Um menino em minha rua Essa confissão não me parece muito com - TopicsExpress



          

Um menino em minha rua Essa confissão não me parece muito com uma joia ou qualquer pedra preciosa que se deva por em um baú do tesouro. Não se trata de nada muito interessante. É uma coisa qualquer. Eu nem deveria gastar nosso tempo nem a nossa amizade com isso. Qualquer coisa! Besteira! Nada nada! Blábláblá... blábláblá... blábláblá... Risos! Estou com vergonha de falar! (muitos risos) Como, entre a gente, o pacto é ser honesta e levar tudo a sério, não considerar nada ridículo, lá vai. Senta que lá vem história! Em frente à minha casa, moram duas garotas, as duas são mais novas do que eu, somos amigas. Elas têm um primo que não mora aqui, mas vem sempre visita-las. O nome dele é Tiago. Ele é muito feio. Não digo feio como roupa feia que não queremos comprar na loja. Digo feio irritante, chato, insuportável, atrevido, menino! Entende? Tudo seria diferente se ele não fosse menino. Os meninos são muito chatos. Podem tudo. Perturbam a paz das garotas. Falam só besteira, e ninguém enche o saco deles. São naturalmente livres, como os gatos. Isso me irrita profundamente. Por que não temos a liberdade deles? E por que eles insistem em nos agredir com esse jeito livre e espaçoso de ser? Ah, odeio os meninos! Odeio em especial esse tal Tiago! Ele é impossível! Domingo de manha. Vou dar a minha voltinha sagrada de bicicleta. Nem acordei direito. Pego a bike e saio tranquila da vida pela rua, fazendo ziguezague. Lá está ele. Sentado na frente da casa da tia, seus olhos me perseguem aonde vou. Não o percebo. Meu mundo é mais interessante, não faço questão de ver o que está fora. Não o percebo. Ele simplesmente não para de me perseguir com seus olhos invasivos, olhos de quem quer roubar a paz de alguém. Roubou a minha paz. Finalmente os seus olhos me tocaram e eu perdi o domínio da bike. Quase caio. De repente, o que era o início de um bonito domingo passeando pela rua, virou uma floresta escura e desconhecida, lugar nunca antes pisado por ser humano nenhum. Terra de bicho. Não “bicho-do-mato” tipo o que eu era. Bicho selvagem mesmo! Ai que desconforto! Já não sei o que fazer. Roubou a minha paz, como se rouba bala no mercado lá da rua de cima. Roubou a minha paz, como quem invade a brincadeira do outro se achando o dono do pedaço. Roubou a minha paz sem nenhum escrúpulo e ainda rio para mim, como se eu fosse retribuir aquele riso diabólico de menino livre. Ah, suportei o olhar. Suportei porque não tive tempo de me defender dele. Mas, sorrir para mim! Sorrir para mim era a maior ofensa que um menino poderia me fazer. É certo que eu não estava muito bem. Minhas pernas ficaram enfraquecidas com o golpe do olhar. O meu dia ensolarado tinha se transformado em algo indefinido e assombreado, mas eu ainda era capaz de reagir a um sorriso. Peguei a minha bike e avancei sobre o garoto. Não sei o que deu em mim. Só sei que aquela era a agressão mais agressiva que já haviam me feito. E se eu não reagisse a ela, perderia a oportunidade de ter orgulho de mim mesma uma vez na vida. Avancei com a bike. Reuni toda a competência e força que me restavam e avancei com a bike. Ele mal acreditou que eu seria capaz. Continuou olhando para mim com um sorriso revelado no rosto. Avancei com a bike. Ele permaneceu imóvel como uma besta empacada. Avancei com a bike e, por um instante, quando o sentido de autopreservação falou mais alto do que a autoconfiança, ele recuou alguns centímetros. Por muito pouco, não machuquei aquele garoto maluco. Mas, avancei com a bike. Você está me entendendo? Não é que eu goste de machucar as pessoas. Atropelar alguém é algo muito sério. Eu não pensaria isso nunca se não tivesse sido tão ofendida. Não converso com garotos da minha idade. Eles são esquisitos pra valer. Eu apenas odeio a existência deles. Pensam que podem tudo. Pensam em beijar as meninas. Pensam em beijar as meninas? Meu Deus, por que disse isso? Pensam em beijar as meninas? Está vendo como é? É só recordar a existência desse tal Tiago e já fico nervosa, confusa, falando coisa esquisita. Não era mesmo para tocar nesse assunto. Vou parar um pouquinho de escrever. Estou nervosa. Melhor dormir agora, pois já está bem tarde. Boa noite!
Posted on: Fri, 13 Sep 2013 04:38:41 +0000

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