"Sons"... Inesperadamente não houve reunião, foi adiada e fiquei desanichado. Não tive tempo de o preencher. E agora? Vou até à baixa. À cautela, meti na pasta três revistas, um livro e um artigo que me pediram para dar uma olhadela e, também, aproveitei para tratar uma "divergência" fiscal, divergência sempre a favor do fisco, como é fácil de compreender. As pancadas fiscais são de tal ordem brutas e grosseira que já nem ligo, pareço um miúdo que se tornou malhadiço por levar tanta porrada. Anda tentei sentar-me junto do rio e ler alguma coisa. Desisti. Não havia ninguém para servir. Tudo fechado. Que pena, àquela hora é super agradável desfrutar do fresco e da transparência matinal. Caminhei um pouco e sentei-me na esplanada do Largo da Portagem a corrigir o artigo. Há muito que não descansava naquele espaço. Comecei a garatujar algumas correções, dando conta da passagem dos transeuntes, de alguns turistas e, claro, de uma ou outra conversa em redor. Conversas de chaça. Sem interesse. O barulho dos carros não me perturbava por aí além. Subitamente comecei a ouvir uns acordes musicais. Olhei para os lados para ver de onde vinham. Nada. Ainda pensei que fosse um animador de rua, mas não. Inicialmente os acordes eram tímidos, pareciam que estavam a espreguiçar-se, depois de uma noite de repouso, um pouco baixo, mas com o passar dos minutos começaram a manifestar alegria, agitação e uma sonoridade brilhante. Olhei para o lado esquerdo e vi duas janelas abertas que libertavam belos e suaves acordes, numa ondulação típica do saxofone. Acabei de corrigir o artigo e fiquei a ouvir. As pessoas passavam, falavam, tomavam os seus cafés, alguns discutiam, o mundo girava à minha volta no típico frenesim de uma manhã de comércio, de afazeres e de lazer, e apenas eu, estou convicto de que era o único, bebia com prazer tão belos sons... Deixei-me ficar!
Posted on: Thu, 27 Jun 2013 10:30:53 +0000
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