Saulo Louzada Lessa "A organização do trabalho será a derrocada - TopicsExpress



          

Saulo Louzada Lessa "A organização do trabalho será a derrocada do capital e do poder." "É que o governo pressupõe um correlativo, e que se todo o povo, como soberano, governa, em vão procuraremos os governados. O fim do governo, lembramos, não é unificar a divergência de interesses -- quanto a isto ele reconhece a sua perfeita incompetência --, mas sim manter a ordem na sociedade apesar do conflito de interesses.Por outras palavras, o governo tem como fim suprir à falta de ordem económica e de harmonia industrial. Se deste modo p povo se ocupa, no interesse da sua liberdade e da sua soberania, do governo, deixa de se poder ocupar com a produção, pois que, pela natureza das coisas, produção e governo são duas funções incompatíveis, e querer acumulá-las seria introduzir a divisão generalizada. Assim, uma vez mais ainda, onde estarão os produtores? Onde os governados? Onde os administrados? Onde os julgados? Onde os executados? (...) É preciso ir até à hipótese extrema, aquela em que o povo entra em massa para o governo, preenche todos os poderes, e sempre a deliberar, votar, executar, como numa insurreição, sempre unânime, não tem por cima de si nem presidente, nem representantes, nem comissários, nem país legal, nem maioria, numa palavra, em que é o único legislador e funcionário na sua colectividade. Mas se o povo organizado desta maneira para o poder já não tem nada acima de si, pergunto-me o que terá por baixo? Por outras palavras, onde está o correlativo do governo? Onde estão os produtores, os industriais, os comerciantes, os soldados? Onde estão os trabalhadores e os cidadãos? Dir-se-à que o povo é todas estas coisas ao mesmo tempo, que produz e legisla simultaneamente, que trabalho e governo são indivisos na sua pessoa? É impossível, pois que, por um lado, tendo o governo como razão de ser a divergência dos interesses e, por outro, não se podendo admitir nenhuma solução de autoridade ou de maioria, sendo só o povo na sua unanimidade qualificado para fazer passar leis, consequentemente alongando-se o debate legislativo com o número de legisladores e crescendo os assuntos de Estado na razão directa do grande número dos homens de Estado, os cidadãos deixem de ter oportunidade para se ocuparem com as suas tarefas industriais; todos os seus dias não serão de mais para despacharem o trabalho do governo.Não há meio termo: ou trabalhar ou reinar. (...) era assim, com efeito, que as coisas se passavam em Atenas, onde durante vários séculos, com a excepção de alguns intervalos de tirania, todo o povo estava na praça pública, discutindo de sol a sol.Mas os vinte mil cidadãos de Atenas, que constituíam o soberano, tinham quatrocentos mil escravos a trabalharem para eles, ao passo que o povo francês não tem ninguém para o servir e mil vezes mais assuntos a despachar do que os Atenienses.Repito a minha pergunta: sobre o que é que o povo, agora legislador e príncipe, legislará? Para que interesses? Com que fim? E enquanto governar quem o alimenta? (...) Se o povo em massa passar para o Estado, o Estado não tem a menor razão de ser, pois que deixa de haver povo: a equação do governo tem como resultado zero. A ideia capital, decisiva, desta revolução não é com efeito: fim à autoridade na Igreja, no Estado, na terra, no dinheiro? Ora, fim à autoridade quer dizer o que nunca se viu, o que nunca foi compreendido, acordo do interesse de cada um com o interesse de todos, identidade de soberania colectiva e soberania individual. Fim à autoridade!, quer dizer dívidas pagas, servidões abolidas, hipotecas levantadas, rendas reembolsadas, despesas com o culto, a Justiça e o Estado suprimidas; crédito gratuito, troca igual, associação livre, valor regulado; educação, trabalho, propriedade, domicílio, preços baixos, garantidos; fim ao antagonismo, fim à guerra, fim à centralização, fim aos governos, fim aos sacerdócios. Não é isto a sociedade saída da sua esfera, caminhando numa posição invertida, de pernas para o ar? Fim à autoridade!, quer dizer ainda o contrato livre em vez da lei absolutista; a transacção voluntária em vez da arbitragem do estado; a justiça equitativa e recíproca, em vez da justiça soberana e distributiva; a moral racional em vez da moral revelada; o equilíbrio das forças a substituir o equilíbrio dos poderes; a unidade económica em vez da centralização política.Ainda uma vez mais, não é a isto que ousarei chamar uma conversão completa, uma reviravolta, uma revolução?" Pierre Joseph Proudhon
Posted on: Sat, 22 Jun 2013 14:02:08 +0000

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