Rafael Pato. Dignidade e decência: ou você tem, ou você não - TopicsExpress



          

Rafael Pato. Dignidade e decência: ou você tem, ou você não tem. 1968: Eva Todor, Tonia Carrero, Ewa Wilma, Leila Diniz, Odete Lara e Normal Bengell. Compare as atrizes desta foto e o que combatiam com o que combatem hoje as Descerebradas do Projac que posaram “enlutadas”. (A foto e esta "legenda" foram retiradas do site Conversa Afiada). Eu não me lembro de ter visto nenhuma atriz global manifestar sua “indignação” quando um Ministro do Supremo Tribunal Federal concedeu dois habeas corpus em menos de 48 horas ao banqueiro bandido Daniel Dantas, preso pela Polícia Federal e rapidamente posto em liberdade graças à agilidade das canetadas do Sr. Gilmar Mendes (que, antes de ser indicado para o Supremo, fora Advogado-Geral da União durante o governo FHC, quando ocorreram as PRIVATARIAS TUCANAS, das quais o mesmo Daniel Dantas participou intensamente... Como se vê, as relações entre o banqueiro bandido e o juiz bandido remontam a outros “carnavais”). Também não me lembro de ter visto essas globais se indignarem quando o governo de São Paulo massacrou a população vulnerável do Pinheirinho, em São José dos Campos, nas primeiras horas do domingo, 22 de janeiro de 2012. Ou quando centenas de presos, sob custódia do Estado de São Paulo, foram chacinados no Carandiru. Ou quando crianças e adolescentes moradoras de rua foram covardemente assassinadas enquanto dormiam na calçada da igreja da Candelária, no Rio. Não, elas não ficaram de luto por nenhuma dessas razões. Assim como não ficam de luto pela ameaça de prescrição dos crimes praticados pelos mentores, executores e beneficiários do MENSALÃO TUCANO. A indignação das “atrizes” globais se deve ao fato de o Supremo Tribunal Federal QUASE ter se rendido à pressão e ao assédio dos “formadores de opinião” da mídia mais oligopolizada do planeta para que os réus da AP 470 fossem linchados, negando-se a eles EXCEPCIONALISSIMAMENTE o direito fundamental à ampla defesa, que é assegurado de modo irretorquível pela nossa Constituição. É isso: a “indignação” que se vê estampada naquela foto funérea é a indignação porque o Supremo ficou no “quase”. Elas, as globais, se indignaram porque aos 45 do segundo tempo, o Supremo se recordou de suas responsabilidades constitucionais e agiu como uma instituição republicana. O Supremo se lembrou (quase que já ia se esquecendo, mas se lembrou) de que seu dever para com a sociedade é o de assegurar o Estado Democrático de Direito; honrar, proteger e cumprir a Constituição da República; e promover a Justiça. O STF vem desde agosto do ano passado, quando começou todo o circo do MENTIRÃO, vilipendiando o Estado de Direito; desonrando e descumprindo a Constituição; e afrontando a Justiça. Quase que toda essa barbaridade se consuma sem qualquer possibilidade de apelação. Quase. A admissão dos embargos infringentes, que são um expediente a que qualquer um de nós podemos recorrer como nos assegura o inciso LV, do artigo 5º da nossa Constituição, e, portanto, não haveria nenhuma justificativa legal para negá-los a determinadas pessoas, marca um momento em que o Supremo FEZ JUSTIÇA de maneira impessoal, como tem que ser, sempre. A vontade de que esse julgamento se encerrasse com a negação dos embargos e se consumasse como a mais vergonhosa perseguição política da nossa História, em tempos de “democracia”, ficou apenas no quase, suspensa. Pelo menos por enquanto. Só por enquanto. Mesmo assim, a Casa Grande não conseguiu conter sua indignação e seu luto, e, ao externá-los, expõe também o seu ridículo, a sua ignorância e a sua hipocrisia. _____ A canastrice infringente das atrizes “em luto pelo Brasil”, por Kiko Nogueira Bárbara Paz, Susana Vieira, Rosamaria Murtinho, Carol Castro e Nathália Timberg acharam fundamental tirar um foto de preto, postada no Instagram de Bárbara com a legenda: “Atrizes em luto pelo Brasil”. Foi um protesto contra a decisão do STF de aceitar os embargos infringentes. É evidente que elas podem se indignar e dar recado sobre qualquer coisa. É evidente que podem achar um absurdo, um crime, uma palhaçada a decisão do Supremo. Agora: no que isso contribui para o debate? O que, por exemplo, Bárbara Paz pensa do processo? Ela acompanhou tudo, provavelmente, tirou suas conclusões e resolveu se manifestar, certo? Difícil. Ela e as amigas viram aí uma oportunidade de aparecer bem na fita, e pau na máquina. Todos nós queremos um país melhor. Ninguém gosta de “ladroeira”. Mas essa grita das atrizes é parente da queixa do sujeito que berra contra a corrupção e suborna o guarda na estrada. Por que elas não brigam por roteiros menos imbecis nas novelas da Globo? Por que não fazem um minuto de silêncio contra o sistemático emburrecimento da população promovido por gerações de autores e atores? Por que não carregam faixas exigindo textos de Shakespeare? Francamente: como é que Susana Vieira, sim, Susana Vieira - Susana Vieira, senhoras e senhores - pode posar de musa trágica da indignação? O que Susana Vieira fez pelo Brasil em 50 anos de carreira? Elas sabem que sua Globo foi flagrada tentando transformar a compra de direitos de uma Copa num investimento no exterior só para não pagar impostos? Sabem que uma funcionária da Receita foi presa ao tentar dar sumiço a esse processo — que em dinheiro de hoje significa uma sonegação de 1 bilhão de reais, dinheiro que poderia ser usado na construção de escolas, hospitais etc? Se sabem, sua indignação é seletiva. Se não sabem, são desinformadas e manipuladas. A foto é de uma canastrice e de uma auto-importância ímpares. Mas eu tenho uma suspeita: terminado o clique, todas elas voltaram a sorrir normalmente enquanto discutiam o próximo capítulo de “Amor à Vida”.
Posted on: Sat, 21 Sep 2013 15:55:54 +0000

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