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Um pouco sobre Florestan Fernandes. Florestan Fernandes O sociólogo paulista Florestan Fernandes (1920-1995) teve uma infância pobre, passando por diversos empregos informais até ingressar na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Faculdade de São Paulo, graduando-se em Sociologia em 1944. Destacando-se entre os alunos, no mesmo ano ingressou no corpo docente como segundo assistente por indicação do professor Antonio Candido, demonstrando seriedade e aplicação extraordinária na orientação aos alunos e em seus próprios estudos. Vindo de um ambiente sem debates intelectuais, Florestan esforçou-se para atingir o nível de conhecimento dos professores da USP, em sua maioria estrangeiros, para tanto seguiu o ensinamento do professor Emílio Willems, que indicava aos assistentes quatro horas diárias de estudo sobre os mais diversos assuntos. Mais tarde Florestan diria que ao avançar nos estudos via nascer sua “vocação adormecida”. Florestan iniciou sua produção no campo do folclore, ao mesmo tempo em que militava no movimento trotskista, concluindo seu mestrado em Antropologia com a tese A organização social dos Tupinambá (1947), e o doutorado com A função social da guerra na sociedade Tupinambá (1953), tornando-se livre-docente da cadeira de Sociologia I da FFCL/USP com a tese que resultou no livro O método de interpretação funcionalista na Sociologia, era até então seguidor da escola funcionalista, o primeiro Florestan, de acordo com Antonio Candido. Florestan engajava-se na causa da Sociologia e questionava o papel da universidade, de acordo com Cerqueira (2004, p. 49): “Lutava por uma universidade aberta à experiência nova, à imaginação criadora, à inovação, ao talento, enfim, queria uma universidade pronta para os sonhos mais elevados”. Em 1951 é convidado por Roger Bastide a participar de uma pesquisa da UNESCO sobre a questão do negro no Brasil. De acordo com Florestan: A pesquisa foi desenvolvida com uma nova metodologia, baseada na observação participativa dos pesquisadores e também na participação ativa da comunidade negra na pesquisa, não somente como objetos de estudo. A pesquisa resultou no livro Brancos e Negros em São Paulo (1953). O resultado foi bem recebido na comunidade negra e causou agitação no meio intelectual, com reações positivas à nova metodologia, mas também negativas, onde Florestan e Bastide foram acusados de introduzir o “problema do negro” no Brasil. Esta pesquisa marca o aparecimento daquele que Antonio Candido chama de “o segundo Florestan”, orientando-se cada vez mais por uma postura crítica quanto às raízes das questões sociais do Brasil. Florestan avança na questão dos negros, “testemunhos vivos da persistência de um colonialismo destrutivo” (CERQUEIRA, 2004, p. 54) através do pensamento marxista crítico em A integração do negro na sociedade de classes, concluindo que o reconhecimento dos danos da escravidão e a reparação dos mesmos são “um teste do que deveria ser a democracia como fusão de igualdade com liberdade” (CERQUEIRA, 2004, p. 54), recusando a tese da democracia racial. Florestan buscou propagar o entendimento que a questão negra era distinta da questão de classe, o que fazia com que esta não fosse reivindicada pela esquerda brasileira, ao contrário, deveria haver a distinção enquanto reivindicação, mas a unificação da luta. Florestan concluiu que há no Brasil um descompasso entre o tempo econômico e o tempo político, avançando seus estudos neste sentido publicou obras como Sociedade de classes e subdesenvolvimento e A revolução burguesa no Brasil, este último apareceu como resposta ao regime instaurado no país em 1964. Neste livro Florestan analisa a formação do capitalismo no Brasil, as bases e a estrutura da ordem escravocrata e como esta funcionou como fator determinante na transição do neocolonialismo para a fase seguinte, o capitalismo competitivo, no caso brasileiro, capitalismo dependente. Assim como Caio Prado Junior havia feito anteriormente, Florestan conectou o desenvolvimento do Brasil ao desenvolvimento do capitalismo no mundo. Florestan utiliza o conceito de revolução burguesa como um fenômeno estrutural aplicável ao desenvolvimento histórico do Brasil, mas distinto do entendimento clássico do termo, pois aplicado aos países periféricos do capitalismo resultou em um capitalismo dependente, enquanto o primeiro resultou no capitalismo independente e na democracia política. Para Florestan as duas enquadram-se no mesmo conceito por terem um caráter burguês. A revolução burguesa brasileira consistiu no processo de modernização capitalista do país, onde ocorreu a universalização do trabalho assalariado, a expansão da ordem social competitiva, adotando um padrão estrutural de organização da economia, sociedade e cultura. Assim embora ocorra de forma diferente da modernização capitalista dos países hegemônicos devido ao próprio tempo em que aconteceu, a revolução burguesa brasileira tem como resultado a adoção dos mesmos métodos capitalistas destes países, ocorrendo baseada principalmente na dominação burguesa e na modernização capitalista. Florestan foi um intelectual ativo na militância por um ensino público acessível e de qualidade, orgulhando-se de manter-se fiel às suas raízes, ligado às lutas voltadas às classes menos favorecidas da população, destacando-se na luta pela votação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Por sua postura política foi perseguido pelo regime militar, exilando-se em 1969 no Canadá, onde lecionou Sociologia na Universidade de Toronto. Após a abertura política, retornou ao Brasil e foi eleito deputado federal por duas vezes pelo Partido dos Trabalhadores. Eva Rosalina Vieira - Socióloga
Posted on: Sat, 28 Sep 2013 02:33:51 +0000

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