SONHOS DO CÁGADO LILÁS II By: Waverme Ge Corcunda Para quem - TopicsExpress



          

SONHOS DO CÁGADO LILÁS II By: Waverme Ge Corcunda Para quem nasce e cresce em Tete; os de Angónia são mais perigosos na feitiçaria. Para quem nasce em Angónia, os curandeiros de Malawi são melhores e perigosos. Para quem é do centro do país, as pessoas do Niassa são mais perigosas em feitiçaria. Para quem for Jaua, os de Mecanhelas ou Lago são mais perigosos e assim vive versa. Estas consciências são produtos do discurso de “nós e os outros”. O outro é sempre isto e aquilo: bode espiatório/ o mau da fita. A teoria científica que suporta tais estudos (penso que em sociologia muito mais) é a teoria de conspiração. O outro é sempre uma construção e nunca fora uma existência objectiva anterior `a nossa consciência. A construção do outro permite a nossa própria identificação: precisamos identificar o outro para sabermos quem somos. Há quem está a viajar para Cabo-Delgado, porque acha que a canamicina (chamo de canamicina à toda sabedoria de cura e feitiçaria dos médicos/curandeiros tradicionais) é mais forte que lá que na província do Niassa. Mas também conheço que sai de Montepuez e Mueda para Matchedje ou Mandimba por ouvir que há (nestes locais) canamicinistas mais fortes que os de Cabo-Delgado. Há discursos e oposições regionalistas que provocam pena e dó. Este tipo de discursos é do tipo_ esses jauas pa-----estes manyungues…..estes machanganas pa….estes ndaus….estes macuas….estes nyanjas pa…. Este tipo de discurso é típico de quem vive apenas no seu óvulo de ignorância. Para uns o amor deve ser étnico- este tem um discurso que cheira a frunco, do tipo: “eu devo casar na minha terra. Ou melhor uma mulher ou homem da minha terra”. Ou ainda: “as mulheres daqui, dali e de acolá não servem para mim. Ou, os homens daqui não valem só os da minha etnia”. Estes dizem isso como se o amor se comparece a um produto de supermercado. E mesmo se fosse: eu não deixar de comer uma caldeirada de cabrito do Niassa só porque acho que a carne mais típica é de Tete e esperar até que num ano desses consiga comprar, mesmo vivendo em Niassa. A seleção de quem amamos não se faz como a compra de lingeries em boutiques femininos. O amor desponta, ele não se matica nem se força. O amor desponta dos “nadas” criados pelos nossos condicionalismos. Só é possível amar as pessoas que conhecemos ou que no mínimo vemos com alguma frequência. E as pessoas só podem ser conhecidas e amadas nos espaços sociais que o indivíduo ou a indivídua frequenta. Se os espaços sociais da minha frequência forem a Igreja, o bar, a faculdade, e discoteca; a probabilidade de eu me apaixonar doidamente por uma mulher também frequentadora destes espaços sociais é maior. Não é por acaso que o número de casais frutos do relacionamento entre docente-estudante (maior de 18 anos) é frequente em certas instituições universitárias. Isto justifica-se pelo facto de a faculdade ser o espaço social mais frequentado e que permite maior leque de escolha e conhecimento entre as pessoas. O amor não é um sentimento adiável, protelável ou futurozável (me desculpem mas gosto de engomar as palavras ao estilo de Mia=o Couto) Se a minha vida é frequentar barracas e ser negociante e visitar bordéus, a probabilidade de me relacionar com uma indivídua que seja frequentadora destes espaços sociais é de quase 0.8. Uma indivídua não deve, porque a “natureza” social do homem não permite, viver na Ilha de Moçambique 20 anos e até completar os 30 anos com receio de amar e casar porque não é natural da Ilha de Moçambique. Não se guarda o sentimento num baú de madeira preta ou chanfuta para que num desses anos viajar para terra de origem com o intuito de amar uma alguém ou um alguém para casar. Em todos os lares, sejam eles macuas, ndaus, changanas pode e há problemas. Em todos os lares pode haver divórcio. Em todos os lares pode haver crise e superação. Não se usa teorema de Pitágoras para calcular o amor. A apótese do amor varia não só do tipo de prisma (regular, hexagonal, tec), mas também das condições materiais para a construção de tal prisma. By: Waverme Ge Corcunda
Posted on: Mon, 30 Sep 2013 14:39:53 +0000

Trending Topics



Recently Viewed Topics




© 2015