Temos assistido nas últimas décadas o nascimento de movimentos horizontais na forma de organização e autônomos em relação a partidos e instituições. Esses movimentos frequentemente valorizam mais o processo do que o resultado: é o meio pelo qual atuam, a horizontalidade, a democracia direta, assim como a criatividade das suas ações que dão a ele sabor e sentido. As lutas são ao mesmo tempo experiências vivas de uma democracia comunitária nunca antes experimentada e espaço de autoexpressão contracultural. Algumas vezes, essa dimensão processual é sobrevalorizada e mesmo contraposta aos resultados práticos da ação política. Há quase 40 anos Mario Tronti propôs a inversão da máxima leninista de que o movimento agia no curto prazo e o partido no longo. Para Lenin, os trabalhadores deixados à própria sorte se perderiam em inócuas lutas sindicais por salários que caso fossem vitoriosas seriam apenas pouco a pouco revertidas pelo aumento do custo de vida. Era preciso um partido que subordinasse essa luta de curto prazo num programa de transformação de longo prazo, orientado por um entendimento "científico" da sociedade. Tronti inverte essa máxima notando que agora era o movimento que fazia a mudança de longo prazo, modificando estruturalmente as relações sociais e que ao partido político (já na sua acepção parlamentar) cabia apenas a luta por conquistas pontuais. A sobrevalorização do processo em detrimento do resultado não é uma característica apenas dos movimentos. A cobertura da imprensa corporativa (e mesmo a da alternativa - que em geral apenas inverte os sinais do discurso dominante) também só se concentra no processo: é na forma de luta, tanto a da "violência" do vandalismo, como na da criatividade da intervenção contracultural que o olhar se detêm. Sobre a reivindicação política à qual supostamente tudo está orientado pouco se diz. De Pablo Ortellado
Posted on: Sat, 20 Jul 2013 05:39:28 +0000
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