SÍMBOLOS E SIMBOLISMO Jules Boucher A palavra símbolo vem do - TopicsExpress



          

SÍMBOLOS E SIMBOLISMO Jules Boucher A palavra símbolo vem do grego sumbolon, sinal de reconhecimento formado pelas duas metades de um objeto quebrado que tornam a se juntar; por extensão, essa palavra significa uma representação analógica relacionada com o objeto considerado. A propósito, é bom fazer aqui uma distinção entre as palavras alegoria, emblema e símbolo. A alegoria (do grego, allegoria) pode ser traduzida literalmente pelas palavras falar e outro, isto é falar de outro modo. Podemos citar como exemplos de alegorias o apólogo (apo, sobre, e logos, discurso) uma alegoria moral e a parábola (parabolé, comparação) uma alegoria religiosa. O emblema (do latim emblema, ornamento que se usa) é a representação simples de uma idéia. O boi, por exemplo, é considerado o emblema da força. O símbolo é mais amplo, mais extenso, e sua compreensão relaciona-se intimamente com os conhecimentos já adquiridos por quem o estuda. O padre Auber, examinando o símbolo em sua aplicação especial a Sagrada Escritura, distingue quatro sentidos que podem estar ligados ao símbolo em geral: o sentido literal, o alegórico, o moral ou tropológico e, enfim, o anagógico. O sentido tropológico (tropos, mudança; logos, discurso: mudar o rumo da conversa) distingue-se do sentido anagógico (ana, no alto; ago, conduzir: elevar o espírito às coisas do alto) por ter o primeiro um sentido moral e o segundo um sentido místico. O padre Auber, examinando o símbolo na aplicação que dele faz a imaginação na interpretação simbólica faz as seguintes advertências: Jamais usar o sentido acomodatício como algo dado por autores sagrados, mas como uma simples apropriação, feita por nós, da linguagem divina ao assunto que estamos tratando. Não alterar em nada, sob pretexto algum, o sentido literal ou espiritual, que só poderia ser explicado pela Igreja e de acordo com a definição do Concílio de Trento. Enfim, só usar interpretações acomodatícias quando não reprovadas pelos escritos dos doutores e dos mestres autorizados. O padre Bertaud, por sua vez, pede que se respeitem as duas regras seguintes: Que a coisa estudada comporte realmente um simbolismo. Que logo que nos encontremos diante de algo que de fato comporte. um simbolismo, nos conformemos, para encontrar seu verdadeiro significado, com as regras da simbólica às quais tal coisa está ligada e às quais o autor se sujeitou em sua composição. Tais limitações não foram observadas, muito pelo Contrário, pelos autores religiosos. Huysmans, em seu livro A Catedral, observa que os simbolistas não se limitaram a converter em cursos de catecismo tratados de botânica, de mineralogia, de história natural, e de outras ciências; alguns, entre os quais São Militto, acabaram aplicando seu processo de interpretação a tudo o que encontravam: uma cítara transformou-se, para eles, no peito dos homens devotos; os membros do corpo humano se metamorfosearam em emblemas: assim, a cabeça significava o Cristo; os cabelos, os santos; o nariz, a discrição; as narinas, o espírito de fé; o olho, a contemplação; a boca, a tentação; a saliva, a suavidade da vida interior; as orelhas, a obediência; os braços, o amor de Jesus, etc.;e esses escritores estenderam seu estilo de exegese aos objetos mais usuais, aos utensílios, até aos instrumentos que se encontravam ao alcance de qualquer um São precisamente os abusos do simbolismo que, desvalorizando-o, causaram a sua rejeição. Contudo, seu uso, de acordo com as regras tradicionais, parecer ser o único meio de explicar o inefável. O símbolo, diz Jean C.-M. Travers, é como um sensível, com consistência própria, mas através do qual se pode perceber uma relação de significação. Antes de significar, ele já possui, em seu poder, sua natureza própria. Ele se apresenta primeiro como um ser conhecido por ele mesmo, depois apenas como um ser que tem uma relação de significação em outro termo. O mesmo autor cita estas palavras de Brunetiêre: O símbolo é imagem, é pensamento... Ele nos faz captar, entre o mundo e nós, algumas dessas afinidades secretas e dessas leis obscuras que podem muito bem ir além do alcance da ciência, mas que nem por isso são menos certas. Todo símbolo é, nesse sentido, uma espécie de revelação. O simbolismo é, com efeito, uma verdadeira ciência que tem suas regras precisas e cujos princípios emanam do mundo dos Arquéticos9. Na Maçonaria, o símbolo é constante e latente em todas as suas partes. É preciso, portanto, penetrar pacientemente seu significado. Somente pelo estudo dos símbolos é que se pode chegar ao esoterismo. Apenas considerando o exoterismo dos símbolos, isto é, interpretando-os num sentido quase literal, é que chegaremos a julgar os Ritos fora de uso ou caídos em desuso. Damos aqui uma explicação e uma interpretação do simbolismo maçônico; mas não podemos ter a pretensão de possuir a qualidade de Iniciado. Diríamos até que é preciso desconfiar prudentemente de todo indivíduo que se gaba ou se vangloria de ser um Iniciado, ou, em outras palavras, de ser o único a estar de posse do Conhecimento e da Verdade. Iniciado (de initium, começo) quer dizer simplesmente colocado no caminho, e o Maçom sincero sabe, mesmo quando se tornou Companheiro e Mestre, que ele continua a ser um Aprendiz. Henry Thiriet, lamentando a negligência na qual alguns deixavam o estudo do simbolismo, escrevia: Não consigo entender, a não ser como uma enfermidade do espírito, que se possa negar seja o valor, seja a necessidade do simbolismo em nossa Ordem. Os que se obstinam nessa atitude não percebem que estão negando, ao mesmo tempo, o caráter filosófico da Franco-Maçonaria e que, desse modo, privam-na de sua virtude essencial. O estudo aprofundado dos símbolos e, sobretudo, dos símbolos maçônicos pode levar muito longe. Nesta terra, tudo é símbolo; as próprias palavras, na realidade, não passam de símbolos das idéias. Na vida corrente, são muitos os símbolos de deferência, de amizade, de alegria, de luto, etc. O homem que saúda tirando o chapéu ou inclinando a cabeça simboliza com isso a deferência que ele quer manifestar à pessoa saudada; o aperto de mão - que se transformou numa cortesia banal - é um símbolo de afetividade, de cordialidade, de devotamento, de lealdade; sua recusa é símbolo de inimizade. O brinde é um símbolo de amizade e de esperança em alguém ou em alguma coisa. Por que levantar a mão direita por ocasião de um juramento senão para simbolizar a sinceridade? O anel de casamento não simboliza, acaso, a aliança indefectível que deve unir os esposos? etc. Todo mundo compreende esses símbolos simples e banalizados. Mas existem outros símbolos menos freqüentes, mais ocultos: filosóficos, religiosos, iniciáticos. Às vezes, sua casca é dura de ser quebrada, mas a semente, uma vez libertada, mostra-se tanto mais deliciosa! II. FORMA PARTICULAR DA INICIAÇÃO MAÇÔNICA Cada iniciação tem suas formas particulares e a Iniciação Maçônica, derivada das iniciações operativas e das associações de obreiros liga-se, por um lado, à arte de construir, e, por outro, com o mito de Hiram, aos mistérios antigos. Certos autores, mais imaginosos do que críticos, afirmaram, sem provas válidas, que a Maçonaria era a continuação da Ordem dos Templários; outros disseram que ela havia sido instituída pela misteriosa Fraternidade dos Rosacruzes (Fama Fraternitas); outros ainda quiseram fazer remontar sua origem a tempos imemoriais; alguns chegaram até Adão, por eles transformado no primeiro franco-maçom! Existe certo parentesco entre os símbolos e os ritos maçônicos e os das associações de obreiros. Esses últimos, por certo, são os primeiros, mas não se pode fixar, a não ser aproximadamente, a época em que a Franco-Maçonaria, de operativa, tornou-se especulativa. Voltaremos a este assunto ao tratar das associações de obreiros. A Arte de construir o Templo ideal: eis o objetivo proposto pela Maçonaria. Esse Templo é, primeiro, o Homem, e, depois a Sociedade. Na iniciação maçônica, o profano, ao receber a luz, toma-se aprendiz-maçom; seu trabalho essencial consiste em desbastar a pedra bruta e para isso bastam-lhe dois utensílios: o Cinzel e o Malho. Quando sua habilidade se tiver desenvolvido, ele se tornará companheiro e aprenderá o uso de novos instrumentos. Mais tarde, terá acesso ao grau de Mestre, que lhe dará o direito e o dever de ensinar a Ciência Maçônica aos Aprendizes e aos Companheiros. Nos dois primeiros graus, o Maçom age sobre si mesmo: de Pedra Bruta ele se torna Pedra Cúbica e pode, então, integrar-se em seu lugar no edifício, ou melhor, no Templo ideal. Esse trabalho é de realização mais ou menos demorada; algumas pessoas jamais conseguirão desbastar a Pedra Bruta, não por falta de capacidade, mas justamente porque não sentem necessidade disso. Estes, embora iniciados ritualmente, não chegaram a receber verdadeiramente a luz. É sobre esses Maçons, que não são maçons, que o público forma seu julgamento e, por isso, a Franco-Maçonaria, cuja verdadeira grandeza é desconhecida, é caluniada. A forma particular da Iniciação maçônica é expressa pelos símbolos do Esquadro e do Compasso, cujo simbolismo examinaremos adiante. Ragon, Oswald Wirth, Plantageneta, Bédarride, Marius Lepage, Mme.A.Cédalge, Ed. Gloton e muitos outros autores se esforçaram para fazer voltar ao primeiro lugar o estudo do simbolismo maçônico. Eles nos indicaram o caminho e se, as vezes, nós os criticamos, não desprezamos seus esforços reais e os serviços por eles prestados à Maçonaria. (Texto do seu livro - A Simbólica Maçônica -Edit. Pensamento)
Posted on: Mon, 25 Nov 2013 13:01:50 +0000

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