"Trazer imediatamente milhares de médicos estrangeiros"? Vejo muita revolta por causa disso no meu feed de notícias, mas sempre de colegas da área da saúde. Será que os demais brasileiros, especialmente aqueles mais vitimizados por um sistema de saúde ineficiente, sentem o mesmo? Ou ouvem com esperança a promessa da presidente? Para estes esperançosos, que devem ser muitos, escrevo aqui este relato pessimista: todas - repito, todas! - as avaliações especializadas sobre o assunto, sejam de organizações médicas ou de qualquer outra que se dedique a analisar a questão, chega às mesmas conclusões: o que falta não são médicos (aqui lembro e cito a frase infeliz de um político - que não cito para não partidarizar minhas opiniões: "médico é que nem sal: é branco, barato e se acha em todo lugar")! O sincero político está certíssimo! Cada vez nos vestimos menos de branco, mas somos cada vez mais baratos e só não estamos em todo lugar porque em poucos lugares se pode fazer um bom trabalho. Quando me formei, por exemplo, recusei-me a trabalhar no principal hospital público da minha cidade, Picos-PI. Não havia condições para se fazer um bom trabalho ali. Houve quem dissesse que era falta de coragem de "encarar o Regional" (Hospital Regional Justino Luz)! Houve um médico mais velho (e também político...) que invocou meu "dever social", por ter me formado numa faculdade pública. Desde aquela época eu acreditava que meu "dever social" - o verdadeiro! - era recusar-me a trabalhar naquelas condições. Se todos fizéssemos o mesmo, ou seja, não aceitássemos exercer a Medicina de qualquer jeito, só porque é pro "povão", algumas providências já teriam sido tomadas a fim de melhorar a qualidade daquele hospital. Muita gente viu aquele cartaz erguido durante as manifestações desta semana com os dizeres "Desculpe o transtorno, mas estamos reconstruindo este país". Pois bem, "desculpe-nos" o Povo Brasileiro, se não estamos (os médicos) lá em cada cantinho do país chorando convosco as lágrimas pelos doentes não curados, pelas mortes não evitadas e pelas promessas não cumpridas. Mas se estivéssemos aí, pouco ou nada teríamos feito além de compartilhar a dor. Mesmo que aliviar a dor também seja dever dos médicos, "desculpem-nos" os usuários do SUS, mas queremos mais! Nós, brasileiros, sempre exaltamos nosso poder de rir na cara do sofrimento, e o chamamos de resistência! Falácia! No Brasil de antigamente isso talvez fizesse algum sentido. Mas no Brasil de hoje é Mentira! Se o sofrimento é contornável, aceitá-lo é resignação! E não é que "o Gigante acordou"?! O Povo foi pra rua e fez o Brasil e o Mundo ouvir! Vamos ver agora se os nossos funcionários lá nos governos (é isso que eles são: nossos funcionários!) ouviram as Ordens do chefe! Se você chegou até esta parte do texto, deve estar pensando que eu me perdi no assunto. E tem razão! Eu me confundi mesmo: este não é um relato pessimista!
Posted on: Sat, 22 Jun 2013 05:21:38 +0000