Segunda-feira da semana passada, estava inconformado por não - TopicsExpress



          

Segunda-feira da semana passada, estava inconformado por não poder estar presente na maior (e acredito, a mais importante) manifestação ocorrida em SP, desde o início da atual onda de protestos. Estive presente em eventos anteriores e, queria estar lá por inúmeros motivos, que não vem ao caso agora. O que me impedia, era a realização da banca de graduação dos meus orientandos, marcada exatamente para o mesmo horário do ato. Aliás, graças às outras bancas das quais participei ao longo da semana, não pude tomar parte de nenhuma das manifestações que se seguiram. Pelo menos, não de corpo presente. A semana foi puxada, para os meus alunos e para mim. Vida de professor tem dessas coisas... O que me confortou, foi, além da certeza de que eu estava cumprindo o meu papel, como professor, orientador e avaliador, certificar-me de que todos os meus alunos, ainda que entre um problema ou outro, apresentaram projetos de grande qualidade, não apenas arquitetônica, mas especialmente urbana. Em todos se fazia latente a preocupação com o entorno, com a rua, com as relações estabelecidas, com a apropriação do espaço, com a inserção urbana... fruto de muita discussão, reflexão e experimentação projetual. Nem preciso dizer que todos foram aprovados. Mais que isso, as diferentes propostas proporcionaram discussões riquíssimas sobre a nossa arquitetura, a transformação da cidade, as nossas responsabilidades e o papel do arquiteto no presente momento. E é por isso que adoro participar de bancas. Ainda que completamente sem tempo para mais nada, ao longo da semana procurei seguir as notícias sobre o que acontecia no país. A imagem do povo sobre o Congresso Nacional foi de arrepiar, e deu para sentir orgulho de ver esse momento histórico e, claro, da arquitetura do Oscar, livre e aberta a todos, como ele queria. Aquele espaço deveria ser sempre assim, praça pública, no melhor sentido do termo. O final da semana, entretanto, trouxe certa frustração em relação ao movimento. A percepção da falta de objetivos claros e de coerência nos discursos inflamados, mostrou o óbvio, que estamos preparados para reivindicar melhorias, mas não sabemos bem como, nem por onde. Muito pior que isso, o surgimento de grupos oportunistas, que passaram a se aproveitar da situação, para papaguear um discurso fascista, travestido de democrático, deixa claro o quanto precisamos estar atentos. Esbravejar "fora Dilma", por exemplo, é de uma estupidez sem tamanho! Ok, no calor do momento, até vai. Mas efetivamente defender uma coisa dessas é um completo desatino. Goste ou não, seu governo tem a legitimidade do processo democrático e, até que provem o contrário, não cometeu nenhum ato que justifique tal despautério. Que a farra dos partidos políticos no Brasil seja motivo de vergonha nacional, ok, mais do que justo. Mas daí a sair queimando bandeiras, agredindo membros de movimentos sociais e, dizendo que não existe mais direita nem esquerda, demostra a mais completa e profunda ignorância histórico-política, senão a mais pura má-fé mesmo. O fato de a maior parte dos partidos não terem mais posicionamento político claro e objetivo, e se aliarem a antigos inimigos, não quer dizer que não exista mais esquerda e direita. Esses termos denotam formas de pensamento político, e não mero posicionamento partidário. Para que fique bem claro, explicando de modo simples, como bem faz o vídeo dos meninos que anda circulando por aí, se você defende maior igualdade social, oportunidades de crescimento e desenvolvimento para todos, melhoria e democratização dos serviços públicos, você tem um discurso de esquerda. Simples assim. Calma, seu mundo não vai acabar! Mas o pior de todos os comentários, foi aquele que alertou para a ameaça do golpe comunista que se aproxima (oi?!?) e, bradou em alto e bom som as saudades da ditadura militar!!! Esse tipo de alucinação me dá nojo e vontade de vomitar, literalmente... A coisa é tão non-sense, que não merece nem ser rebatida. Merece apenas o mais profundo e sincero desprezo. Para fechar, foi no mínimo interessante verificar as reações ao pronunciamento da Dilma, na 6a-feira. O que esperavam? Que ela não se pronunciasse ou que viesse com que tipo de novidade? Como Chefe-de-Estado, diante de tal situação, a Dilma tinha sim a obrigação de se pronunciar. E o fez como tinha de ser, de forma séria, responsável e ponderada, deixando claro que entendeu o recado dado e apontando ações a serem tomadas. Sua fala de hoje confirma as suas intenções. É claro que é preciso ficarmos atentos para que, com o baixar da poeira, o discurso não caia no vazio. Mas, diante de tamanha reação da população, acho realmente difícil. Seria suicídio político... Além disso, seu discurso é absolutamente coerente em relação à sua trajetória. Ainda que eu não esteja plenamente satisfeito (se é que isso seria possível) com o seu governo, principalmente no que se refere a reformas estruturais (a reforma política anunciada já é um bom passo!), reconheço os importantes avanços econômicos e sociais em curso, que tanto estão transformando o país e melhorando a qualidade de vida de boa parte da população. Antes que venham os raivosos dizer que estou viajando, façam um favor, consultem os índices de desenvolvimento humano atuais, se informem, e depois conversamos. Ainda que não concordem com as políticas adotadas, não podem ignorar os resultados obtidos. Eu concordo e apóio. Agora, é preciso serenidade para que as mudanças reivindicadas se estabeleçam e se consolidem. É preciso que o processo democrático participativo seja aprimorado, bem como o sejam os instrumentos de controle, fiscalização e comunicação, que garantem a transparência das ações públicas. Que os excessos relativos à Copa (ou seja o que for, sempre) sejam investigados em todos os níveis, federal, estadual e municipal (afinal, a Dilma não faz a Copa sozinha). Que a corrupção sejam combatida em todos os âmbitos e setores da sociedade, não apenas no poder público (ou você ainda acha que aquela propinazinha pro Seu Guarda não faz mal a ninguém?). Enfim, pena que meus amigos reaça não vão chegar até aqui, não vão ter paciência de ler esse texto gigante de "comunista bolchevique"! A mensagem era, em especial, para eles...
Posted on: Tue, 25 Jun 2013 06:48:24 +0000

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