Ser médico no Brasil, um desafio para a reforma CATARINA GOMES - TopicsExpress



          

Ser médico no Brasil, um desafio para a reforma CATARINA GOMES Busca de aventura e relações familiares são as razões da ida de médicos portugueses para o Brasil, onde o Governo criou um programa para preencher vagas em zonas carenciadas Se não fosse o medo de cobras, a médica portuguesa Maria Teresa Pereira, de 59 anos, até poderia ter escolhido a Amazónia. Assim, dentro do desconhecido, optou por ir exercer para Almirante Tamandaré, na região de Curitiba, no Sul do Brasil. Não são médicos em início da carreira em busca de aventura, mas sim aposentados a maioria dos 17 médicos portugueses que saíram do país para exercer no Brasil, no âmbito de um programa do Governo brasileiro para colocar clínicos em zonas carenciadas. Maria Teresa encara a ida como "um desafio" na reforma. Depois de três semanas de formação, o trabalho no terreno começa esta semana. Sempre leu literatura brasileira, sempre se sentiu ligada ao país, mas conhecer só mesmo o clássico: as férias no Nordeste brasileiro. Tinha pedido a reforma antecipada para fugir a mais cortes no salário e exercia medicina geral e familiar no sector privado, na Lourinhã, depois de ter passado a sua vida em centros de saúde. Criados os filhos, emigrados os filhos, há vários anos que ambicionava experimentar exercer medicina fora do país. Fazendo contas à esperança média de vida à nascença, Maria Teresa Pereira pode contar com mais duas décadas pela frente, e a vontade de desafios e de aprender não esmoreceu. Tentava há anos ir para o Brasil, mas a burocracia e o que tinha de investir para o conseguir - só para equiparação do diploma teria de se deslocar ao país para fazer um teste escrito e outro oral - tinham adiado o projecto. Quando um doente lhe falou no programa Mais Médicos, que está a recrutar médicos para zonas carenciadas, nem hesitou. Toda a parte de equivalências era assegurada, e estava estipulado um salário mensal de 10 mil reais (cerca de 3200 euros). As ajudas de custo podem variar entre cerca de 30 mil reais (cerca de 9500 euros) e 20 mil (6500 euros), dependendo da região do Brasil. Partiu sozinha. Esteve em formação três semanas e conheceu centenas de médicos de todo o mundo mas nenhum português, não faz ideia de quem são os outros. A Ordem dos Médicos não tem dados sobre estes clínicos, mas todos os que vieram contar a sua história são médicos que, entrados na reforma, procuram uma experiência profissional nova num país diferente, como Maria Teresa, ou que rumaram ao Brasil por razões familiares. Miguel Soutim, médico reformado de 70 anos, enquadra-se na primeira categoria. "Em Portugal já me reformei e queria continuar a trabalhar", contou à Lusa. "Nos últimos anos, fomos [Portugal] invadidos por brasileiros, médicos e doentes, agora as coisas viraram ao contrário, mas as relações são boas na mesma", cita o site da Globo. O Departamento Económico e de Assuntos Sociais das Nações Unidas considera a rota Portugal-Brasil "um grande corredor migratório". Em 2009, tinham ido para o Brasil 708 portugueses, em 2012 já foram 2247, cita a Lusa. No caso da médica portuguesa Kátia Miranda, 61 anos, o que contou foi mesmo a família. Já trabalhou em diversos países além de Portugal, incluindo França, Inglaterra e Holanda, o último país onde esteve a morar. Agora, queria estar mais próxima do filho, casado com uma brasileira, e da neta, de sete anos, disse à Lusa. Raul dos Reis Ramalho, 66 anos, especialista em cirurgia bucomaxilofacial, foi surpreeendido à chegada a Salvador da Baía. Por ter sido o primeiro médico estrangeiro a chegar à Baía teve direito a dezenas de microfones e câmaras de televisão. Os jornalistas queriam saber ao que vinha o estrangeiro. Afinal, não era assim tão estrangeiro. Morou em Salvador sete anos, entre 1976 e 1983. Neste período, formou-se na Faculdade Baiana de Medicina, escreveu o jornal local Correio. "Eu vim pela saudade, sempre sonhei voltar à Baía", disse ele, aposentado em Portugal desde 2011. Há dois anos, um filho seu foi viver para Salvador com a mulher, uma baiana, para fugir à crise europeia. Foi ele quem lhe falou do programa. Neste primeiro grupo, regressaram 27 brasileiros que estavam a exercer em Portugal. Maria José Cardoso da Silva, portuguesa, aposentada, de 64 anos, conheceu o marido, também médico mas brasileiro, Artur Cardoso da Silva, 65 anos, na Universidade de Coimbra, onde se formaram há 38 anos. Chegados a esta fase, acordaram que tinha chegado a altura de agora virem residir para o país dele. O casal, que morava no Porto, vai viver em Sabará, Minas Gerais. "Quando vimos este programa, meu marido insistiu comigo para vir. Eu senti muito que ele queria voltar", cita o siteGlobo. "Estamos acostumados com programas comunitários, pois foi a nossa geração que implantou em Portugal o serviço de medicina comunitária." Dos 522 estrangeiros ou brasileiros formados no exterior que vão trabalhar no Brasil, a maior parte chega da Argentina (141) e de Espanha (100), mas também de Cuba (74). A seguir surge Portugal, com 45 médicos (os 17 médicos são os que já chegaram ao Brasil), e a Venezuela (42). Ao todo são de 32 países. publico.pt/portugal/jornal/ser-medico-no-brasil-um-desafio-para-a-reforma-27090653 Público 2013.09.24
Posted on: Tue, 24 Sep 2013 12:00:45 +0000

Trending Topics



Recently Viewed Topics




© 2015