Quanto pesa o preconceito? Hoje uma aluna me abordou no fim da aula solicitando que eu redefinisse sua avaliação. A atividade era sobre Reinos Africanos e coube ao grupo da aluna falar sobre o Reino de Ifé. - Professor, o senhor pode passar outro trabalho pra mim? - Por que? - Perguntei à adolescente. - Minha mãe não deixou eu fazer. - Por que? - Porque ela disse que é muito pesado pra mim! - Pesado!? - É, porque tinha negócio de candomblé. - E daí!? - Nada contra, professor, mas sobre isso eu não vou fazer não. - Minha filha, eu não passei trabalho sobre o candomblé, passei sobre um reino, sobre um lugar, sobre uma época. Candomblé é Brasil, religião afrobrasileira. Você ia estudar mais sobre a Nigéria, que nem português fala, querida. - Mas tinha negócio de Oxalá na internet quando eu fui pesquisar. - Sim. Os orixás do candomblé têm origem africana. E...?! - Ah, mas sei lá. Pode passar outro trabalho? - Não, não posso. - E minha nota!? - Ué, se não fizer o trabalho, vai ficar sem nota. E já aviso que estou disponível para conversar com a sua mãe. Boa tarde! Um reino africano é pesado demais pra ser estudado. Porém, porque considero extremamente injusto falar de Idade Média, Reforma, Contrarreforma, Inquisição, barroco, mitologia grega, egípcia, romana, judaica, e não das culturas africanas jejes, iorubás, congo-angolas, seus reinos e mitologias, é que faço questão de tratar destes temas últimos em sala de aula, sob o norte da justiça social e do combate ao racismo e à intolerância religiosa. Se Ifé é pesado demais, isso eu não sei. O único peso que conheci e que posso atestar é o peso do preconceito e da ignorância.
Posted on: Thu, 31 Oct 2013 03:24:05 +0000
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