REFLEXÕES SOBRE A ANARQUIA Maurice Joyeux Assim como os partidos marxistas e alguns outros, os grupos terroristas acreditaram representar o agente da ruptura. Não compreenderam que a ruptura nada mais é que o resultado lógico da sociedade estabelecida e que o socialismo que não tende a provocá-la só pode santificá-la. Os revolucionários, no seio de uma determinada sociedade, nunca constituíram, e jamais constituirão, senão uma minoria à espera da ruptura. Quando na esperança de abater o sistema, eles tomam o poder pela via eleitoral ou pela insurreição, não instauram o socialismo, apesar do que dizem. Os privilegiados mudam, os privilégios permanecem. As estruturas são modificadas, mas o espírito de classe que definia a sociedade da qual eles se apoderaram subsiste. Não pode ser de outra forma, pois o voto assim como a insurreição foram apenas um movimento momentâneo, reações de homens que ainda não mediram o abismo que separa as reformas da revolução. O que põe em marcha as massas revolucionárias, destroem tudo em sua ação, não são os discursos do propagandista ou a exposição sábia do teórico, mas o medo do desconhecido e do desconhecível, o medo do vazio que as arrebata quando seu instinto adverte-as que o mundo no qual elas viveram está morrendo. Aí, então, elas precipitam-se ao assalto do imaginário, perseguidas pelos partidos de “esquerda” e pelos sindicatos reformistas que correm atrás delas para colocar-se à sua frente e, em seguida, freá-las. Instante em que ressurgem das memórias todas as fórmulas mágicas comprimidas pela vida cotidiana e fustigadas pelos homens responsáveis; instante em que a organização revolucionária construída pacientemente com o objetivo de conservar a memória, e que só pôde sobreviver graças ao romantismo revolucionário e a um oportunismo tendo apenas pouca relação com a realidade, torna-se eficaz e justifica os esforços consentidos por seus militantes para conservá-la intacta durante o período pré-revolucionário.
Posted on: Thu, 20 Jun 2013 18:02:04 +0000