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TEXTO PARA BINA MONTEIRO Paulo Gomes* A aproximação e fruição da obra pictórica de Bina Monteiro exigem, por parte do espectador, dedicação e atenção especial. Sua temática, ampla e aparentemente assistemática, promove uma verdadeira revisão de alguns temas presentes na cultura rio grandense, tais como a história, os mitos, as lendas, seus personagens, conhecidos ou anônimos. É uma obra de acentuado caráter identitário e com grande investimento na manualidade. Tendo como eixo fundador a idéia de construção de uma identidade local, a Artista vai selecionando uma série de referências que possibilitam várias narrativas sobre pessoas e lugares. Assim compartilhamos as narrativas sobre Getúlio Vargas, sobre “O Tempo e o Vento” (de Érico Veríssimo), sobre a presença fundamental da Igreja (tanto no grande altar assim como também nas Filhas de Maria), sobre a mitologia, sobre os formadores da população local (brancos e negros) e, por último, mas não menos importante, sobre os lugares, com a obra que apresenta o antigo Auditório Araújo Viana. O caráter acentuadamente localista, presente no tema e nos títulos das pinturas, não faz, entretanto, apologia do separatismo. Ao contrário, é um modo de explicitar uma história consistente e dramática, apoiada na onipotência da Igreja e dos grandes nomes, assim como daqueles quase anônimos. Não sendo programática, a questão identitária não vai interferir nas obras transformando-as em panfletos. O tema sustenta e mantêm os trabalhos, permitindo que eles se realizem enquanto construções plásticas autônomas mas não ilustrativas. O caráter narrativo está, entretanto, explicitado no método utilizado pela artista para construir suas obras. São pinturas colagens, técnica mista com materiais coletados ao longo dos anos em feiras e briques. A colagem que inclui textos impressos, papier maché (figuras escultóricas que, por si só, mereceriam uma atenção especial), música (o Hino do Rio Grande do Sul), luzes etc., substitui o desenho, presença marcante na obra anterior da artista. Agora as obras são mais complexas, mais orgânicas, sem a linha de contorno que isolava os personagens e objetos. A pintura, com pouca representação pictórica agora apresenta-se como um todo unificado pelo tratamento das superfícies quase monocromáticas em tons escuros. A opção por modular, explicitando a idéia de construção por partes autônomas, abre espaços que estimulam a curiosidade, enfatizando as descobertas (através das portas), permitindo um jogo pendular entre a sensibilidade e a razão. Estas construções - dípticos, trípticos e polípticos – estão carregadas de informações, reforçadas pela presença de formas simbólicas como a cruz e o triângulo, que remetem o espectador a altares, relicários, caixas de coisas, continentes de memórias, de histórias, de lembranças. A idéia de suportes de informações acumula duas funções: espaços de memórias e espaço de exercício das múltiplas possibilidades da pintura. As conseqüências deste trabalho são amplas. Em um momento no qual a cultura riograndense oscila entre a ênfase na tradição e folclore e, segundo, voltar-se para o movimento tradicionalista de caráter ufanista, estas obras, cheias de santos (e também não santos), heróis, personagens reais e literários, duplica as referências: é identitária no tema e no exercício da própria pintura e é barroca na multiplicidade e na riqueza visual. Trabalhando sem a preocupação em ilustrar. Bina Monteiro nos apresenta uma densa na sua temática, impositiva na monumentalidade e instigante devido a sua riqueza de informações. Porto Alegre, Dia de Todos os Santos, 2005. * Artista plástico e curador independente. Doutor em Artes Plásticas - Poéticas Visuais pela UFRGS.
Posted on: Tue, 25 Jun 2013 00:09:02 +0000

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