Ruchir Sharma Valor Econômico - 07/11/2013 Alta excessiva do - TopicsExpress



          

Ruchir Sharma Valor Econômico - 07/11/2013 Alta excessiva do crédito é risco para Brasil Por Sergio Lamucci | De Washington O chefe de mercados emergentes do Morgan Stanley Investment Management, Ruchir Sharma, tem uma visão pouco animadora sobre a economia brasileira, alertando para os riscos do que vê como uma crescente dependência do aumento excessivo de crédito. O que o nosso trabalho mostra é que não é o nível do crédito, mas o ritmo de aumento o que mais importa, afirma ele, ao observar que a taxa de expansão de empréstimos e financiamentos no Brasil nos últimos cinco anos só foi superada pela da China. Isso me preocupa porque, mesmo para crescer a taxas baixas, de 2,5%, é necessário mais e mais dívidas. Para ele, os problemas estruturais que afetam a capacidade de o país avançar a taxas mais fortes não têm sido enfrentados, embora sejam bastante conhecidos. Os gastos públicos são muito elevados como proporção do PIB, os impostos são muito altos, o grau de abertura comercial é muito pequeno, a moeda continua bastante cara e o governo tem uma atitude muito intervencionista, enumera ele, ressaltando que o investimento segue muito baixo, especialmente em infraestrutura física. Esse conjunto de fatores explica o baixo ritmo de expansão da economia brasileira, diz ele. Para Sharma, o crescimento potencial (aquele que não acelera a inflação) está entre 2% e 2,5%, um nível muito fraco, próximo ao dos Estados Unidos, uma economia com renda per capita muito maior, e bem abaixo do que seria desejável para um país emergente. Eu não acho que o Brasil vá entrar numa crise, mas a lenta deterioração das contas fiscais é um problema Em 2012, um artigo de Sharma publicado na Foreign Affairs, intitulado Pessismista sobre o Brasil, chamou a atenção. Era um trecho de seu livro Breakout nations, que saíra no começo do ano passado, no qual já apresentava uma visão bastante negativa sobre as perspectivas do Brasil, num momento em que muitos investidores ainda viam o país com otimismo. De lá para cá, a percepção mudou, o que faz Sharma dizer que está um pouco menos pessimista do que naquele momento. Os preços como os do mercado de ações e da moeda sofreram uma correção. À luz disso, estou menos pessimista, porque houve um ajuste. No entanto, em termos de fundamentos, eu continuo a ter a visão de que o Brasil não será uma das economias de maior destaque nesta década, afirma ele. Os ventos favoráveis que ajudaram o país, como o boom de commodities, ficaram para trás. Para ele, o real precisa se depreciar ainda mais. Quando se considera que o real foi a moeda que mais se valorizou entre todos os mercados emergentes na última década, que a inflação é mais alta no Brasil que nos outros mercados emergentes e que as moedas desses países se enfraqueceram de modo significativo nos últimos 12 a 18 meses, não acho que o real esteja muito competitivo. Ele tem que se desvalorizar mais. Ao comentar a política fiscal, Sharma afirma não estar preocupado a ponto de achar que o Brasil vá entrar numa crise, mas observa que a lenta deterioração das contas públicas é um problema. Ele ressalta, porém, que a sua maior preocupação é com o crescimento do crédito. Para Sharma, o maior risco para o Brasil e outros emergentes no cenário externo está não na perspectiva de redução do ritmo de compra de ativos pelo Federal Reserve, mas no de uma desaceleração mais forte da China. Ele, aliás, espera que o país asiático cresça entre 5% e 6% dentro de alguns anos, o que diminuirá a demanda por commodities. A seguir, os principais trechos da entrevista, feita ontem por telefone. Valor: O sr. tem sido pessimista sobre o Brasil há um bom tempo. Está mais ou menos pessimista do que em 2012, quando a Foreign Affairs publicou o artigo Pessimista sobre o Brasil? Ruchir Sharma: O texto é um trecho do meu livro Breakout nations. O sentimento em relação ao Brasil se deteriorou desde que ele foi publicado no começo de 2012. Muita gente achou que o texto era controverso. Naquele momento, muitos investidores estrangeiros estavam otimistas em relação ao Brasil. Isso mudou, porque o sentimento em relação ao Brasil mudou. Os preços como os do mercado de ações e da moeda sofreram uma correção. À luz disso, estou menos pessimista, porque houve um ajuste. Mas, em termos de fundamentos, eu continuo a achar que o Brasil não será uma das economias de maior destaque nesta década. Os ventos favoráveis que ajudaram o país, como o boom de commodities, ficaram para trás, e não vejo sinal de que muitos dos problemas estruturais que afetam o Brasil tenham sido enfrentados. Valor: Quais são os problemas que não foram enfrentadas? Sharma: Um deles é que, nos últimos quatro ou cinco anos, a economia brasileira tem confiado crescentemente no aumento excessivo do crédito e nos estímulos do governo para conseguir algum nível de crescimento. Depois da China, o Brasil teve a maior alta do crescimento do crédito do que qualquer outro mercado emergente nos últimos cinco anos. Isso é uma grande preocupação. Quando uma economia depende demais da expansão do crédito para crescer, não é um bom sinal. São necessários aumentos de produtividade. Esse é o maior sinal de alerta em relação ao Brasil. Além disso, muito do crescimento do crédito tem ocorrido por causa da atuação dos bancos públicos. Não são bons sinais. Há ainda problemas como o fato de que há muito crescimento dos gastos em programas sociais e de bem estar, e não o suficiente em infraestrutura física, que continua fraca. No Brasil, a taxa de investimento na última década ficou estagnado na casa de 18% do PIB. Outras economias latino-americanas, como Colômbia, Peru e Chile, usaram o boom de commodities para aumentar o investimento. A taxa de investimento nesses países aumentou significativamente na última década, o que não ocorreu no Brasil. Além disso, em termos de comércio, o Brasil continua uma das economias menos abertas do mundo. A corrente de comércio como proporção do PIB é uma das menores entre os países emergentes. Todos esses pontos são bem conhecidos, mas ainda não foram enfrentados. Valor: O governo diz que houve uma alta significativa da taxa de investimentos nos últimos dez anos. Sharma: Foi uma alta muita modesta, e você está pegando o nível mais baixo do ciclo, de 2003 e 2004. O aumento do investimento em relação ao PIB foi muito baixo. Se você olhar outras economias da América Latina - esqueça a Ásia -, o aumento da taxa de investimento foi de 5 a 10 pontos percentuais (no Brasil, a taxa, que atingiu 15,3% do PIB em 2003, fechou ano passado em 18,2% do PIB). O Brasil é um dos países que menos gastam com infraestrutura física no mundo. Valor: O sr está otimista em relação ao pacote de concessões em infraestrutura? Sharma: Há algo positivo ocorrendo ali, mas é um processo que começa e para, começa e para. Estou cautelosamente otimista, mas nada que mude as minhas preocupações fundamentais. Valor: O Brasil deve crescer 2,5% neste ano, com inflação próxima de 6% e um déficit em conta corrente em alta. O que isso diz sobre a economia brasileira? Sharma: Isso diz que o nível da produtividade é baixo, o investimento é baixo e o intervencionismo do Estado é muito alto, o que faz a economia pouco competitiva. Além disso, a moeda continua mais cara do que barata, o que também é um vento contrário para a economia. Valor: Muitos analistas criticam a política fiscal brasileira, pela queda no superávit primário e pelos empréstimos do Tesouro para os bancos públicos. O sr. está muito preocupado com a política fiscal? Sharma: Eu não estou preocupado a ponto de achar que o Brasil vá entrar numa crise, mas a lenta deterioração das contas fiscais é um problema. É exatamente o inverso do que ocorreu na última década, quando havia a expectativa de que o Brasil teria a próxima melhora na sua nota de crédito. Agora, a expectativa é de quando ocorrerá uma piora. É uma lenta deterioração, mas não uma crise. Para mim, a maior preocupação, mais do que o que está ocorrendo nas contas do governo, é o que ocorre com o crescimento do crédito. O crescimento do crédito foi muito forte nos últimos cinco anos. O que o nosso trabalho mostra é que não é o nível do crédito, mas o ritmo de aumento o que mais importa. Isso me preocupa porque, mesmo para crescer a taxas baixas, de 2,5%, é necessário mais e mais dívidas. Essa é para mim a maior preocupação. Valor: O real se depreciou com força depois que o Fed indicou em maio que poderia começar a reduzir o ritmo de compra de ativos ainda neste ano. Como o Fed não começou a diminuir as compras em setembro, a moeda se apreciou. Nos últimos dias, voltou a se desvalorizar, por causa dos números fiscais ruins e da alta do juros dos títulos do Tesouro americano. O real vai continuar a se depreciar? Sharma: O real continua sobrevalorizado, de acordo com o nosso trabalho, e precisa se desvalorizar. A resposta curta é que eu ainda espero maior enfraquecimento da moeda. Quando se considera que o real foi a moeda que mais se valorizou entre todos os mercados emergentes na última década, que a inflação é mais alta no Brasil que nos outros mercados emergentes e que as moedas desses países se enfraqueceram de modo significativo nos últimos 12 a 18 meses, não acho que o real esteja muito competitivo. Ele tem que se desvalorizar mais. Valor: O que o Brasil deve fazer para se preparar para um cenário de redução de compra de ativos pelo Fed e de crescimento menos exuberante na China? Sharma: O Brasil precisa se tornar mais competitivo de novo. Isso inclui aumentar a produtividade e enfrentar a questão do gasto público. É necessário fazer alguma coisa para reduzir o gasto público e aumentar a abertura da economia. Os problemas são bem conhecidos. Os gastos públicos são muito elevados como proporção do PIB, os impostos são muito altos, o grau de abertura comercial é muito pequeno, a moeda continua bastante cara e o governo tem uma atitude muito intervencionista. O governo intervém muito na economia, fazendo os bancos públicos intervirem muito, por exemplo. O governo deve dar um passo atrás na intervenção. Acho que esses são alguns dos passos que o Brasil precisa tomar para voltar a ser competitivo e tentar crescer a um ritmo de 3,5% a 4%, que estaria em linha com os outros mercados emergentes. Atualmente, o crescimento do Brasil caiu para 2% a 2,5%, o que é decepcionante, porque não é diferente do ritmo de crescimento dos EUA. Por que as pessoas devem ir para o Brasil quando o ritmo de crescimento não é diferente do dos EUA, apesar de a renda per capita brasileira ser um quarto da americana? Valor: O crescimento potencial brasileiro está entre 2% e 2,5%? Sharma: Aparentemente sim. Valor: É provável que o Fed comece a reduzir o ritmo de compra de ativos nos próximos meses. Como isso vai ocorrer e como o Brasil será afetado? Sharma: Eu não acho que alguém tenha pistas claras de quando isso vai ocorrer e qual será o impacto. O que eu sei é que a boa coisa é que muita gente está bastante consciente sobre a redução do ritmo de compra de ativos, diferentemente do que ocorreu em julho e agosto. Com isso, a reação não deve ser tão ruim dessa vez. O maior risco para os mercados emergentes continua a ser que o ritmo de crescimento da China seja menor do que as pessoas pensam. O Brasil deve se acostumar com o fato de que a era de liquidez global barata acabou. A era de fortes preços de commodities, elevando o crescimento global, também acabou. Esses dois importantes ventos favoráveis se foram. O timing exato da redução de compra de ativos, quando vai ocorrer, como vai ocorrer, eu não sei. Se os juros aumentarem dramaticamente, o impacto obviamente será forte. Mas o risco já foi telegrafado. Eu estou menos preocupado com isso do que com as questões domésticas do Brasil e o risco de desaceleração mais forte da China. Valor: Qual a sua expectativa para os preços de commodities? Sharma: Na visão de longo prazo sobre os preços de commodities, o que frequentemente se diz é que há duas décadas de queda e uma de alta. Nós já tivemos uma década de alta, e há muita oferta a caminho no mundo. Acho que os preços de commodities em geral terão uma tendência de queda nesta década. Eu espero que o crescimento da China se desacelere nos próximos dois ou três anos para 5% a 6%. Com esse ritmo de crescimento, a demanda e o consumo de commodities vão cair mais. Acho que o superciclo de commodities terminou e que os preços têm maior perspectiva de cair. Valor: Como será a desaceleração da China? Sharma: A China é agora um país de renda média. As taxas de crescimento tendem a desacelerar, porque os setores de maior produtividade, como exportações e manufatura, parecem ter atingido um pico como proporção do PIB. Eu espero que o crescimento se desacelere para 5% a 6% nos próximos poucos anos. A China está num estágio em que o Japão estava nos anos 1970 e a Coreia do Sul e Taiwan nos anos 1980 e 1990. Todas essas economias se desaceleraram significativamente em níveis similares de renda per capita. Então não acho que deva ser uma grande surpresa. Eu sinto que as pessoas precisam de tempo para se ajustar a isso. Elas agora se ajustaram ao fato de que o crescimento potencial da China é de cerca de 7%. Ninguém fala mais de crescimento de dois dígitos, mas acho que pode haver um ajuste para baixo, para 5% a 6%. É uma desaceleração gradual. Não parece um pouso forçado porque o crescimento não recua de 12% a 13% para zero, mas há uma clara tendência de desaceleração.
Posted on: Thu, 07 Nov 2013 13:08:40 +0000

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