The road less traveled - Não vai bem a conversação com o carrancudo motorista do táxi. Desde o aeroporto, o homenzinho respondeu com resmungos e grugunhos minhas observações sobre o belo dia de outono que fazia na Côte. Acontece que homem fala com um sotaque provençal, que em nada se parece com o francês que me ensinaram na Aliança Francesa. Mas ele muda imediatamente de atitude quando peço que me leve a um restaurante na Rue de la Buffa, na parte antiga de Nice. Intrigado, ele me examina pelo retrovisor e guarante que o La Toque Blanche serve os melhores frutos do mar em toda a costa francesa. Quando o táxi pára no sinal vermelho, ele se volta, me investiga mais um pouco, antes de começar a discursar sobre os restaurantes de Nice. Parece que a imagem de lagostins na manteiga e alho serviu para conquistar sua boa vontade – e talvez garantir um pequeno pour-boire do porteiro do restaurante. O agora bem humorado motorista me aconselha a começar com uma Salade Niçoise e depois, pedir sua preferida, a "Tart Pissaladières", que é preparada com cebolas, anchovas e caillettes, as pequenas e suculentas azeitonas pretas cultivadas nas colinas ao redor de Nice. O sinal abre, mas meu consultor gastronômico não dá importância às buzinas que soam atrás de nós. Encolhe os ombros, manobra o Renault com uma mão, enquanto gesticula com a outra. Entramos na Vieille Ville, um bairro pontilhado por restaurantes e bistrôs com toldos coloridos e mesas nas calçadas. O Renault faz uma parada diante de cada restaurante e ouço uma detalhada descrição de pratos e temperos, o que só serve para aumentar minha gula. Quando finalmente desembarco na Rue de la Buffa, o motorista/gastrônomo arranca com o Renault, não sem antes gritar um último aviso sobre a "Tart Pissaladières". Curiosamente, seu francês havia perdido todo o sotaque provençal. O La Toque Blanche tem apenas doze mesas, decoradas com gerânios e imaculadas toalhas brancas. As grandes janelas estão abertas para o azul do Mediterrâneo e todas as mesas do salão estão ocupadas. Os donos, o casal Giles e Diana Houbron, são famosos pelo carinho com que recebem os visitantes. Um corpulento Giles emerge da cozinha, limpando as mãos no avental. Finge me conhecer e indica uma mesa ao ar livre, em um pátio com lajes que já deviam ser antigas no tempo dos romanos. Mal termino de degustar os lagostins grelhados em manteiga e alho, quando Giles retorna com uma terrina de foie gras, que ele acabou de preparar. E pergunta se eu aceitaria algumas torradas salteadas em óleo virgem... O motorista provençal vai desculpar, mas parece que sua "Tart Pissaladières" vai ficar para a próxima. De "O motorista que amava Tart Pissaladières".
Posted on: Sun, 29 Sep 2013 17:03:59 +0000
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