Reino Unido, Setembro de 2002 Queridas mães, pais e entes - TopicsExpress



          

Reino Unido, Setembro de 2002 Queridas mães, pais e entes queridos daqueles que morreram em 11 de Setembro em Nova York. Eu sou chileno, moro em Londres e gostaria de dizer que talvez tenhamos algo em comum. Seus entes queridos foram assassinados como os meus, e nós temos uma data em comum: 11 de setembro. Terça-feira, 11 de setembro. Em 1970, houve uma eleição. Eu tinha 18 anos e votei pela primeira vez. Tínhamos um lindo sonho de construir uma sociedade na qual nosso povo repartisse o fruto do seu trabalho: a riqueza do país. Em setembro de 1970 todos fomos votar e vencemos! Havia leite e educação para as crianças. Terras improdutivas foram dadas a camponeses sem terra. O carvão, as minas de cobre e as indústrias de base se tornaram propriedade de todos nós. Pela primeira vez na vida as pessoas tinham dignidade. Mas não sabíamos como aquilo era perigoso. O secretário de Estado de vocês, Henry Kissinger, anunciou: “Não vejo por que deveríamos deixar um pais se tornar comunista devido à irresponsabilidade do seu próprio povo!” Nossa decisão democrática e nossos votos não eram relevantes. O mercado e o lucro eram mais importantes que a democracia. Daquele momento em diante, nossa dor, e a de vocês, foi legalizada. O presidente de vocês, Nixon, disse que faria nossa economia gritar. Ele mandou que a CIA se envolvesse diretamente na organização de um levante militar, um golpe de Estado: 10 milhões de dólares, mais, se necessário estavam à disposição para aniquilar nosso presidente, Salvador Allende. Amigos, os líderes de vocês estavam decididos a nos destruir. Eles provocaram uma greve nos transportes que quase paralisou nossa economia. Embargaram todo o comércio conosco, o que criou o caos. Trabalharam com quem, em nosso país, não aceitava nossa vitória. Seus dólares sustentaram um grupo neofascista que gerou violência e bombardeou fábricas e centrais elétricas. Incrivelmente, isso não funcionou. Nas eleições municipais, na verdade, nossa base de apoio aumentou. Então, o que os Estados Unidos fizeram? Em 11 de setembro inimigos da liberdade cometeram um ato de guerra contra o nosso país. Assim que clareou, tropas e tanques atacaram o palácio presidencial. Allende, seus ministros e assessores estavam lá dentro. Allende não fugiu quando o Palácio La Moneda foi bombardeado. Ele foi assassinado. Assassinado! Terça-feira. Também foi uma terça-feira, 11 de setembro de 1973. Um dia que destruiu nossa vida para sempre. Levei um tiro no joelho e, depois, eles bateram minha cabeça no chão. Eles me bateram tanto, que às vezes eu desmaiava. Um dia, na prisão, vi um homem sendo arrastado pelos braços. Ele não conseguia andar. Sangue saía de seus ouvidos. Quebraram os ossos dele e depois o assassinaram. Ficamos sabendo sobre os campos de tortura dirigidos por oficiais do Exército treinados nos Estados Unidos. Ficamos sabendo sobre os que foram estripados, jogados de helicópteros, torturados diante de seus filhos e cônjuges. Sabem o que eles faziam? Ligavam fios elétricos nos genitais. Enfiavam ratos na vagina das mulheres. Treinaram cães para estuprar mulheres. E aí ficamos sabendo sobre a caravana da morte: o general que ia de cidade em cidade fazendo execuções a esmo. 30 mil foram assassinados. 30 mil! Seu embaixador no Chile reclamou de torturas, mas Kissinger respondeu: “Pare de querer dar aula de ciência política”. O general Pinochet, que organizou o golpe, sorriu e aceitou os parabéns do secretário de Estado dos Estados Unidos pelo “bom trabalho”. E os dólares começaram a entrar de novo no Chile. Eles me chamaram de terrorista e me condenaram à prisão perpétua sem julgamento nem defesa. Fui libertado cinco anos depois, mas tive de sair do país, pela segurança dos meus amigos. Não posso voltar para o Chile agora, embora só pense nisso. O Chile é o meu lar, mas o que aconteceria com os meus filhos? Eles nasceram em Londres. Não posso condená-los a um exílio como o meu. Não posso fazer isso agora, mas desejo ir para casa de todo coração. Santo Agostinho disse: “A esperança tem duas filhas lindas: a raiva e a coragem. Raiva do estado das coisas e coragem para mudá-lo”. Mães, pais e entes queridos dos que morreram em Nova York. Logo chegará o 29º aniversário de nossa terça-feira, 11 de setembro, e o 1º aniversário da sua. Vamos nos lembrar de vocês. Espero que vocês se lembrem de nós. Pablo
Posted on: Mon, 10 Jun 2013 21:20:17 +0000

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