Querida prima Eliane vasculhando no baú velho de contos encontrei - TopicsExpress



          

Querida prima Eliane vasculhando no baú velho de contos encontrei esse das férias 2010.bjs obrigada pelo incentivo. VAQUEIRO TROVADOR Quando se trata de um sertão vivo,á rua dos Monteiros é privilegiada;o cenário agreste salta aos olhos em desigual desfile de ovelhas, gados, e suínos. As noites geralmente são frias em São José. O luar nostálgico fica envaidecido pela voz de Elias que é moço educado como cavalheiro de cidade grande, usa óculos , seus trajes sãos limpinhos e toca viola. Tudo isso começa com um simples convite á sentar nas calçadas pra remoer os acontecimentos do dia. Entre uma conversa e outra o vento chega interrompendo á prosa através dos hinos católicos: “ Eu canto como o rei Davi” o moço vai viajando pelo livro dos salmos dedilhando sua viola. Descubro mais tarde que Elias rigorosamente faz parte das cerimônias eucarísticas da igrejinha local. Todavia o sertão esconde e tem lá seus mistérios... as quatro horas da madrugada um homem jovem coloca suas botas amarelas, e vesti-se adequadamente para o curral levando um balde e a canequinha de plástico. Seu corpo é de aspecto sadio e suas atitudes são corajosas; é conhecedor das reses:malhada, fulana,pintada,coração...são tantas cabeças. Cinqüenta litros de leite são retirados e enviados para a cidade de Aracati... Lá para cinco e meia da manhã a pequena Talita que passa férias na casa da bisavó, registra e guarda cada gesto das mãos hábeis do vaqueiro puxando o leite das tetas do gado e fazendo aparecer repentinamente á espuma branquinha como neve transbordando no balde. Tudo aquilo era fascinante, iria ela contar no primeiro dia de aula quando retornássemos á capital, ao ouvir a enfadonha frase: como foram as suas férias? O sotaque puxado do vaqueiro encantava a nós duas: _ Amanhã é bom trazer um “canequim” pra beber leite bem “mornim” de malhada; É tinhosa e espritada só deixa tirar o leite quando amarra as patas e coloca o bezerro perto... Eu ficava muito á vontade com tudo aquilo e sentia orgulho em ser sua prima. Gostava de ouvi-lo, talvez para criar outros contos quem sabe. O canto do galo ás três horas da madrugada despertava-me... tenho um encontro com o Deus de Abraão. E sempre neste mesmo horário a boiada passava pelo oitão da casa sibilando os chocalhos juntamente com vozes de um jovem e de um velho que as tangiam. O sertão “morria” ao pôr do sol. Eu nunca via e nem ouvia falar daquele vaqueiro á noite, ele sumia pelo oco do mundo.E a noite era recebida pelo moço Elias juntamente com sua viola:”Quando o Espírito do senhor se move em mim em danço como o rei Davi.” O certo é que o vento e a brisa que vinha do Aracati naquela mesma noite tocavam o rosto do jovem Elias que vagamente lembrava de: fulana, malhada, coração.... Contos: Nilzenia maia
Posted on: Tue, 16 Jul 2013 00:22:11 +0000

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