(TEXTO DO MEU AMIGO JORNALISTA GUILHERME PEACE) Proponho um - TopicsExpress



          

(TEXTO DO MEU AMIGO JORNALISTA GUILHERME PEACE) Proponho um teste: faça uma simples pergunta a qualquer pessoa maior de 18 anos. Uma pergunta bastante comum, que serve como um teste de memória, mas que qualquer pessoa terá a resposta na ponta da língua. “Onde você estava no dia 11 de setembro de 2001?”. Em poucos minutos, você escutará a história do dia em que aquela pessoa sabia que estava vivenciando a História em tempo real. Aquele momento ficou marcado na lembrança ao ponto de recordarmos detalhadamente cada acontecimento do dia. Não tínhamos um meio de comunicação tão eficiente quanto a internet, pelo menos não da maneira que a temos hoje. Recebíamos as notícias pelos jornais, pela televisão e pelo rádio, mastigada e pronta para a digestão. E, mesmo assim, onde quer que se fosse, em bares, igrejas, nas ruas, no trabalho, nas escolas, só se falava disso. A sensação de ver a História acontecer com seus próprios olhos conferiu às pessoas a certeza da importância daquele momento. E a pergunta jamais envelhecerá. Sempre saberemos como aquele dia começou, quando foi que recebemos a notícia, como nossa família reagiu e qual era o sentimento geral da população. Pessoalmente, seria difícil acreditar que eu viveria novamente um momento histórico desses que nos lembraremos por toda a vida. Apesar das minhas crenças políticas (que em determinados pontos são quase religiosas), a desesperança pela movimentação das massas populares em favor de seus direitos era latente. Mesmo que eu retransmitisse os ideias pelos quais sempre lutei e lutarei, não pensei que fosse de fato vivenciar atos tão representativos quanto os que temos vivenciado. Quando Karl Marx propôs sua ideologia socialista, ele afirmou que o comunismo viria através da falência do capitalismo por todos os seus preceitos naturais. Ele previu em seus estudos do Capital que o sistema econômico sofreria crises e devoraria a si próprio. Praticamente um Nostradamus da política econômica e social, Marx explicou os motivos da ineficiência do capitalismo justamente por sua característica exploratória e injusta. Ele afirmou que o povo sofreria, que o dinheiro estaria sempre na mão de poucos, que as inflações ferrariam com as nações e que as massas precisariam se mover em favor de sua subsistência. As crises aconteceram (e acontecem), as elites se estabanaram na gana por mais e mais dinheiro, as inflações ferraram com o povo e o povo começou a despertar. No entanto, qualquer início de indignação era rapidamente suprimido pela influência midiática, uma poderosa ferramenta que nasceu para ser aliada do povo na vigilância pelos deveres dos governos, mas que acabou se enveredando pelos interesses financeiros e na fome pelo poder. Assim, tornou-se agora uma aliada das elites, garantindo a existência do capitalismo ao pregar falsidades como a meritocracia, por exemplo. Isso aconteceu, porém, depois da mídia já ter estabelecido seu poder perante o povo. Desta forma, o que a mídia afirma ser verdade, rapidamente era aceito pelo povo como verdade. E a mídia se transformou em uma das principais ferramentas para fortalecer o capitalismo e mantê-lo vivo e líquido. Mas a mídia envelheceu. Aquela mídia que apenas emitia as informações para os receptores passivos, que não podiam rebater seus pensamentos com respostas e opiniões, está ficando cada vez mais antiquada. Ela foi substituída por uma nova mídia, uma forma de comunicação orgânica e descentralizada, onde todos os participantes são emissores e receptores de informação. O que antes era atribuído à televisão como instantaneidade se tornou obsoleto. Agora sim, é que as coisas passaram a ser noticiadas em tempo real. E a Internet se tornou ainda mais forte quando todo aparelho celular passou a ter câmeras. Na sede por vender mais e mais, o capitalismo criou o monstro que lhe devoraria. Todo mundo tem um celular com câmera. Todo mundo tem acesso à Internet. Todo mundo utiliza as redes sociais. Quando o mundo achava que os povos não se levantariam mais contra seus líderes insatisfatórios, as revoluções começaram a pipocar. E foi uma atrás da outra. A Primavera Árabe talvez tenha sido a mais expressiva, mas houve revolta em muitas outras partes do mundo, como na Grécia, na Espanha, em Nova Iorque. Por mais que levantes populares já tivessem acontecido anteriormente em nossa História, estas tinham um caráter completamente novo: a ausência de uma liderança clara, uma vez que o povo se incitou, organizou e fixou suas ideias através da Internet. Outro ponto interessante é que todas começaram por um motivo aparentemente banal e facilmente resolvível; uma reivindicação contra uma lei abusiva, uma luta contra o desemprego, uma política insatisfatória ou até mesmo para lutar contra a construção de um shopping, como vimos recentemente na Turquia. Mas, graças à imbecilidade dos governantes, da mídia e do capitalismo, os manifestantes foram tratados com selvageria, de modo que suas lutas se tornaram em favor da liberdade. E pela liberdade, todo mundo quer lutar. Mesmo depois de anos e anos de descrença no jovem que “só reclama e não faz nada para mudar seu país”, o povo não perdeu seu caráter revolucionário. Marx estava certo: quando sentisse que os abusos se tornaram insuportavelmente descarados, o povo se rebelaria. No Brasil, não poderia ser diferente. Depois de anos e anos sofrendo abusos descarados de nossos governantes, depois de décadas e décadas sendo sugado pelo capitalismo selvagem, depois de séculos e séculos de apelos emudecidos pela surdez dos patrões, faltava uma gota d’água para o povo se levantar. E a gota veio na forma de um aumento também abusivo no preço das passagens de ônibus, trens e metrôs. Como ferramenta do capitalismo e dos interesses das elites, a mídia tentou mostrar que este aumento foi apenas mais uma medida necessária para nosso bem estar, tal qual as tantas e tantas tarifas que nos exploram diariamente e que engolimos em seco, mas calados e sem reclamar. Mas até mesmo o burro empaca quando o carreteiro coloca peso demais em suas costas. O povo se revoltou, o povo se organizou e o povo se reuniu para manifestar-se contra esta situação. A mídia, novamente em seu trabalho ideológico, só que cada vez mais estabanado, tentou de todas as maneiras possíveis desarticular e desmoralizar estas manifestações. Taxou o povo de baderneiro, de vândalo, de criminoso e de rebelde sem causa. Tentou enganar o próprio povo para ser inimigo daquele povo que lutava pelos direitos do povo. Confuso? Exatamente. Chegou ao absurdo de incitar a violência contra os manifestantes, apoiando uma “mão dura e pesada” do governo no controle das manifestações. Confuso, o povo que assistia ao povo “badernando” pela televisão passou a pensar coisas como “por que é que quando há uma Parada Gay milhões de pessoas apoiam? Por que é que quando fazem uma Marcha da Maconha, milhões de pessoas se reúnem? Esses manifestantes devem mesmo ser apenas baderneiros, já que são uns poucos vândalos e gatos pingados”. O que o povo que continua apenas como receptor no processo de informação da mídia obsoleta não compreende é que foi emburrecido pelos anos e anos de ideologia mastigada e enfiada goela abaixo. As manifestações como Parada Gay e Marcha da Maconha são sim válidas e devem existir sempre, mas não são “atacadas” (muito) pela mídia por um motivo bem simples: por mais que vão contra os “valores” que o conservadorismo da elite insiste em defender, elas não mexem no bolso de praticamente ninguém. Não representam perigo às carteiras dos patrões. Agora, os lobbies políticos que envolvem a especulação imobiliária, os impostos, as concessões, o “pão e circo” e aumento do custo de um serviço tão básico quanto o transporte público, esses sim, agem diretamente no bolso das elites. Toda a “classe burguesa” ganha com isso. Então, se o povo se revolta contra a pata dos ovos de ouro, é melhor tacá-los de terroristas arruaceiros e acabar logo com essas manifestações. O problema, meu paciente leitor, é que desta vez eles pegaram um pouco pesado demais. Pensaram que estavam em outra época, quando era fácil manipular a informação e colocar as massas contra os corajosos revolucionários que se martirizam nas ruas para defender os direitos do povo. Deram seu aval para uma violência descabida, e acreditaram que poderiam fingir que nada aconteceu. Desta vez, a burrice se inverteu: a mídia antiquada e obsoleta se esqueceu que a Internet é livre, que é o local onde não há filtros para as informações. E que todo mundo é produtor de conteúdo. Inclusive os “baderneiros” das manifestações. Os vídeos pipocaram pelas redes sociais. Vídeos feitos com câmeras e celulares. Imagens chocantes mostrando a truculência da Polícia Militar (que conta com o aval do governo e das mídias convencionais) contra manifestantes, jornalistas (pobres coitados que não podem expressar seus próprios pensamentos e não devem ser confundidos com as empresas para as quais trabalham) e até transeuntes. O povo viu. O povo viu pela televisão. Viu pela Internet. Comparou a diferença no tratamento das informações. Viu algo que percebeu ser falso e manipulado pela TV. Viu algo que soube ser verdadeiro pela realidade do desespero nos vídeos da Internet. O povo viu. Viu e comparou. E o povo acordou. O povo acordou para as injustiças. O nó da garganta ficou apertado demais. E agora o povo apoia aqueles que a mídia burra e obsoleta insiste em chamar de vândalos. O povo quer mudanças, quer reformas. O povo vai às ruas. O Brasil vive a sua Primavera. O seu Occupy. Mas com anseios verdadeiramente brasileiros. A truculência e a burrice das autoridades e das elites fizeram com que a luta evoluísse. Não se trata mais de aumento na passagem de ônibus. Não se trata de depredação de rebeldes sem causa definida. Muito menos de interesses políticos partidários. Agora a luta é por liberdade. É por mudanças reais, em grande escala. É para acabar com o estigma de um povo sempre taxado de burro, pacífico, facilmente manipulável. É para mudar a História. Daqui a alguns anos, nossos descendentes estudarão a época em que estamos vivendo. As pessoas perguntarão umas às outras coisas como “onde você estava em Junho de 2013, quando o Brasil teve a sua revolução popular?”. E nós, assim como quando lembramos do dia 11 de setembro de 2001, saberemos narrar exatamente o que estávamos fazendo. O modo como estávamos agindo. Pois teremos participado da História. Apoiando e participando dos movimentos revolucionários e das manifestações daqueles que lutam pelos seus, meus e nossos direitos, você está participando da História. Está vendo a História acontecer. E deve se orgulhar disso. Guilherme Peace 25 anos Jornalista
Posted on: Wed, 19 Jun 2013 03:29:48 +0000

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