REFLEXÕES SOBRE ESPORTE E DITADURA MILITAR - Marcela Darido A - TopicsExpress



          

REFLEXÕES SOBRE ESPORTE E DITADURA MILITAR - Marcela Darido A utilização do esporte enquanto ferramenta de fortalecimento do estado e da ideologia dominante não acontece só em governos totalitários, como é possível analisar ao longo da história, mas é usada também pelos estados ditos democráticos, não atoa hoje os maiores eventos mundiais são esportivos. Devemos entender o esporte enquanto um elemento superestrutural na nossa sociedade, a superestrutura é composta por instancias e instituições que organizam as relações sociais, como religião, estado, política e etc… Que segundo Marx: “Na produção social da sua vida, os homens contraem determinadas relações necessárias e independentes da sua vontade, relações de produção que correspondem a uma determinada fase de desenvolvimento das suas forças produtivas materiais. O conjunto dessas relações de produção forma a estrutura econômica da sociedade, a base real sobre a qual se levanta a superestrutura jurídica e política e à qual correspondem determinadas formas de consciência social. O modo de produção da vida material condiciona o processo da vida social, política e espiritual em geral”. (MARX, 1859: Prefácio à Contribuição à Crítica da Economia Política). Nesse sentido esse esporte que conhecemos hoje só é possível, pois existem condições objetivas e materiais para a sua existência e inevitavelmente adquire uma função politica dentro da luta de classes, sendo assim é usado também pelos governos enquanto ferramenta de manutenção da democracia burguesa a partir da exaltação do nacionalismo, dos valores burgueses e de outros valores atribuídos a essa prática corporal. Estudar a relação da ditadura militar com o esporte e a Educação Física nos ajuda a entender a partir de uma perspectiva histórica a constituição das políticas públicas voltadas ao Esporte, que até hoje mantém elementos muito parecidos com essa época, assim como outros elementos da democracia burguesa resquícios da ditadura militar como a própria policia militar, fruto de uma revolução abortada por uma transição pactuada. Um exemplo dessa semelhança é a conjuntura em que vivemos, com a vinda da Copa do Mundo e das Olimpíadas para o nosso país por política do governo PT liderado por Lula e Dilma que possui inúmeros elementos de semelhança com a política dos militares, tentando ligar a imagem do regime à força e popularidade do esporte e seus heróis ao mesmo que de forma falida tenta suprimir o descontentamento da classe trabalhadora e dos oprimidos com o sistema que explora e oprime. Há muito tempo o Estado já utiliza e intervém no esporte, dentro dessa relação temos como período mais crítico o fim da Republica Velha, com a ascensão de Vargas em 1930, até o fim da ditadura militar em 1985. A vinda da Copa para o Brasil em 1950 é um exemplo claro de como se configura essa política. Copas na Ditadura militar Durante a ditadura militar a relação entre política e esporte se torna mais visível pela sua forma escancarada de tentar ligar o regime à força do esporte brasileiro, principalmente no que diz respeito a esporte oficial de nosso país, o futebol. Em 1964 os militares promovem um golpe de Estado depondo o então presidente João Goulart e instaurando um regime que vai perdurar por anos. Uma das primeiras medidas foi o cancelamento por parte da CBD (Confederação Brasileira de Desportos) de um amistoso contra a União Soviética, nessa época João Havelange, presidente da Confederação é mantido em seu cargo, enquanto vários ministros caem com a implantação do regime. Na primeira Copa disputada pela seleção brasileira no período da ditadura o então presidente Castello Branco recebe os jogadores em apoio ao time, seguindo a pratica de seus antecessores. A derrota do Brasil e sua péssima campanha são levadas a sério pelo regime, que cria inclusive uma Comissão para investiga-la e não permitir que isso se reproduza e, cada vez mais, a CBD se molda ao estilo militar. As devidas mudanças foram tomadas visando à vitória na Copa de 1970, no México. A partir de 1969, com o governo Médici, há um maior investimento do Estado no que diz respeito ao esporte, utilizado inclusive pela Assessoria Especial de Relações Públicas (AERP), responsável pela propaganda oficial, no sentido de aproximação com setores populares. Durante a Copa existe um grande esforço em ligar a imagem da seleção brasileira ao Regime e à própria imagem de Médici. Um exemplo desse uso foi o caso do sequestro do embaixador alemão Ehenfried Anton Theodor Ludwig Von Holleben, que, segundo a propaganda do governo, teria comovido os jogadores da seleção no México podendo inclusive atrapalhar o rendimento do país no evento. A disputa da Copa do Mundo fortalece uma ideia nacionalista, intervindo de forma a amenizar a luta de classes no país, se utilizando inclusive da vitória esportiva como exemplo e reflexo do crescimento econômico e da construção de uma potência. Por essa via se utiliza do nacionalismo do futebol para tentar neutralizar a classe operária diluindo a ideia de classes e fortalecendo a ideia de nação. Em 1974 o Regime interfere diretamente na seleção brasileira através do almirante Heleno Nunes, que comandava a CBD, mudando a escalação de jogadores, tirando Meneiro da seleção, um atleta que era problemático para o regime pelo posicionamento mais a esquerda. O jogador comemorava seus gols erguendo o braço esquerdo com o punho fechado e foi fotografado carregando um livro de Lênin. Não era possível que um jogador, ídolo da classe trabalhadora, propagandeasse ou fizesse referencia a qualquer movimento que pudesse interferir nos planos da ditadura. Já em 1982 na Copa do Mundo na Espanha há um otimismo dos brasileiros com a possibilidade da abertura politica do país. Sócrates era capitão da Seleção e um dos principais ativistas no esporte na luta pela volta a democracia. Com a Democracia corintiana ele e seus companheiros rejeitam a militarização do futebol vigente em toda a década anterior, assim como propagandeiam a ideia da democratização do país. É importante levantar que mesmo esse movimento, muito progressista dentro do esporte, é articulado por petistas como Marilena Chauí que compartilham da ideia de transição compactuada para a democracia, abafando a organização da classe trabalhadora que poderia derrubar a ditadura militar através de uma revolução socialista. Algumas outras questões dobre o futebol na Ditadura: Em 1970 foi inaugurada a Loteria Esportiva, em seguida, em 1971, se realiza o primeiro Campeonato Brasileiro, sendo ele um constante espaço de disputas politicas tanto para os clubes quanto para o governo, o futebol se torna uma ferramenta importante no projeto de integração nacional reforçado pelo auxilio da mídia. O Regime atua diretamente na participação dos clubes no Campeonato, hoje os que viveram essa época ainda lembram do jargão “Onde o Arena vai mal, um time no nacional”, que se refere ao aumento do número de times advindos dos locais onde o arena estava politicamente enfraquecido, mostrando como o governo se utilizava do futebol como forma de conseguir avançar em suas políticas. Em 1979 com o desgaste do Regime Militar a proclamação da Lei da Anistia permite a volta de vários perseguidos políticos para o país, no futebol também ocorrem mudanças, como a extinção da CBD e a criação da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) que teve como seu primeiro presidente o empresário Giulite Coutinho e que hoje se porta como coronel do futebol impondo suas vontades a todos os campeonatos e times, garantindo seus lucros e a manutenção de algumas famílias na direção dessa confederação. Nos anos seguintes com o gradual avanço da democratização, o esporte cada vez mais segue dirigido pelo capital internacional, sem nunca se afastar dos interesses políticos, hoje com a vinda da Copa do Mundo para o Brasil vemos a relação entre o governo brasileiro e a FIFA para garantir o lucro dela e das empresas ligadas a Copa, acabando com dinheiro público e passando por cima de direitos de milhares de famílias em nome do futebol e do nacionalismo. Esporte enquanto política pública No final dos anos 1960, inicio dos 1970, o governo, sob o comando de Médici investe na disseminação da Educação Física e do esporte. Dentro dessa politica a escola se coloca enquanto instituição central. Um das primeiras medidas é a construção de um grupo de trabalho para estudar e propor medidas para a expansão da Educação Física e do Desporto no país (Portaria Ministerial n. 94-A, de 28/2/69). Esse grupo produziu o documento “Diagnóstico da Educação física/Desportos no Brasil” que apontou a necessidade da elaboração de um plano de desenvolvimento da Educação Física e do esporte, balizado na necessidade de melhoria de qualidade de vida pra os brasileiros, na importância das manifestações psicossociais ligadas à Educação Física e ao esporte, que também projeta sua influência no plano da política internacional, além de disciplinar os recursos financeiros da Loteria Esportiva destinados aos programas de Educação Física e Desportos, como previa o Decreto-Lei n. 594, de 27 de maio de 1969. O Diagnóstico, produzido em 1969, foi estruturado em 13 tópicos, destes os dois primeiros foram considerados de maior importância: 1) As Escolas de Educação Física; 2) A Indústria de material, construção e instalações para a EF e dos Desportos. A questão de segurança nacional é usada para justificar o investimento na Educação Física e no esporte, como forma e preparar futuros soldados, colocando a aptidão física como questão fundamental no ensino da Educação Física. Com a ameaça de revolucionária se aproximando da América Latina a partir da revolução cubana de 1959 temos a eclosão de ditaduras em diversos países latino-americanos e em cada uma delas o reforço do nacionalismo. No Brasil o esporte foi utilizado pelo governo militar para criar o imaginário de união nacional em contraste com a proposta comunista de uma união de classe. Com o término da ditadura militar, persiste até a atualidade o uso político do esporte para fortalecer a ideologia dominante, ainda mais nesse período de crise capitalista. Muitas das politicas públicas utilizadas naquele momento são reproduzidas na sua totalidade ou com pequenas mudanças no presente. As competições esportivas em âmbito mundial, ainda cumprem o papel de, a partir da rivalidade entre países, permitir aos estados nacionais se utilizar da ideologia nacionalista enquanto forma de conciliação de classes. O Governo PT e a Reatualização das Políticas da Ditadura no Esporte No governo Lula, assistimos a escolha do Brasil como país sede da Copa do Mundo e dos jogos Olímpicos, política que já havia sido testada em 2007 no Rio de Janeiro sede dos jogos Panamericanos. Em 2010 ocorre a III Conferência Nacional do Esporte demonstrando claramente a politica de conciliação de classes desse governo que tenta se ligar ao esporte para se fortalecer politicamente levantando a ideia de país potencia e ao mesmo tempo subordina todo o debate e as políticas de esporte e lazer ao esporte alto rendimento e aos megaeventos esportivos. Não só no tom nacionalista o PT se espelha na ditadura militar para lidar com a vinda desses eventos para o país, mas também pela repressão como pudermos ver nas greves dos trabalhadores dos estádios da Copa e até mesmo das obras do PAC ou com o “AI-5 da Copa” que prevê lei anti-terrorismo, vista apenas durante a ditadura, e proíbe a greve de setores essenciais entre outras coisas que garante um estado de exceção durante os eventos. As jornadas de julho mostraram é que essa politica de conciliação está fadada ao fracasso, se antes acreditávamos que seria impossível que no país do futebol surgisse um movimento contra a vinda da Copa, nos atos o que vimos foram palavras de ordem contra a Copa, denunciando gasto de milhões de reais com esses eventos em detrimento de investimento e setores essenciais como saúde, educação e moradia, vimos em vários canteiros de obras trabalhadores entrando em greve contra as péssimas condições de trabalho, enquanto o governo para acalmar os ânimos da FIFA dizia que “confiava no patriotismo operário” e no Rio de Janeiro a população se colocando contra as UPPs, projeto de segurança do governo. A classe trabalhadora não vai pagar pelos gastos da Copa e dos Jogos Olímpicos, nem pelos elefantes brancos levantados para o deleite da elite e para o lucro da burguesia! Chega de explorar os trabalhadores da construção civil para levantar os estádios da Copa! Basta de repressão! Fim das UPP´s e dissolução da polícia! Basta de remoções! blogiskra.br/?p=589
Posted on: Wed, 04 Sep 2013 04:08:40 +0000

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