de investigação e estudo, de solução de problemas. No contexto da sala de aula, às vezes o professor se defronta com limites. São limites das condições de trabalho, do conhecimento ou de sua própria formação ou necessidades educativas especiais do aluno. Não importa a origem do desafio, essa situação vai exigir do professor a busca de novas estratégias para resolver o problema. Quando digo que os recursos pedagógicos são ilimitados, quero dizer que as soluções podem vir de vários campos do conhecimento. O professor precisa identificar as possibilidades do aluno e o trajeto que ele percorre para se comunicar, para se apropriar do que está à sua volta, a fim de encontrar um caminho compatível com as possibilidades dele. Esse caminho geralmente não é o tradicional da aula expositiva, centrada na palavra oral ou escrita. É necessário recorrer a jogos, filmes, músicas, mapas, maquetes, desenhos, gráficos, livros de história, miniaturas e dramatizações como recursos alternativos possíveis. Como o professor da escola inclusiva deve utilizar os recursos da linguagem ao trabalhar o conteúdo escolar com crianças que apresentam diferentes dificuldades? Lucia Reily: O livro Escola inclusiva: Linguagem e mediação foi organizado pensando não em como atender as deficiências na escola inclusiva, mas sim nos recursos da linguagem, valorizando a linguagem verbal (a palavra) e as linguagens não-verbais (os sistemas visuais e pictóricos, a música, a linguagem do corpo). No caso de uma criança com deficiência visual, por exemplo, sua possibilidade de contato com o mundo é por meio de ações físicas no espaço, de movimentos e sensações, e da significação pela palavra. Assim, o conteúdo escolar precisa ser apresentado por esse canal. Isso não quer dizer que a imagem ficará fora do seu repertório, mas sim que a imagem precisa ser traduzida para que ela tenha acesso tátil e lingüístico àquilo que está sendo transmitido por meio da imagem. Seguindo esse mesmo raciocínio, o aluno surdo não tem acesso à oralidade, então o conteúdo precisa chegar até ele de outra maneira, pela imagem, pela língua de sinais, enquanto ele não tiver um domínio mínimo da escrita. NOVOS CAMINHOS DA INCLUSÃO O programa de Educação Inclusiva consiste em pôr em prática um novo conceito que tem como base tornar a educação acessível a todas as pessoas e, com isso, atender às exigências de uma sociedade que vem combatendo preconceitos, discriminação, barreiras entre seres, povos e culturas. A inclusão, em termos gerais, consiste em uma ação ampla que, sobretudo em países em que há diferenças sociais muito grandes, propõe uma educação com qualidade para todos. Na idéia de “todos” incluem-se também as pessoas com deficiências físicas e mentais. Especificamente, neste artigo, tratarei sucintamente de questões práticas e teóricas que dizem respeito à inclusão dos alunos com evidentes limitações físicas e mentais, no espaço da escola. Um breve histórico da deficiência no mundo aponta para uma triste realidade, cujos fatos revelam um longo período de exclusão. Benjamin Rush, médico norte-americano, do final da década de 1700, foi um dos pioneiros a introduzir o conceito da educação de pessoas com deficiência. Nos Estados Unidos, até 1800, os alunos com deficiência não eram considerados dignos da educação formal. Ao longo do tempo, apesar de algumas iniciativas, a evolução dos programas de educação para deficientes não apresentou grandes avanços. Somente no inicio do século XX começam a surgir escolas destinadas a pessoas com necessidades especiais. Essas escolas, contudo, segregavam os deficientes pelo simples fato de serem exclusivas a estas pessoas. Em muitos lugares do mundo, surgiram escolas para surdos, cegos e portadores de outras deficiências. A educação pública, em uma perspectiva um pouco adiante, criou as chamadas “classes especiais” que, embora estivessem dentro de escolas regulares, eram destinadas a alunos portadores de deficiências, sobretudo, de aprendizagem. Somente por volta dos anos 90, com base na Psicologia e na Epistemologia Genética do psicólogo genebrino Jean Piaget, começam a ser feitas novas leituras da deficiência mental e, por conta disso, evidencia-se uma nova maneira de compreender o desenvolvimento dos portadores de deficiências mentais e/ou físicas – neste último, incluem-se os deficientes visuais e auditivos –, ou seja, daqueles que têm formas diferentes de apreensão do mundo. Resumidamente, a teoria de Piaget, bem como de seus seguidores versa sobre a idéia do desenvolvimento de um sujeito psicológico, individualizado, que constrói conhecimento tendo por base um outro conhecimento que vai sendo pouco a pouco sintetizado e integrado, de modo a formar esquemas sucessivos de novos conhecimentos que revelam através do tempo sua autonomia intelectual. Esse último dado, o da autonomia intelectual, é o que se torna relevante como conhecimento, principalmente para os professores que ainda crêem que é possível se ter uma classe homogênea em que todos aprendem as mesmas coisas ao mesmo tempo. É preciso, portanto, em uma perspectiva didática inclusiva, considerar os diferentes modos e tempos de aprendizagem como um processo natural dos indivíduos, sobretudo, daqueles que têm evidentes limitações físicas ou mentais. As modernas concepções pedagógicas propõem que pensemos a aprendizagem como um processo interativo em que as trocas feitas pelos sujeitos são determinantes na construção ou reconstrução do conhecimento. Desse modo, considerando os diversos graus de potencialidade entre os indivíduos, surgem novas perspectivas como a da inclusão de pessoas com deficiências físicas e mentais no processo educacional regular. Assim, o que antes que era explicado à luz, fundamentalmente, da Medicina, da Psicologia e da Terapêutica passa a ter novos horizontes, ou seja, os da perspectiva social. No campo de uma Pedagogia que leva em conta as interações entre os indivíduos, passam a ser incluídas pessoas com deficiências físicas e mentais que, anteriormente, estavam em classes especiais sendo submetidas a tratamentos também especiais. O novo modo de ver a construção do conhecimento implica uma nova conduta. O modelo mental criado no âmbito da especificidade das deficiências deve ser substituído por um outro que considera as interações base da aprendizagem. Contudo, o que se faz pontual atualmente nas inclusões escolares é a dificuldade dos profissionais da Educação em modificar suas concepções em relação ao que consideram como “problema”. Em face desta questão, cremos que os direcionamentos das capacitações de professores do ensino regular devem ter vistas para os aspectos teóricos que envolvem uma severa mudança nas concepções e procedimentos pedagógicos. Contudo, o que nos parece mais complexo nesta mudança é o entendimento por parte dos professores de que a pessoa com deficiência no espaço da escola, deve estar incluída de forma ampla, sem nenhum tipo de tratamento especial ou conduta que possa vir a excluí-la das dinâmicas escolares. Assim sendo, os procedimentos devem observar aspectos importantes como os que sugerimos aqui. 1. Ter como Filosofia da Educação a base teórica construtivista que considera as diferenças na aprendizagem dos indivíduos. 2. Conscientizar a comunidade sobre o fato de que o deficiente não vai atrapalhar a aprendizagem dos outros e sim ajudá-los a vivenciar uma nova experiência como ser humano solidário. 3. Ter uma equipe de professores e funcionários preparada para lidar com situações inusitadas como, por exemplo, um aluno que necessita de ajuda para usar o banheiro ou outro que prefira estar a maior parte do tempo fora da sala de aula. 4. Matricular os alunos portadores de deficiência nas classes correspondentes a sua idade cronológica para que construam, ainda que em defasagem mental, uma idade social[1]. 5. Não priorizar a aprendizagem dos conteúdos educacionais em detrimento da aprendizagem da vida. 6. Elaborar o plano didático não mais mediante parâmetros pré-estabelecidos, mas levando em conta a realidade dos alunos da classe. 7. Não esperar “respostas” imediatas dos alunos com deficiências. 8. Contudo, não deixar de apresentar determinados temas ao aluno com deficiência, supondo que ele não vá “aprendê-los”. 9. Avaliar a aprendizagem considerando o potencial do aluno e não as exigências do sistema escolar. 10. Em casos extremos, como alta agressividade ou passividade absoluta, solicitar à família ou aos órgãos competentes o auxílio médico. 11. Fazer da observação atenta o seu mais importante instrumento de tomada de decisão. 12. Não ter medo de, muitas vezes, aliar a intuição aos conhecimentos de natureza psicopedagógicas. Na contra-mão deste evidente avanço da ciência moderna, ainda se encontram alguns grupos de terapeutas – médicos, psicólogos, fonoaudiólogos etc – que entendem a educação do deficiente como algo isolado, tendo em vista a chamada Educação Especial. Seria o caso das escolas especiais que oferecem terapias médicas e ocupacionais a pessoas com deficiências, levando em conta as especificidades de cada um. Não quero dizer aqui que o apoio terapêutico é totalmente desnecessário. Principalmente, em se tratando de deficiências físicas ou mentais severas, muitos indivíduos necessitam deste apoio. Todavia, o contato com um grupo de pessoas sem deficiência é um componente efetivo para o seu desenvolvimento físico e mental. Crianças deficientes que têm sido incluídas já nos primeiros anos de vida apresentam avanços significativos em relação àquelas que permanecem fora da escola regular ou em escolas especiais. Retomando à questão da escola, especificamente à postura dos professores, podemos observar as mais diversas reações quando se trata de incluir nas escolas regulares alunos com deficiência. O que vemos é que muitos profissionais compreendem esta nova perspectiva e desenvolvem com bastante facilidade o seu trabalho. Já outros apresentam uma série de barreiras, sobretudo, com relação a “não saber o que fazer” com o aluno deficiente. Há também aqueles que alegam “a falta de estrutura” dos sistemas escolares – salas lotadas, espaços reduzidos, falta de assistência psicopedagógica etc. Esses mesmos argumentos são utilizados quando são tratadas as questões do fracasso escolar. O que se observa de fato é que se de um lado estão profissionais que, nas mesmas condições, atendem a seus alunos de forma eficiente, do outro estão aqueles que ainda precisam ser sensibilizados para compreender a perspectiva da inclusão escolar. No presente artigo, o objetivo principal é o de chamar atenção para uma realidade que se apresenta em nosso país no âmbito educacional, já que fora dele diversos setores da sociedade começam a operar mudanças, ainda que lentas, em direção a um processo de inclusão. Haja vista, as empresas que vêm destinando cotas de empregos para pessoas com deficiências, bem como oferecendo a elas uma série de benefícios sociais – transporte, equipamentos apropriados, terapias especificas etc. O fato é que não podemos perder a oportunidade de avançar na perspectiva de uma nova revolução social, em cuja base estão as concepções interacionistas formuladas pelos grandes mestres da humanidade. Podemos, com isso, também afirmar que uma verdadeira revolução educacional faz-se necessária para de fato possamos dizer que estamos fazendo uma Educação Inclusiva. (E-mail
Posted on: Tue, 22 Oct 2013 02:33:50 +0000

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