Ulpiano Bezerra de Meneses. Sutileza, elegância, inteligência e - TopicsExpress



          

Ulpiano Bezerra de Meneses. Sutileza, elegância, inteligência e ironia no combate àzinimiga. Quando crescer quero escrever desse jeito. “A cultura do museu, infelizmente, não conseguiu liberar-se de uma série de dicotomias que facilmente conduzem a opções de fé fundamentalista. Nas décadas de 1960 e 1970, o dilema era: templo ou fórum? Documentação, registro histórico ou produção cultural? Mais tarde, a escolha fatal deveria decidir: informação ou educação? Tais atitudes simplistas revelam falta de munição e, portanto, vulnerabilidade do museu. Uma dessas perniciosas antinomias tem circulado recentemente: acervo como coisas materiais, ou como idéias, conceitos, problemas. Suzanne Keane não se constrange em multiplicar os binômios: coleções ou pessoas, objetos ou informação, edifício ou processo? Tal padrão – digno de Jack, o Estripador –, sob o pretexto de corrigir desvios, desequilíbrios e insuficiências do ‘museu tradicional’, simplesmente os agrava, por ignorar a indissolubilidade dos termos que foram desarticulados. Daí se passa para a funesta questão que cada vez mais vem ecoando: pode haver museu sem acervo? Claro que pode. Costumo, porém, acrescentar: pode, mas como pode haver mula sem cabeça, embora soltando fogo vistosamente pelas ventas. Em outras palavras, a pergunta está mal colocada. A mula sem cabeça é parte de nosso mundo real, na sua dimensão do imaginário. Como tal, é relevante para determinados efeitos: seja para induzir a certos comportamentos, seja para preservar certos valores, seja para castigar infratores (a mulher de padre), seja, enfim, agora do ponto de vista do observador, para entender o juízo popular e formas de sabedoria alimentadas pela moral católica, ou como moral popular, ou uma ética religiosa machista etc. Mas, se eu quiser transportar uma carga serra abaixo, melhor seria ter a mula completa, com cabeça e seus acessórios, principalmente com os olhos bem abertos. Se a pergunta fosse: tem sentido, no mundo de hoje, reservar uma plataforma apta a nos dar ou aprofundar a consciência (em todas as suas dimensões) do universo físico, sensorial em que estamos imersos? A resposta seria positiva e apontaria para o potencial que, para tanto, privilegia os museus. Assim, por exemplo, não haveria porque desqualificar o partido virtual assumido pelo Museu da Língua Portuguesa na Estação da Luz (São Paulo), inaugurado em 2005 e fruto de grande sucesso de público. Ele é totalmente legítimo. Claro que haveria ressalvas que poderiam ser feitas: seu próprio horizonte, que, afinal, é mais a palavra que a língua; a marginalização do enunciado, do ato da fala e suas variáveis e de toda uma série de implicações antropológicas fundamentais; os riscos, as combinações e recombinações que a informática permite, de desfazer sentidos, atomizá-los caleidoscopicamente ou dificultar um pensamento crítico etc. Mas seu lugar não pode ser contestado. O que pode e deve, sim, ser negado é apresenta-lo como modelo desejável do museu do futuro, destinado a substituir o museu ‘tradicional’”. MENESES, Ulpiano. Os museus na era do virtual. In: BENCHETRIT, Sarah; BITTENCOURT, José Neves; GRANATO, Marcus. Seminário Internacional “Museus, Ciência e Tecnologia”. Rio de Janeiro: Museu histórico Nacional, 2007. p. 64-65.
Posted on: Thu, 31 Oct 2013 04:36:39 +0000

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