Texto publicado hoje na 2a página do jornal Tribuna do Interior, de Campo Mourão/PR, onde estou trabalhando no Festival de Teatro: 12o. FETACAM : A Cultura permeia a sociedade. Por Ney Piacentini. No sentido antropológico, cultura é o trabalho do homem sobre a natureza. Juntar gravetos, talhar pedras, tecer, inventar máquinas, quase tudo é cultura. No entanto, nos dias de hoje, o termo cultura se destina mais à feitura das linguagem artísticas e artesanais, incluindo a produção simbólica, intangível e imaterial. Teatro, pensamento, artes plásticas, cerâmica, software, música, moda e muito mais fazem parte do escopo cultural moderno e contemporâneo. Cabe aos fazedores de artes e de simbologias escolher quais escalas culturais devem ser priorizadas, afim de contribuir para o avanço do atual estágio da nossa sociedade. A Ministra da Cultura tem o direito de achar que impulsionar o fechado mundinho da alta costura nacional é importante. Da nossa parte, que somos ligados á base da produção cultural brasileira, as escolhas podem ser diferentes. Enquanto nos altos andares do mercado cultural tem-se a arte como produto e os espectadores como clientes, aqui, na rua, temos pessoas dialogando com pessoas, em busca de um convívio razoável que nos divirta e nos faça refletir sobre se o modo como estamos convivendo é a melhor escolha para nós mesmos. Infindáveis iniciativas Brasil afora e adentro têm como objetivo fortalecer os vínculos sociais, ambientais e culturais mais civilizados, de maneira a contribuir para o bem viver sobre o território nacional. Uma delas é o FETACAM, que entra na puberdade em 2013. Não é pouco para uma cidade que há meio século tinha como atividades culturais as tradições dos colonizadores europeus, asiáticos e americanos, que iam das manifestações folclóricas aos encontros religiosos. Lembro-me também , quando era um curioso garoto, das exposições nas quais o arteiro Beenado, que àquela época já fazia instalações, aparecia com suas propostas inusitadas para uma tímida Campo Mourão da década de 1960. Hoje a cidade é uma referência em política cultural regional e um de seus expoentes é o seu festival de teatro. Desde que soube da sua existência, sempre tive desejo de contribuir de alguma forma para que o teatro da Comcam avançasse. Por isso, toda vez que possível, indico espetáculos e oficinas para o Festival de Circo e de Teatro, apareço aqui para fazer coisas úteis junto à comunidade cultural e, desta vez, escrevo neste nobre espaço com o fito de enaltecer a iniciativa que tem muitos desafios pela frente. Nossa tarefa é fazer boa arte junto ao povo para que nos reconheçamos e engendremos nossas próprias artemanhas. O papel da imprensa é impulsionar as lutas para que a cidadania plena se alastre para todas as camadas da população. Assim os governos terão, querendo ou não, que responder às manifestações culturais oriundas da sociedade que os elegem. Agentes culturais, mídia e Estado devem estar a serviço das pessoas que pagam tributos, para terem de volta o mínimo de ações que transformam a vida em algo mais do que “ganhar dinheiro”. O FETACAM já uma realidade e, se depender de nós, irreversível. Com o apoio do público de Campo Mourão e região, as gentes de fora e daqui farão desta e das próximas edições do festival um marco tão imprescindível quanto o Carneiro no Buraco os bailes do CTG, que também são expressões culturais de relevância. Vamos ao FETACAM, celebrar seus doze anos, o bom teatro e o salutar hábito de nos deixarmos permear pela cultura. Ah, os ingressos podem ser adquiridos gratuitamente na Casa da Cultura, bastando trocá-los por um livro ou gibi, para que as bibliotecas da cidade sejam reasbastecidas. É a cultura gerando ainda mais cultura. Ney Piacentini, 52 anos, nasceu em Campo Mourão em 1960. É ator com 34 anos de profissão e integra a Companhia do Latão de São Paulo/SP. Presidente do Centro ITI Brasil – International Theater Institute – ligado a UNESCO, foi eleito em julho de 2013 para o Comitê Gestor do Conselho da Cidade de São Paulo.
Posted on: Fri, 13 Sep 2013 18:10:38 +0000
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