Sempre imaginei a razão como algo que, com vida própria, corre - TopicsExpress



          

Sempre imaginei a razão como algo que, com vida própria, corre solta pela atmosfera. Dessa forma, ela não pertence a você ou a mim, não pertence a ninguém. Apenas de vez em quando, por oscilação, esta ora com você, ora comigo. Alternadamente, o bom senso diria que é, ou deveria ser assim. Não desejaria tê-la todo tempo. Não mesmo. Seria extremamente chato e cruel para comigo. Ter de explicar algo que só a mim fizesse sentido. Só de imaginar me causa pânico. Não quero estar sozinho neste desconhecido lugar. Mas o que fica cada vez mais perceptível é de que esse agora não faz o menor sentido comum. Não existe mais o sentido comum, a razão de vida própria, um ponto de união entre os elementos, que os classifique, separe e diferencie-os entre certos ou errados, próprios ou impróprios. E não digam em questão de faixa etária para tal. Não há a menor discriminação. Muitas das pessoas mais velhas que deveriam ter um horizonte, por uma bagagem maior, mais esclarecido e maduro, mostram nesse momento não ter, ou se perderam como a todos nós nesta grande e nebulosa nuvem de falta de critérios e significação dos termos que envolvem a vida. Não há um ente de ligação entre a sua ou a minha verdade mais. As temos de modo explicitamente separado, desarticulado. E cada vez se mostra mais longínquo um termo que estabeleça as mínimas bases de entendimento e ponderação entre sua ou minha razão. Estamos sem coesão social. Cada um de nós vê algo diferente, mas até aí tudo bem, só que vemos algo diferente e renegamos taxativamente as percepções contrarias. É uma coisa estúpida, uma carga desproporcional onde vence quem gritar mais alto e entoar “sua grande razão existencial ao mundo.” Esqueça argumentos, persuasões. No modo de vida cotidiano isso de nada serve mais. Tornou-se até chato. Um culto a vaidade do próprio ego, de fundamentação do próprio “eu” impressionante. E mais além ainda: este próprio “eu” em sua perspectiva mono também engloba a versão da razão e da verdade ao mesmo instante que da perda de razão e da inverdade. É exatamente assim: o que estamos a pensar ao mesmo instante é e não; tem sentido e já não mais tem; é sábio e estúpido; belo e profano; coerente e sem nexo. Nós nunca vamos entender a nós mesmos nem a nada em um quadro destes de uma humanidade caracteristicamente e assustadoramente bipolar. Em meio a esta civilização e quem sabe até isolados fora dela, nós não fazemos mais o menor sentido, é tudo uma grande loucura. Ou quem sabe não... talvez faça todo sentido e seja absolutamente sóbrio e perspicaz dizer isso. Notaram? A certeza da dúvida e a dúvida sobre a incerteza. Isso é muito sério e preocupante. Embora em meio ao paradoxo, a comédia e a tragédia andam juntas e são frequentemente confundidas ou unificadas em uma coisa só. Quanto mais capacitados a pensar sobre algo, menos sabemos o que pensar a respeito. Quanto mais você percebe algo, mais dúvidas advêm. Mais explicações multidirecionais são possíveis. Quantos desencontros mais haverão nesta vida, se passamos correndo uns pelos outros? Em nossos dias tão vazios e sem sentido. E tudo que se fala parece uma grande bobagem, pois só faz sentido a si próprio. E olhe lá... O mundo de hoje precisa de um tratamento e terapia de choques de proporções globais. Em meio a esse cenário de a tudo o que é nada; de meias e relativas verdades; de razões e motivos e falta deles, você ainda teria a coragem de saber quem é? Dentro da selva e fazendo parte dos lobos. Eu há muito tempo deixei de saber quem sou. Pensar isto como a tantas coisas, hoje se mostra muito controverso. Apenas quem criou esta bagunça apareça e assuma a paternidade da mesma. Porque está difícil entender algo nestes tempos de sentidos e razões tão volúveis e facilmente dissolvíveis. Cada um de nós a sobreviver em seu próprio universo. A ser sua vitima e vilão; seu herói e anti-herói. Sua divindade e aberração. Nada mais faz sentido, ao mesmo tempo em que tudo o faz. Onde foram parar nossas almas, nossas identidades?
Posted on: Thu, 07 Nov 2013 12:12:39 +0000

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