UMA QUESTÃO DE POSTURA E DE TÁTICA PROFISSIONAL Luiz Roberto - TopicsExpress



          

UMA QUESTÃO DE POSTURA E DE TÁTICA PROFISSIONAL Luiz Roberto Saviani Rey Muitos alunos de Jornalismo, profissionais da área e amigos têm me cobrado opiniões e posições sobre a demissão de Flávio Gomes pelo ESPN em razão dos comentários "levianos" que teceu em relação ao Grêmio de Futebol Porto-alegrense e seus fanáticos torcedores utilizando a ferramenta do Twitter. É difícil analisar situações alheias, em especial quando movem elementos pessoais, particulares, de foro íntimo - visto que o futebol guarda um pouco desse caráter intimista das coisas que amalgamamos em nossa alma e coração, quando se tratam de paixões por clubes e agremiações. Mais que a relação amorosa e afetiva, a paixão futebolística - clubística, heráldica e simbólica em essência - não tolera desfeitas, não refaz afetos, não recompõe amizades: guerra é guerra, e não importam contra-argumentos. Há um ponto, porém, sobre o qual não deve haver dúvidas: a prática jornalística, independente de especializações e áreas de cobertura, exige estrita observância às normas e regras éticas, a aspectos deontológicos que devem cercar o trabalho do jornalista, dentro e fora do seu âmbito de atuação. Na verdade, a ética é como a coluna vertebral que ostentamos como estrutura de sustentação corpórea. Sem ela, eu diria, não há nem mesmo um jornalismo por fazer, uma comunicação a construir, visto que se trabalham com fatos e não com abstrações e os fatos não devem ser nunca substituídos por versões, angulações privadas ou particularizações. Objetividade e precisão constituem preceitos básicos. Creio que ao lado e em conjunto com a ética, caminham a imparcialidade, o equilíbrio, a equidistância, o pluralismo e a veracidade, pilares que a sustentam. Portanto, a prática jornalística não é e não pode ser aquilo que acho e penso, ou aquilo que eu penso que posso dizer, ainda que fora e ao lado daquilo que faz, exerce o jornalista no seu cotidiano. O jornalismo não é apenas uma prática, é uma profissão de fé, é um compromisso social pelo qual desvelamos noite e dia, dia e noite. Nesse sentido, e no caso específico de Flávio Gomes, penso que talvez não haja escorregões éticos a se discutir, embora haja! Mas há um elemento tão relevante quanto à ética e tudo o que a cerca: é a postura profissional, o posicionamento, o resguardo. Em especial quando retratamos de forma ainda que amistosa, desafiadora, satírica, mordaz, situações de conflitos no campo de cobertura jornalística, sobretudo em redes e ferramentas de interatividade social, cujos limites e permissões ainda não compreendemos de todo. Vem, então, o argumento: "estava no Twitter conversando com amigos torcedores do outro clube e respondi a provocações, era uma conversa particular". Ora, o que é particular em uma rede social? O telefone não é particular, toda conversação pode ser gravada e ouvida. Imaginem a rede social, o Facebook, tomando-se como exemplificação, onde agregamos amigos, aceitamos pessoas que julgamos interessantes e, por estas, vêm outras que nunca soubemos a marca de seu desodorante! Senhores, a postura profissional resolve, às vezes, coisas que os códigos podem não resolver, por se tratar de algo comezinho, simples no campo jornalístico: o que é opinião, eu apresento de forma estruturada, categorizada e revestida dos princípios e conceitos de gênero jornalístico, diferenciado em relação à informação, à notícia. O que é conversa de arquibancada, o que é o sagrado direito de torcer e agir como torcedor, eu o faço lá na calçada, nas rodas de cerveja entre amigos. Nas redes sociais, devo me calar, ou me restringir ao que é eticamente plausível. Portanto, se não fere o campo da ética, a manifestação livre de profissionais de imprensa, encarregados de levar a informação e a opinião categorizadas em veículos de comunicação, carregadas de impropérios e de linguagem de rua, em canais de acesso público, como as redes sociais, constitui no mínimo um erro tático, que pode ser punido com a demissão, porque, por mais particular que seja essa manifestação, pode ser entendida como afeta ao órgão, empresa ou empreendimento jornalístico. Por tabela, pode ser entendida aqui e ali como a manifestação da empresa. É complicado, por fim, e voltando ao argumento que disparou esta discussão. Porque, também, pode-se levantar o argumento de que, na rede social, as pessoas se apresentam como indivíduos, mensageiros particulares, desvinculados de seus liames, seus vínculos empregatícios. Que a atitude da ESPN caracteriza-se por um ferimento ao direito e à liberdade de expressão. É uma verdade. Mas é preciso trazer a discussão para o campo corporativo que regra as pessoas no pós-modernismo. As relações corporativas contemporâneas não contemplam nem toleram tais arrebatamentos. Portanto, e para todos os efeitos, como diria minha saudosa e laboriosa vó Lola, cautela e caldo de galinha resolvem todos os problemas da humanidade.
Posted on: Tue, 10 Sep 2013 13:41:04 +0000

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