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Sobre o filme Gravidade Cinema HÉLIO NASCIMENTO | [email protected] Cinema Coluna publicada em 18/10/2013 O combate Quando realizou, em 1968, 2001: uma odisseia no espaço, Stanley Kubrick conseguiu concretizar, num cenário permitido pela grande indústria cinematográfica, o projeto do filme-ensaio tentado por Serguei Eisenstein em Outubro, de 1927, e também imaginado pelo mesmo cineasta, que planejava uma versão de O capital, de Karl Marx, algo que apenas no título Costa-Gavras se aproximou no filme homônimo atualmente circulando. Recentemente, Alexander Kluge, num filme de 8 horas de duração, mesclou gêneros diversos para tentar algo semelhante no seu Notícias da antiguidade ideológica: Marx, Eisenstein, O capital, obra editada em DVD no Brasil graças ao patrocínio do Sesc e do Instituto Goethe. Costa-Gavras e Kluge seguiram caminhos diferentes. O primeiro focalizou personagens e a superficialidade de seu filme não deve servir de argumento contra tentativas semelhantes. O segundo se afastou de personagens para expor ideias através da imagem, não recusando utilizar filmes de outros diretores e também encenações operísticas. Kubrick, na sua obra-prima, uniu as duas tendências, construindo uma espécie de documentário na primeira sequência, um relato realista com personagens nas duas seguintes e uma abstração reveladora no último trecho. No conjunto um ensaio cinematográfico, o único que até agora conseguiu chegar às grandes plateias. O mexicano Alfonso Cuarón, realizador e um dos roteiristas - o outro é seu filho Jonás - deste Gravidade não poderia escapar de comparações com o filme de Kubrick, pelo cenário e pela situação. Mas há uma diferença fundamental, sem esquecer que a obra anterior é inalcançável, em qualquer nível que se queiram tecer aproximações. O que se vê agora é um produto gerado pelas leis da ficção cinematográfica. Não há, em momento algum, outra ambição do que a de realizar um filme com personagens reais. Não há a presença de um ensaísta e, sim, a de um ficcionista. Se Cuarón quer dizer algo, o faz através de situações enfrentadas pelos seus personagens, nunca por interferências nas imagens. Quando se inicia o filme com um plano-sequência de longa duração, ou seja, sem recorrer à montagem, ele se afasta de Eisenstein e exalta a imagem, mesmo que esta tenha sido alcançada pela admirável utilização de recursos técnicos. Mas, na essência, seu filme não deixa de ser uma variação em torno de 2001. É verdade também que, pela ousadia e competência, Cuarón agora merece ser incluído no grupo dos cineastas que merecem ter a carreira seguida com toda a atenção. Diante dos aterrorizantes espaços infinitos de Pascal, três astronautas tentam consertar um equipamento quando recebem a notícia de que uma grande ameaça, na forma de destroços de um satélite destruído, se aproxima. Não estão diante da revolta de uma máquina enlouquecida, mas o ataque se assemelha. O que vemos a seguir talvez seja, com a exceção do filme de Kubrick, o mais notável emprego dos efeitos especiais. Isso porque Cuarón não está procurando a fantasia e, sim, a realidade. Em som e imagem, o cotidiano daqueles técnicos é captado de forma brilhante, inclusive com a utilização inteligente e não espalhafatosa dos recursos da terceira dimensão. Cuarón merece todos os elogios por tal façanha. Mas certamente ele merece mais do que isso. Há momentos poderosamente dramáticos em seu filme, como aquele da interferência sonora que vem da Terra, no qual um diálogo é como um esboço de reencontro, antes de se transformar num monólogo comovente sobre a proximidade do inevitável. São cenas nas quais o virtuosismo técnico é abandonado por alguns instantes, a fim de que o ser humano prevaleça. E, na mensagem final ao astronauta perdido no espaço, palavras endereçadas a um passado perdido, a personagem se transforma em protagonista do combate maior: o da sobrevivência e do eterno retorno. A água e a terra, o líquido amniótico e o cenário que marca o fim da nova odisseia são a afirmação da vida. Cuarón se afasta do desalento e se inclui entre os que acreditam na resistência.
Posted on: Wed, 23 Oct 2013 23:16:23 +0000

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