Trecho da Proposta de Paz 2013- leiam galera ... O Budismo como - TopicsExpress



          

Trecho da Proposta de Paz 2013- leiam galera ... O Budismo como resposta ao sofrimento humano. O Budismo surgiu na Índia antiga como resposta à questão universal de como enfrentar a realidade do sofrimento humano e ajudar as pessoas mergulhadas nessa amargura. O Buda Sidarta Gautama ou Sakyamuni, fundador do Budismo, pertencia à realeza, que lhe garantia uma vida confortável. A tradição conta que sua decisão de abandonar, ainda jovem, essa comodidade e buscar a verdade por meio da prática monástica, foi inspirada nos “quatro encontros” que teve com pessoas atingidas pela doença, a velhice e a morte. Mas seu propósito nunca foi apenas a reflexão passiva sobre a transitoriedade da vida e a inevitabilidade do sofrimento. Tempos depois, ele descreveu o que sentira naquele momento: “Em sua insensatez, os mortais comuns — mesmo já idosos —, quando percebem o inevitável envelhecimento e a decadência dos outros, ponderam angustiados, sentem vergonha e ódio — nem refletem que é problema também deles.”9 E frisou que o mesmo acontece em relação à doen­ça e à morte. Sakyamuni sempre se preocupou com a arrogância que nos faz “coisificar” e isolar pessoas afligidas pela velhice e por doenças. Foi incapaz de fechar os olhos para os doentes e solitários ou para os idosos ignorados pelo mundo. Um episódio de sua vida confirma. Certo dia Sakyamuni encontrou um monge doente e lhe perguntou: “Por que você está sofrendo e está sozinho?” O monge respondeu que fora uma pessoa preguiçosa de nascença, incapaz de suportar dificuldades e cuidar dos outros, agora não havia alguém para cuidar dele. Sakyamuni respondeu: “Meu bom homem, vou cuidar de você”. Tirou-o da cama suja, deu-lhe um bom banho e roupa limpa. Levou-o para o ar livre e o incentivou com firmeza a ser sempre diligente em sua prática religiosa. O monge recuperou, além da saúde, a alegria de viver. Creio que não foi apenas o cuidado inesperado e o dedicado afeto de Sakyamuni que restabeleceram o monge. O fato de tê-lo encorajado, rigoroso e benevolente, como fazia com outros discípulos saudáveis, reavivou a chama da vida prestes a se apagar no coração daquele homem. A história que conto é baseada na narrativa do The Great Tang Dynasty Record of the Western Regions [O Conto da Grande Dinastia Tang do Oeste].10 Quando comparada à versão transmitida nos sutras, revela-se outro aspecto da motivação de Sakyamuni. Depois de atender o necessitado, contam que Sakyamuni reuniu outros monges e perguntou se sabiam do doente. Pois sabiam, sim, de sua situação delicada, mas nenhum deles se esforçara para aliviá-lo. Os discípulos do Buda se justificaram com o mesmo raciocínio do monge enfermo: — Não cuidamos porque ele nunca ajudou um doente. Esta é a lógica da responsabilidade pessoal, desculpa para não auxiliar os outros. O conformismo no coração do monge doente e dos demais discípulos foi a justificativa arrogante para o descaso. Esta lógica murchou o espírito do monge doente e cegou os discípulos sadios. “Quem quer que me socorra, deve socorrer o doente”. Com estas palavras, Sakyamuni quis dissipar o engano que cobria a mente de seus discípulos e conduzi-los a uma compreensão correta. Em outras palavras, praticar o caminho do Buda significa participar ativamente das alegrias e dos sofrimentos dos outros — jamais dar as costas aos que estão aflitos, comover-se com as dificuldades dos outros como se fossem suas. Por essa dedicação, recuperaram o sentido de dignidade tanto os atingidos diretamente pelo sofrimento como aqueles que se compadeceram dos que sofriam. A grandeza da vida não se manifesta por si mesma. Ao contrário, é por meio da ação solidária que se torna evidente a nossa natureza única e insubstituível. A capacidade de proteger a dignidade ferida ressalta o brilho de nossa própria existência. Ao afirmar a igualdade entre ele e o monge doente, o Buda advertia que o valor da vida humana não diminui por causa da doença ou da idade. Recusou-se a curvar-se a tais diferenças e discriminações. Considerar fracasso o sofrimento alheio pela doença ou idade é um erro de julgamento que enfraquece o espírito dos envolvidos. A base filosófica da Soka Gakkai Internacional (SGI) está nos ensinamentos de Nitiren Daishonin (1222—1282), que enfatizam a supremacia do Sutra de Lótus, epítome da iluminação de Sakyamuni. No Sutra de Lótus , uma torre maciça de joias surge da terra como símbolo do valor da vida. Nitiren compara os quatro lados dessa torre de tesouro aos “quatro aspectos”, nascimento, velhice, doença e morte.11 Afirma que podemos enfrentar inabaláveis a dura realidade do envelhecimento, da doença e da própria morte, diante das angústias que as acompanham. E fazer dessas experiências — normalmente consideradas negativas — o impulso para uma forma mais rica e digna de viver. A grandeza da condição humana não se separa das inevitáveis dificuldades da nossa existência. Devemos nos envolver com as pessoas, estar ao lado delas nos seus sofrimentos e em suas esperanças, até onde alcance a nossa força, para abrir o caminho da verdadeira felicidade, para nós e para os outros. Inspirados neste ensinamento, os membros da SGI — antes ridicularizados no Japão como “pobres e doentes” — expandem com orgulho nossa tradição de apoio mútuo e encorajamento aos sofredores e aflitos. Nos dias atuais esse espírito é especialmente valioso, na medida em que tantas pessoas ao redor do mundo sofrem privações inesperadas, resultantes de desastres naturais e crises econômicas. Estes acontecimentos privam as pessoas do que possuem e amam, sobra-lhes uma vida carregada de dor. É imperdoável que as deixemos isoladas e esquecidas. A reconstrução das regiões afetadas por terremotos, como os que assolaram o Haiti (2010) e o nordeste do Japão (2011) , demanda tempo e muitas vezes os resultados ficam muito aquém das expectativas. A luta das pessoas para reconstruir a vida, recuperar o próprio sentimento do que são, é difícil e constante. Não podemos nos esquecer dos que sofrem. E a sociedade inteira deve participar deste esforço para reacender as esperanças. Incentivar as pessoas até que sorrisos voltem ao seu rosto e jamais abandoná-las. Acompanhar suas alegrias e provações nos capacita a vencer sucessivos desafios e nos guia por uma trilha segura. A persistente dedicação para defender o que é insubstituível e manter nossa própria dignidade e a dos outros corrige as desigualdades sociais e estabelece o alicerce da inclusão social.
Posted on: Mon, 15 Jul 2013 05:53:18 +0000

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