São muitas exonerações de professores na rede estadual, sem - TopicsExpress



          

São muitas exonerações de professores na rede estadual, sem dúvida. Mas dá o que pensar aí. Contribuição do camarada Fernando Vidal, sobre o caso: "Números e silêncios 1. Não entendo nada de números, não sei manipulá-los, tampouco analisá-los com alguma competência. Mesmo assim, a matéria abaixo me parece um tanto inábil nesse quesito. Fica patente que o número apresentado - 3 mil professores se exoneram da Rede Estadual, por ano - é alto. Contudo, quando esse número é apresentado isoladamente, deixamos de ter a dimensão da coisa. Se eu fosse o jornalista, imediatamente me perguntaria: e em outras áreas do funcionalismo público, é assim também? Não seria difícil levantar os números: médicos, enfermeiros, psicólogos, engenheiros etc., qual a média de exonerações nessas áreas, por ano? Afinal, os professores são os que mais exoneram ou há alguma outra categoria ainda mais fudida? Além do número de "exonerações" (algo como um suicídio profissional), seria o caso de levantar também o número de "licenças médicas", que estão evidentemente ligadas às condições de trabalho, além de desfalcarem a Rede, e que costumam preceder as "exonerações" (a licença seria algo assim como uma ida à UTI). 2. A pesquisa apresentada nessa matéria abarca exatamente o período a partir do qual a minha turma de graduação passou a ingressar na Rede. Entre os mais próximos, todos "exoneramos". Por razões diversas, bem entendido. Mas tenho a impressão de que a maioria passou pela tal "licença" antes de abandonar o barco. Trata-se de um processo sinistro: o início da "vida profissional" é uma trombada. E cada um que se rearranje como puder... No caso específico da filosofia, há nisso tudo características sui generis, que deverão ser levadas em conta por um historiador do futuro que porventura se interesse pelo assunto: depois de muita luta e discussão em torno da volta da filosofia ao ensino básico, quando enfim essa volta se dá, são os professores que não conseguem permanecer na escola. Esse bloqueio objetivo se reflete, parece-me, na Universidade, que continua girando no vazio quando trata do assunto - afinal, não há acúmulo de experiência real. Mas fatalmente a maioria dos estudantes de Filosofia passarão pela Escola. Essa situação acaba produzindo uma contradição: no caso da Filosofia, a Universidade não tem relação alguma com a realidade que espera seus atuais graduandos. Consequências? A mais visível: o silêncio. Por trás dele, esconde-se o verdadeiro horror (justificado, como estamos vendo) a um futuro que tem a cara de um aborto e ao qual não obstante uma grande quantidade de pessoas está condenada. Se a Universidade privada é o purgatório de quem faz pós-graduação, a Escola pública é o inferno de onde todos querem sair e pra onde ninguém quer olhar. (Aí um dos "Tabus acerca do magistério", a aprofundar teoricamente, caso tentássemos entrar no assunto a partir de um textinho iluminador de T. W. Adorno). 3. No Brasil, a escola pública precarizada se naturalizou, como se sabe. Que um batalhão de gente passe sistematicamente por uma experiência de "fracasso" no interior dessa instituição não chega a chocar. É um "efeito" cuja "causa" se adivinha logo. E os jornais resolvem as possíveis dúvidas consultando uma legião de "especialistas". Quanto aos protagonistas dessas trajetórias arruinadas, diluem-se numa massa quantificada em estatísticas e governada com antidepressivos. Além, é claro, do poço de ressentimento social o mais envenenado que uma situação como essa vai cavando. Daí um outro silêncio, aquele mais sintomático, talvez, o silêncio de quem não encontra meios de elaborar sua "experiência". Um paralelo com a França, por exemplo, ajuda a discernir o problema a que me refiro. Já li alguns relatos de professores franceses sobre sua passagem frustrada pela Escola. Há em todos eles uma percepção clara de "decadência", por assim dizer, efeito do atual desmonte do Estado Social e da fratura social que começa a aparecer a céu aberto. Daí saiu inclusive um bom romance (que virou filme), "Entre os muros". No Brasil, até agora (e até onde sei), nada. A dificuldade de "narrar", nesse caso, é a cifra de um enorme "sofrimento social" invisível. Fico pensando: como "narrar" o que os números escamoteiam e o que o silêncio esconde?
Posted on: Mon, 02 Sep 2013 01:24:53 +0000

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