Só uma pequena provinha: A Desobediência como Problema - TopicsExpress



          

Só uma pequena provinha: A Desobediência como Problema Psicológico e Moral “Disobedience as a Psycho logical and Moral Problem” foi originalmente publicado in Clara Urquhart, A Matter of Life (Londres, Johnathan Cape, 1963) Copyright @ 1968 by Erich Fromm. Durante séculos, reis, padres, senhores feudais, patrões da indústria e pais insistiram em que a obediência é uma virtude e a desobediência é um vício. Para introduzir outro ponto de vista, vamos contrapor a essa postura a seguinte afirmação: a história humana começou com uma desobediência e não é improvável que seja encerrada por um ato de obediência. De acordo com os mitos hebraicos e gregos, a história humana foi inaugurada por um ato de desobediência. Adão e Eva, vivendo no Jardim do Éden, eram parte da natureza; estavam em harmonia com ela, mas não a transcendiam. Estavam na natureza tal como o feto no útero da mãe. Eram humanos, mas, ao mesmo tempo, ainda não humanos. Tudo isso mudou quando desobedeceram a uma ordem. Ao romper os laços com a terra e a mãe, cortando o cordão umbilical, o homem emergiu de uma harmonia pré-humana e pôde dar o primeiro passo para a independência e para a liberdade. O ato de desobediência fez Adão e Eva livres e abriu-lhes os olhos. Eles se reconheceram um ao outro como estranhos e reconheceram o mundo fora deles como estranho e até mesmo hostil. Seu ato de desobediência rompeu o vínculo primário com a natureza e fez deles indivíduos. O “pecado original”, longe de corromper o homem, libertou-o: foi o começo da história. O homem teve que sair do Jardim do Éden, para aprender a confiar em suas próprias forças e tornar-se integralmente humano. Os profetas, em sua concepção messiânica, confirmaram a ideia de que o homem fizera bem em desobedecer em desobedecer; que não tinha sido corrompido por esse “pecado”, mas libertado dos grilhões da harmonia pré-humana. Para os profetas, a história é o lugar onde o homem se torna humano, pois é durante o desenrolar desta que o homem desenvolve seu poder de raciocínio e de amor, até criar uma nova harmonia entre ele próprio, seu semelhante e a natureza. Essa nova harmonia é descrita como “o fim dos tempos”, aquele período da história em que há paz entre homem e homem e entre homem e natureza; um “novo” paraíso, criado pelo próprio homem, e que só ele poderia criar, forçado que foi a deixar o “velho” paraíso como resultado de sua desobediência. Assim como o mito hebraico de Adão e Eva, o mito grego de Prometeu vê toda a civilização humana basear-se num ato de desobediência. Prometeu, ao roubar o fogo dos deuses, estabelece as bases para a evolução do homem. Não haveria história humana, não fosse o “crime” de Prometeu, que, tal como Adão e Eva, é punido por sua desobediência. Mas não se arrepende e pede perdão. Pelo contrário, diz orgulhosamente: “Prefiro estar acorrentado a esta rocha do que ser o sevo obediente dos deuses”.
Posted on: Wed, 21 Aug 2013 01:40:20 +0000

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