UM DESABAFO SOBRE O CÁRCERE E A REDUÇÃO DA IDADE PENAL Como - TopicsExpress



          

UM DESABAFO SOBRE O CÁRCERE E A REDUÇÃO DA IDADE PENAL Como confiar em um sistema penal que, historicamente, serve para punir os pobres? A maior parte da população carcerária é oriunda da parcela mais carente da sociedade. Por que será, cara pálida? Seriam os pobres "mais maus" do que os bonitos e perfumados? Penso que não. Por que, então, esse segundo grupo não habita os odiosos calabouços penais? Coloquemos o tico e o teco para funcionar. Mostremos que nossas cabeças não são ocas. Algo há de errado nisso tudo. O que conduz o menos abastado à marginalização? O que transforma o feio no mau? Não pretendo, aqui, um debate acadêmico. Quero, apenas, que meus “amigos” de Facebook pensem sobre isso. Com essa onda de protestos, a redução da idade penal voltou a ser comentada. "Os menores" são os monstros. São o câncer da sociedade. Mais perigosos que os gays (com permissão para a ironia). Como vamos curá-los? É óbvio, com o xilindró! Vamos trancafiá-los em calabouços superlotados, para que lá apodreçam. Porque bandido bom é bandido morto. É tolerância zero para a marginália! Morte ao pobrerio fedido que quer invadir as ruas e os shoppings (continuo sendo irônico, alerto)! Claro, tolerância zero, até o filho do bonito e perfumado ser preso com maconha na escola. Até o filho do Juiz de Direito matar alguém atropelado. Os belos são recuperáveis. Infelizmente, a recíproca não é verdadeira com relação àqueles marcados pela miséria. Mas, pensemos um pouco: os marcados pela miséria são maioria ou minoria? Como no sistema carcerário, a miséria toca à maior parte da população. E não é porque o sujeito pode comprar um celular que ele não é mais miserável. Há quem diga que o tráfico de drogas acaba salvando pessoas da fome. Há quem diga, que o menor que se alistou no exército do tráfico vai poder comprar o tênis que a televisão disse que ele deve comprar, pra ser reconhecido como gente. "La ley es como la serpiente; solo pica a los descalzos". O camponês salvadorenho segue com razão. Ouso dizer, pelo que tenho ouvido por aí, que seguirá. De onde é que "importaremos" os menores, para lotar as cadeias (superlotadas)? Não penso duas vezes: da favela. Excluam-se, aqui, raras exceções de menores advindos de "boas famílias", que foram contaminados pelo amiguinho "preto" ou marginal. Por isso, a palavra "importar". A periferia é um mundo particular. É o pago dos excluídos da sociedade. É o mundo dos feios e maus. É a morada da criminalidade. O refúgio dos "perigosos". Outras características da favela? É o local onde o transporte não passa (e quando passa, é de péssima qualidade). É onde o chão é de barro. É onde a chuva faz o esgoto transbordar e o barraco desabar. É onde o "homem de bem" não pisa, a internet não chega, e o patrão não emprega. É onde a polícia não atira com bala de borracha. Da favela, portanto, sairão boa parte dos menores presidiários. Sem nunca ter pisado lá, é difícil imaginar que no casebre de único cômodo, sem luz, pode habitar alguém que sonha em fazer faculdade, comer bolacha recheada e tomar Coca-Cola. Pois é. Mas os honestos julgam, condenam e executam, sem nunca ter pisado lá, sem sequer refletir sobre isso. Eu sou contra a redução da idade penal. Isso porque vi amigos que sonhavam em fazer faculdade morrerem por causa do crack. Conheci menores que praticaram assaltos porque queriam ter dinheiro pra comprar um tênis, pra ir a uma festa. Convivi com potenciais intelectuais que se perderam no crime pela roupa da moda; pelo carro do momento; pela viagem pra praia no final do ano. Nenhum deles era um monstro. Foram demonizados pela sociedade porque tentaram levar uma vida de homem bonito e perfumado. Porque quiseram se "incluir" na sociedade. Talvez, o destino dos feios seja mesmo habitar os calabouços e criar seus filhos com fome, enquanto alguns rasgam (e não é sentido figurado) dinheiro em Jurerê Internacional. Pausa para a minha triste ironia. Demonizem-me. Apedrejem-me. É que de há muito ando triste. Essa xenofobia social me deixa mal. Dói ver os bons e os justos desumanizando pessoas que não tiveram o mínimo existencial. Repito: demonizem-me. Apedrejem-me. Eu sou mesmo utópico. Acredito que o menor que tem escola, comida, uma cama, acesso à cultura e uma família minimamente estruturada vai pra faculdade, e, não, para o crime.
Posted on: Sun, 30 Jun 2013 00:05:08 +0000

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