“Sábado 15. Ainda agora estava na tasca do Martins, entrou um - TopicsExpress



          

“Sábado 15. Ainda agora estava na tasca do Martins, entrou um maduro que queria vender-me um livro. Ainda por cima um gajo chamado Hipólito. Alfarrabista. Xiça, lembrei-me logo das chatisses que o meu velho teve uma vez por causa dum alfarrabista. O livro era a Alma Adormecida do Quinto Império. Eu nem sabia que já tinham passado quatro. Mas o que é do caraças foi o velho, o Hipólito a dizer que era o nosso destino utlimo. O que os gajos já dizem para vender livros. “ Eis em toda a sua funesta dimensão o equívoco fundador de toda tragédia. É verdadeiramente lastimável que o nosso heóri tenha passado em claro o que poderia ter atingido com a sua empresa. “Bom o dia está a começar bem. Agora foi outro gajo que entrou aqui no tasco. Apresentou-se. Leonardo Coutinho de Achada Mello (com dois eles) Sampayo e Sousa. Especialista em biogenética molecular, neguentropias diversas, antropologia aplicada, estruturas autopoiéticas e ciclismo. Podia facilitar-me uns contactos porreirinhos para a "produtização" do meu invento. Estava eu a comer uma sandocha de coratos com uma imperial. Fiquei logo com azia. O meu invento não tem nada a ver com as gajas de Monsanto. O gajo que vá chamar isso à tia dele. Parece que em Manteigas o gajo conhece uns tipos que estão interessados em investir. Diversificação do portfolio, disse o D. Leonardo. O Martins da tasca está farto de me fazer sinais lá detrás do balcão. Que raio será um portfolio? e porque é que alguém quer diversificar essa merda...” De novo, cara leitora, repare na ausência de compreensão para a verdadeira liturgia nacional. O Alfredo nunca terá acedido à suprema gnose. Desconhecedor da energia telúrica que se encerra na aparentemente inóqua pergunta “Conheces lá alguém?”, o Miraleve recusa aqui uma dupla conexão verdadeiro poço de sinergias e massas criticas. Desprezando o conhecimento de “alguém” que “lá” nos facilite o caminho, justamente quando o personagem em questão parecia ser daqueles que interroga com ar de autoridade “Você sabe quem eu sou?” “Agora voltou o velho do livro, o Hipólito. Que ficou a saber que eu tinha nascido no dia de S. Gil da Tabueira. Tenho a carta astrológica toda igualzinha a uma das profecias do Bandarra. Quem era esse gajo de tabueira perguntei eu. Um mago que deu à Rainha Santa Isabel uma cópia dos pergaminhos secretos da terceira idade do joaquim das flores. Livra, que este gajo é complicado pensei eu. Vou por o gajo a falar com o D. Leonardo, e vou-me daqui fininho que já me doi a cabeça. Porra que hoje soltaram os malucos todos do Miguel Bombarda. Livra! O alfarrabista veio atrás de mim. Ele é o milagre de Ourique de que eu devo ser herdeiro, ele é a questão que separou franciscanos de jesuítas que eu posso resolver. E não desiste, entrou comigo na leitaria do Ernesto. Pergunta-me se eu sei interpretar os sinais exotéricos. Que porra. Mas é exotéricos com x ou com s? E, eu é que sei? Tás aqui tás a levar uma cachaporra. Olha! Agora está a fazer sinais...mas o que é que o gajo está a fazer? Tanto coça o nariz, mexe na orelha esquerda, põe a mão no coração.... queres ver que o gajo lhe tá a dar alguma macacoa? Ai! Mas tás a piscar o olho a quem? Se eu conheço uns tipos de avental???!!!! Mas este gajo pensa que eu ando vestido de mulher em casa??? Ai levas levas....” Incapacidade em aprender. O Alfredo nem com o processo de Bolonha se safaria é o que é. “Quinta feira 24. Boa! Ligou agora o Fané. Conseguiu vender a máquina de tosquia. E tosquiou um gajo. He He He. Ainda recuperei o graveto todo e o Fané conseguiu ganhar algum. Aquele gajo é mesmo bom a vender. Qualquer dia ainda lhe dão emprego num banco para vender faqueiros. E o gajo nem sequer tem estudos nem nada. Porra, o filho do Ambrósio da retrosaria andou lá pelas universidades, estudou macroeconometria e tudo. E, agora, vende faqueiros e serviços de chá em casquinha num banco. Eu ainda perguntei ao Ambrósio se o gajo não estava a gozar, aqui o Afonso tem um negócio dos trezentos e também vende essas coisas. Mas não senhor, o puto anda mesmo num banco com gravata e tudo e vende isso. Xiça anda um gajo a estudar para ir para Lisboa vender uma merda que pode vender sem sair do bairro.” “Quarta feira 13. Porra que dia! Estou cheio de azia e dores de cabeça. Voltei à tasca do Martins e bumba, tinha logo de ser comigo. Umas miúdas com inquéritos. E que perguntas. Se estava preocupado com a demora da justiça, se achava que a prisão preventiva era abusada, se esperava que os tipos da pedofilia fossem condenados, se concordava com o Presidente da República em pedir respeito pelos políticos, ele era mais não sei quantos e mais não sei quê. Se abusavam da prisão preventiva isso era lá com ela. Queixasse-se à policia. O respeitinho foi sempre bonito dizia o meu pai. Lá da pedofilia essa cáfila é para ir toda dentro. Dentro ou então deixem-nos à malta do bairro que a gente extrai o estômago pela garganta. Ou as amígdalas pelo...Bom adiante. O que eu desatinei foi quando me perguntaram se achava que o outro marmelo estava inocente. Pimba. Afiambrei-lhes logo com aquela que ouvi dum juiz da televisão. Já não me lembro bem qual, porra eles vão lá todos, quase todos os dias. Mas, pimba, disse-lhes logo eu de casos abstractos não me pronuncio. Mas toda esta conversa veio-me à memória aquela vez que andava o advogado com mais uma tanga de custas e preparos para eu pagar. A Ermelinda confundiu-o com aquele finório que andava ai a controlar a filha do Amílcar sapateiro, a tentar dar caramelos à miúda. O gajo passou uma temporada nos Capuchos. Agora que penso nisso, como é que os gajos terão tirado aquele agrafador que o Ludomilo torneiro lhe enfiou?”
Posted on: Sat, 27 Jul 2013 15:35:44 +0000

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