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Somos 7 bilhões. E agora? Como foram feitas as projeções para se chegar a tal número e o mito de que a escassez de recursos no planeta tem a ver com o crescimento populacional Por Alberto Augusto Eichman Jakob, do Núcleo de Estudos de População da Unicamp — publicado na edição 62, de janeiro de 2013 O dia de 31 de outubro de 2011 foi escolhido pela Organização das Nações Unidas (ONU) como aquele em que a população mundial atingiu 7 bilhões de habitantes. Mas essa é apenas uma data simbólica. É impossível saber a data exata desta marca populacional, uma vez que, como em todas as projeções, existe sempre uma incerteza. Se houver apenas 1% de incerteza, a data exata pode variar em seis meses para mais ou para menos. Ou seja, a margem de erro estaria dentro de um período de um ano. As fontes de dados utilizadas para esse trabalho de projeção populacional foram os censos demográficos, registros administrativos, estatísticas do registro civil e todo o tipo de pesquisas que podem auxiliar nesse processo. Desde 1950, esses dados são analisados para cada país. Pode-se imaginar então as incertezas de todo esse processo. Mas como se chegou ao número de 7 bilhões? As projeções podem ser elaboradas a partir de diversos métodos, desde os mais simples de extrapolação de tendências, em que basta continuar a tendência da curva do gráfico, até os mais sofisticados de modelos estruturais, demográficos e de simulação. A ONU, assim como os demógrafos, prefere fazer uso de modelos de projeção por componentes demográficas, que melhoram aqueles de extrapolação de tendências no sentido de que incorporam suposições a respeito do comportamento futuro da população. A projeção por componentes baseia-se na Equação Compensadora da População, onde um volume populacional em certo momento “t” será igual ao volume de uma população-base em um momento inicial “0” mais o crescimento vegetativo do período (número de nascimentos menos o número de óbitos) e mais o saldo migratório resultante no período (número de imigrantes menos o número de emigrantes). Em termos de representação matemática: Populaçãot = População0 + (Nascimentos0_t – Óbitos0_t) + (Imigrantes0_t – Emigrantes0_t) Dentre as componentes demográficas citadas, a que mais produz impacto na modificação futura da distribuição etária da população é o número de nascimentos. Para estimar a fecundidade (do inglês fertility, fertilidade tem a ver com o potencial reprodutivo), em cada país foi feita uma modelagem que resultou em 100 mil curvas de fecundidade. A média foi selecionada, e a informação foi denominada variante média. Após essa modelagem, foi criada a variante de alta fecundidade (somando-se 0,5 filho por mulher às estimativas), variante de baixa fecundidade (subtraindo-se 0,5 filho por mulher das estimativas) e variante constante (fecundidade permanecendo constante no nível de 2005-2010). A mortalidade foi projetada com base em modelos de mudança de esperança de vida (número médio de anos de vida que ainda restam a partir da idade da pessoa). No caso da migração futura, baseia-se nas estimativas de migração do passado e posições políticas dos países quanto a fluxos migratórios futuros. Padrão de consumo E as implicações dos 7 bilhões hoje e no futuro? Muito se tem dito sobre o crescimento populacional exacerbado e a escassez de recursos no planeta desde a época de Malthus, mas a relação entre população, recursos alimentares ou de energia e desenvolvimento econômico não é assim tão clara. Alguns ambientalistas apontam que os recursos do planeta seriam suficientes para, no máximo, 10 bilhões de pessoas. Porém, a escassez de recursos tem muito mais a ver com o padrão de consumo do que com o crescimento populacional. Se todos os habitantes do planeta hoje tivessem o mesmo padrão de consumo que os norte-americanos, os recursos já não seriam suficientes.O que preocupa não é o crescimento populacional, e sim o crescimento do consumo, porque a maior parte do incremento populacional mundial se concentrará em alguns países da Ásia e África, que possuem um baixo padrão de consumo. O alto padrão de consumo ocorre hoje principalmente na Europa e Estados Unidos, regiões com fecundidade bem baixa. Todos os 27 países da Europa estão hoje com uma taxa de fecundidade total (número médio de filhos por mulher ao final de seu período reprodutivo) abaixo de 2,1 que é a marca em que os pais são substituídos pelos filhos, o nível de reposição da população. Se um local fica por algumas décadas abaixo dessa marca, sua população começa a decrescer. Isso está acontecendo com a Europa e desde 1997 sua população está em queda. Na Rússia, estima-se uma redução populacional entre 23 e 40 milhões de 1994 a 2050, dependendo da variante escolhida. Se até agora o tempo para se adicionar 1 bilhão de pessoas vem se reduzindo, a partir desse momento começa a aumentar novamente, o que mostra um arrefecimento da taxa de crescimento em razão da queda da fecundidade. Mesmo o país com a maior fecundidade atualmente (Níger, com uma TFT máxima de 7,8 no período 1985-1990, e 7,19 em 2005-2010) apresenta uma queda significativa (gráfico acima). Também gigantes populacionais como a China estão com fecundidades bem baixas (abaixo do nível de reposição desde 1990-1995, sobretudo por conta da política de filho único) ou quase chegando a esse nível (como a Índia em 2030-2035). Isso levando em conta a variante da fecundidade média calculada pela ONU. Nesse caso, a população mundial alcançaria 9,3 bilhões em 2050. Mas caso a fecundidade diminua mais que o esperado, a variante baixa estipula uma população máxima de 9,1 bilhões em 2045, começando a cair a partir daí. No caso do Brasil, a variante média mostra que a população máxima seria atingida em 2042 (224,5 milhões), caindo desde aí. Já com a variante baixa, o ponto máximo seria alcançado por volta de 2030 (207,2 milhões). Em 2050, estaríamos com 191 milhões (variante baixa) ou com 222,8 milhões (variante média). Esses dados são em parte corroborados por estudos do Ipea, que mostram que em 2030-2035 a taxa de crescimento populacional do Brasil será negativa, denotando um decréscimo populacional após um pico de 206 milhões. Tão importante quanto o consumo consciente dos recursos disponíveis, muito em voga no momento, é a mudança da em idade ativa muito representativa. Mas após 2020 ou 2030 esta janela se fechará e o envelhecimento começa a ganhar muita força. Em 2040-2050 mais da metade da população brasileira será formada por pessoas fora da idade ativa (crianças e principalmente idosos). A partir desse ponto, questões como a Previdência Social e a demanda de mão de obra no mercado de trabalho serão bem complexas. O Brasil tem de se preparar desde já para essa situação anunciada, dando a melhor educação e qualificação possível para as crianças e jovens para que se minimizem os efeitos de uma sociedade envelhecida. Sem falar em políticas de ajuste previdenciário. Se todos atualmente discutem a chamada “explosão demográfica” mundial, devemos nos preocupar justamente com o contrário, especialmente aqui no Brasil, porque esse panorama apresentado mostra que nos próximos 20 ou 30 anos teremos o início de uma situação de redução populacional aqui, trazendo junto um envelhecimento acentuado. Portanto, o problema não é o crescimento populacional, mas sim o acesso e uso dos recursos disponíveis, e a utilização de energia sustentável.
Posted on: Mon, 02 Sep 2013 01:54:21 +0000

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