"Quando some a sombra, não se tem mais identidade: o espelho quebrou e rasgou o que a vida não pôde dar - fala grosso, anda brigando e finge que não guarda o coração pros seus. A vida é breu, mal se vê o sol. O que sempre o guiou não se perdeu: a coragem, a força pra luta diária que tem de teoria as correspondências dos que tão longe, a exigência do básico e a justiça dos homens (cheios de fé em Deus, mas chamados de maus). Bons homens. Aos 13 já conhecem cada canto de sofrimento da vida, da barbárie à indiferença; carregam desde que nasceram o fardo da marca que pesa mais, dia após dia, em suas costas. Sabem muito de muito. Dançam, cantam, reinventam, criam - porque são crias. Têm lugar, embora estejam por todos eles: raiz de zinco, papelão, madeira; raiz de alvenaria só no reboco, cor de tijolo. Sabem de onde vêm e que não tem nada de romance na miséria, tem tristeza - tem choro de criança com fome que a mãe não ouviu. No começo, ninguém escolhe; no meio, cada um se move pelo que precisa e o fim, aqui, é estatística."
Posted on: Wed, 11 Sep 2013 04:34:26 +0000
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