TEXTO ÓTIMO DE PEDRO PAULO CAVA! DIZ TUDO! EXCELENTE!!!! O AUTOR! - TopicsExpress



          

TEXTO ÓTIMO DE PEDRO PAULO CAVA! DIZ TUDO! EXCELENTE!!!! O AUTOR! ONDE ESTÁ O AUTOR? Dizem e apregoam que a figura do autor sumiu da cena teatral. E que já foi tarde alardeiam as más línguas. O mesmo autor que conhecemos desde as tragédias gregas, comédias romanas, autos medievais, dramas renascentistas, textos de idéias, peças políticas, tragicomédias de absurdo e outros tantos gêneros e épocas que a dramaturgia nos abriu desde que o teatro existe. Nomes que fazem parte do inconsciente coletivo da humanidade ou pelo menos da civilização ocidental: Sófocles, Eurípedes, Ésquilo, Plauto, Terêncio, Gil Vicente, Shakespeare, Molière, Beaumarchais, Ibsen, Tchekov, Gorki, Brecht, Goldoni, Pirandello, Genet, Ionesco, Beckett, Goethe, Schiller, Tenesse Williams, Lorca, Gogol, Miguel de Unamuno, Strindberg e muitos outros, forjaram a literatura teatral ao longo dos séculos. Do meio do século dezenove aos anos noventa do século vinte, num período de quase cento e cinquenta anos, a cena mundial se dividiu entre a influência dos autores teatrais e a era dos diretores-encenadores. Mas são os autores a verdadeira mola propulsora da produção teatral, gatilho para a encenação e motivo para que o teatro continue vivo e fundamental na formação da cultura dos povos e da identidade nacional de tantos países. Os verdadeiros autores teatrais brasileiros, por exemplo, começam a surgir com Martins Penna, França Júnior, Arthur Azevedo e rompem o século vinte trazendo aos palcos nomes como Qorpo-Santo, Nelson Rodrigues, Dias Gomes, Jorge Andrade, Oswald de Andrade, Guarnieri, Vianinha, João Bethancourt, Pedro Bloch , Oduvaldo Vianna, Chico Buarque, Millôr Fernandes, Augusto Boal, Joracy Camargo, Paulo Pontes, Plínio Marcos, Lauro César Muniz, Bráulio Pedroso, Juca de Oliveira, Naum Alves de Souza, Marcos Caruso e uma geração de autoras paulistas: Maria Adelaide Amaral, Consuelo de Castro, Leilah Assunção, Renata Pallotini, Jandira Martini e os mais recentes: Mauro Rasi, Alcione Araújo, Caio Fernando Abreu , Paulo César Coutinho, Mário Prata, Flávio Márcio, Alcides Nogueira, Bosco Brasil, Márcio de Souza e muitos outros. Por aqui pelas Minas vemos surgir autores a partir dos anos 50: Jota Dangelo, Cleiber Andrade, José Luiz Ribeiro, Jonas Bloch, Jorge Fernando dos Santos, Walmir José, Mauro Alvim, Sérgio Abritta, Carlos Alberto Ratton, José Antonio de Souza, Antonio Domingos Franco, Aziz Bajur e o mais mineiro dos portugueses: Cunha de Leiradella. Se misturarmos todos estes nomes aqui citados e ainda os não lembrados, num imenso caldeirão, poderemos colocar vários temperos e ingredientes estéticos, políticos, filosóficos nessa sopa, mas certamente um, apenas um, será comum a todos eles: o conhecimento do ofício da cena, sem o qual não seria possível surgir uma dramaturgia tão vigorosa nos últimos dois mil anos de teatro. A escritura teatral possui características muito próprias que a tornam diferenciada dos demais gêneros literários. È preciso conhecer o vazio e a concretude do espaço cênico, ter noções de arquitetura teatral, dominar o diálogo como forma e conteúdo, saber como se movimenta sobre a cena o ator/personagem, onde se encaixa a música nos momentos exatos para sublinhar as emoções e ainda saber da luz, das cores, texturas, e principalmente obter o pulo do gato: emocionar pelo riso, choro, pausa, silêncio, palavra o espectador que se coloca diante da sua obra. Ainda é preciso acrescentar que ao autor teatral é fundamental o desapego da sua obra depois que é posta em cena; saber que será alterada pelos diretores, atores, cenógrafos e sentir nisso um prazer surpreendente a cada nova montagem de seu texto onde quer que ela se realize. O teatro é a arte da generosidade por excelência e princípio e ela começa pela capacidade do autor em se descolar da sua escrita depois que esta salta do papel para a cena. Se você escreve para o teatro ou para a cena de maneira geral (cinema, tv) é preciso confiar no coletivo que escolheu sua obra para que ela ganhe vida e emoção. Por isso mesmo contistas, cronistas, poetas, romancistas quase nunca gostam das adaptações de suas obras encenadas ou filmadas. Seu ofício de escritor é solitário e seu exercício de visualização ao produzir uma obra fica confinado às paredes de seu escritório ao contrário da escrita dramática que se obriga a visualizar as imagens cravadas sobre o papel na boca e movimento dos atores que as interpretam. A tudo isso chamamos de “carpintaria teatral”. Por esses e outros tantos motivos aqui não alinhados é que fica difícil escrever para a cena. E assim o autor teatral vai sumindo aos poucos dos palcos do mundo e dando lugar aos adaptadores, encenadores e a um novo conceito de dramaturgia que chega ao terceiro milênio assumindo o posto de “ditador” da cena, mas perdido em meio a tantas vertentes experimentais que transformam o ator em verdadeiras cobaias de laboratório diante do despreparo técnico desse novo dramaturgo. O autor teatral anda desaparecido da cena, devorado por “processos colaborativos”, antes chamados de “criação coletiva”, onde todos são autores, encenadores, atores, cenógrafos, figurinistas, iluminadores, psicodramatistas, produtores, designers, divulgadores e tantas outras funções específicas que o ofício teatral requer. Um traço também une estes novos dramaturgos pelo umbigo: falam para um pequeno público de iniciados e fazem de sua individualidade o cerne do ato teatral, mesmo que chamem a isso de “colaboração entre amigos”. Este é o retrato de uma época em que o teatro se vê perdido e perplexo diante da falência das ideologias, da falta de perspectiva, da imensa injustiça social, do ter em lugar do ser, das novas mídias que avançam vorazes e vão jogando na lata de lixo da memória qualquer coisa que não considerem contemporânea e onde o autor teatral é tido como um mamute em extinção. Não sei se tudo isso é bom ou péssimo mas é o panorama atual do teatro mundial, fundado na descrença das pessoas na política, na filosofia, na ética, no pensamento e em especial, em qualquer coisa que pareça uma causa coletiva. Só o tempo vai dizer sobre a validade deste novo conceito de “autoria teatral”, se ele prevalecer sobre as formas convencionais da escrita cênica. Chegamos ao terceiro milênio e o teatro, apesar de tudo, consegue sobreviver a duras penas a tantas variáveis e obstáculos colocados em seu caminho, mesmo que para isso tenha que ignorar as conquistas que obteve ao longo dos séculos. È um hiato apenas? Sempre me pergunto isso quando assisto a uma dessas encenações ditas experimentais, mas que também nós já as fizemos lá pelos anos sessenta, quando as canetas vermelhas dos censores mutilavam impiedosamente as obras de arte de nossos autores. Era o ininteligível diante das circunstâncias. E hoje, quando assisto e não entendo porque o dramaturgo de plantão naquele espetáculo só consegue falar de seu próprio umbigo, e isso não me atinge nem me emociona, é que pergunto: onde está o autor? Pedro Paulo Cava 2008
Posted on: Tue, 02 Jul 2013 00:16:30 +0000

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