Quem já conhece o CASO 132? :-) Novo trabalho meu. Só acompanhar. ;) "Um relâmpago riscou o cinza do dia. Despejando seu piscar sobre a via. Refletindo no asfalto e aclarando o rosto da velha. Anton novamente se voltou para ela. Estavam sozinhos. Os dois abaixo do abrigo. Concentrou-se no rosto da velha. Feição assustadora. Deformada. Abandonada. Moradora de rua. Rugas profundas causavam mais cinza na pele castigada. A pele pálida e cinza, a refletir a mortiça e tétrica réstia do céu. Os olhos tremeram ao piscar. As pálpebras se arranharam em algo. O globo ocular embaçado pela película leitosa, enrugou-se, úmido e desforme, feito lombo lustroso de verme sobre carniça. A boca escura, faltando muitos dos dentes. Ela ainda se movimentava e cantava. Voz fina, angustiante. O martelar da chuva a acompanhar a melodia. Tambores ritualísticos. Tribo distante. Anton sentiu um calafrio e afastou os olhos da mulher. Voltou a mirar algo do outro lado da avenida. Departamento de Polícia. Indicava uma placa. Prédios quadrados. Fachadas ocupadas, quase em sua totalidade, por janelas retangulares. Iguais. Simétricas. Caixas metálicas abrigavam aparelhos de ar condicionados. Inúmeros. Linhas e ângulos retos. A vizinhança parecia se fundir em semelhanças. Prédios públicos. Velhos. Inexpressivos e vazios, porém, entupidos de pessoas. Uma viatura estacionou abaixo de imensa árvore. A copa defendendo valentemente a entrada do prédio, a refrear o temporal. Sozinha. Solitária dentre os caixotes de concreto e calçadas ásperas. As gotas diminuíram. Cessaram-se lentamente. Anton reconheceu a viatura. Número “132”. A porta se abriu. Jonathan desceu e correu para o prédio. A velha parou de cantar e se levantou. Esticou o braço para fora do abrigo, conferindo a chuva. A cabeça virada para um ponto qualquer, fitando o vazio, parecia não se importar com a presença de Anton." facebook/caso132
Posted on: Fri, 28 Jun 2013 02:31:31 +0000
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