Reflexão rápida sobre a chegada de médicos estrangeiras e a saúde no Brasil O primeiro ponto, e principal, em minha visão, é que a saúde, no Brasil, está em profunda crise. E isso é revoltante! Porque, talvez, tenhamos um dos modelos de Saúde mais interessantes do mundo, que é o SUS. E existe uma distância tão grande entre como ele foi pensado e como é praticado, entre o ideal e o real. Vemos, diariamente, imagens e notícias entristecedoras de hospitais lotados, postos de saúde com senhas limitadas e “pagas” (com filas nas madrugadas), ausência de condições básicas de trabalho, atrasos nos salários dos profissionais de saúde e desvio de verbas. Existem muitos interesses envolvidos e a saúde é tratada como um jogo. Indústrias farmacêuticas, planos de saúde, políticos corruptos visando dinheiro/cargos/nomeações... veja a ANS (Agência Nacional de Saúde), instituto criado para gerir a saúde no Brasil e que é figura decorativa. Tem grande parte do orçamento desviado, mal aplicado ou aplicado “a seu bel prazer” (para quem der mais). Nomeações absurdas, inclusive para chefia, que, até hoje, são investigadas pelo Ministério Público e por CPIs. A saúde é um caos e devemos todos agradecer por termos médicos tão corajosos para seguir seus caminhos, cumprindo os seus juramentos, promessas e sonhos, mesmo em meio a tantos obstáculos, que sabemos serem muitos. Tenham certeza de que cada sucesso é uma vitória coletiva, de todo um povo. Cada vida salva é colocada nesta conta coletiva de um mundo melhor, e cada vida perdida deveria envergonhar, principalmente, nossos corruptos, desprezíveis, ineficientes e perversos governantes. Precisamos melhorar muito e urgente! Com relação à vinda de médicos cubanos, confesso não ter opinião definida. Mas veja. Na década de 90, no governo de FHC, alguns médicos, não só cubanos, vieram ao Brasil praticar e difundir medicina, notadamente em Manaus e regiões centrais. Naquela época não houve tanta comoção, ao que me lembre. E foi positivo. Naquela época, também, a medicina de Cuba era considerada referência, notadamente pela forte atuação preventiva. Não sei se hoje continua, acho que não. Entretanto, lá, grande parte da população é instruída, senão a totalidade, o que facilita a aplicação de conceitos. A prática de esportes é obrigatória nas escolas, por exemplo. Enfim. Já ouvi que os médicos que vieram são especialistas, que vieram suprir ausências de certas funções específicas no Brasil. Esta foi, inclusive, a informação do próprio ministro da saúde. Já ouvi também que os médicos que vieram não são especialistas e que vieram apenas atuar em ambulatórios, em casos de menores complexidades e, apenas, em municípios distantes das capitais, onde a ausência de médicos é mais sentida. Vieram, também, com a missão de difundir a medicina preventiva e trocar conhecimento. Acho válido! De outro lado, outros aspectos me intrigam: 1) Os médicos estrangeiros não receberão os proventos e sim o seu governo. Cuba, por exemplo, receberá o repasse do governo brasileiro, ficará com a singela fatia de 60% e repassará o restante (40%). O Jornal Folha de São Paulo trouxe essa informação; 2) Quem paga os salários é o governo federal, que ”tirou” a responsabilidade dos estados e municípios e decidiu bancar. E mais. Promete suprir estes médicos com todos os equipamentos/instrumentos/medicamentos básicos para desenvolverem a prática. E eu me pergunto: “E por que o governo não fez isso antes? Ou melhor... e por que não fez isso sempre?”. É um direito de todos, não uma prerrogativa do Estado. É direito constitucional de todo cidadão, art. 5 da nossa constituição, cláusula pétrea. 3) Por que o Brasil insiste em fazer alianças com países ditatoriais, como Cuba, Bolívia, Honduras? Ranço de política externa burra e de país pequeno. 4) Por que o governo ainda insiste em gastar tanto com propaganda, marketing e coisa secundárias? Mentindo, dizendo que faz isso e aquilo. Este dinheiro é nosso, amigo! Pagamos impostos pesados e essa arrecadação deve ser revertida em prol da população, em suas principais necessidades. Saúde, Educação e Segurança. Não tenho nada disso pelo governo, e você? Precisamos pressionar cada vez mais. Vivemos num país que brinca de ser rico. Acredita que pode ser, mas nunca será. Entendo, de igual forma, que é errado receber com agressões e vaias os médicos estrangeiros, como foi feito em alguns pontos do Brasil. Toda ajuda é bem vinda. Óbvio que não nos deixemos enganar por manobras políticas oportunas e provisórias, que não revolvem os nossos problemas centrais. Por tudo o que tenho lido e ouvido, entendo que a discussão sobre a vinda de médicos estrangeiros não é o cerne da questão, nem de longe. É assunto acessório, e muito. O cerne é a saúde brasileira, o seu já estendido estado de coma e o que faremos para sair desta situação. P.S.: Fiquem à vontade para adicionar comentários. Bom enriquecer o debate.
Posted on: Thu, 29 Aug 2013 07:17:55 +0000