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SEGUE ABAIXO O TEXTO DO MEU GRANDE AMIGO ADELINO CARVALHO. NÃO SEI SE TODOS SABEM, MAS JÁ ERA O ANACONDA. MONUMENTO HISTÓRICO DE UBERLÂNDIA-MG MOTEL ANACONDA A cidade não para, a cidade só cresce O de cima sobe e o debaixo desce Chico Science O casal saiu caminhando feliz em direção ao coração do bairro... o pernoite custara 45 reais, pagos em dinheiro, e a manhã de domingo já tinha começado. Pensei em cumprimentar os amantes, o que me pareceu invasivo, afinal morar ao lado do local não me credenciava a tanto e constrangê-los não seria meu direito na condição de quase estrangeiro no Patrimônio mais que centenário. A cena seria curiosa para alguns, mas não era incomum e já estava incorporada ao modus vivendi desta ponta da valorizada zona sul da cidade. A movimentação no entorno do Motel Anaconda era constante... os prudentes passavam em sua frente à luz do dia com seus carros velhos – automóveis seria o termo mais apropriado – em sucessivas voltas no quarteirão “sondando” as condições do lugar. Os representantes da fauna “praiana” entravam sozinhos e eram mais apressados, eles geralmente cinquentões em carros grandes e saindo primeiro para cumprir seus compromissos, elas bem mais jovens, autointitulando-se universitárias, em seus carros pequenos e terminando os seus. Houve ainda a namorada sentada na calçada que reclamava via Infinity Tim do atraso do parceiro porque ele havia optado pelo A119, esquecendo-se que este era o trecho mais longo porque passava pelo Terminal Central. O casal jovem saía abraçadinho protegido pelos capacetes e não havia mundo à sua volta quando ela se recostava no dorso do piloto. Os menos moralistas mantinham os vidros abaixados e acenavam com a cabeça em consideração ao vizinho curioso. O taxista contou que recentemente entrara rapidinho com seu filho para lhe apresentar o local... ali começara o namoro com a mãe do garoto. Poucos lugares foram tão democráticos no espaço urbano local, à semelhança das praias do litoral no verão brasileiro, cujas areias são frequentadas pelo feio e pelo bonito, pelo magro e pelo gordo, pelo rico e pelo pobre... não há dúvida de que somos um país paradoxal, lembrou o Luiz Ruffato na abertura da Feira do Livro de Frankfurt deste ano. Após décadas de atividade o estabelecimento fechou suas portas no começo do mês, mas as lembranças do famoso Anaconda pertencem a muitos. Se o escritor Xico Sá por aqui andasse ele diria, saudoso dos antigos bares que agora fecham nos tradicionais bairros paulistanos, que estaria ocorrendo na cidade mais uma queima de arquivo (A pior das queimas. A queima sentimental, sinistro afetivo, o apagão da memória dos homens de boa vontade). Talvez fosse o mais próximo do Hotel Califórnia que tivemos por aqui, célebre na música do Eagles, envolto em segredos com seus Espelhos no teto e Champagne Rosê no gelo. Agora são ruínas que a retroescavadeira revolveu... azulejos cor de rosa, bidês azuis e partes de vitrôs enferrujados, sobras de muro verde empilhados sobre a plaquinha amarela que garantia a identidade do local. A cena lembra a demolição de um cinema antigo (de nome Paradiso, talvez) em uma pequena cidade da Itália para construção de um estacionamento. Por aqui, of course, o ambiente será higienizado para mais um festivo empreendimento imobiliário verticalizado que logo estará pronto para abrigar outras sociabilidades, outros modos e outras vivências, provavelmente menos cruas e mais assépticas, representativas, talvez, da patologia do vazio que hoje determina a condição de viver em nossas cidades. Adelino Carvalho, professor, outubro de 2013. [email protected]
Posted on: Sun, 20 Oct 2013 21:45:49 +0000

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