VIDA MORTIFICADA (Gau) - TopicsExpress



          

VIDA MORTIFICADA (Gau) Quando a vida se transformar num perigoso desfiladeiro de ruínas, estará totalmente reduzida à condição de sofrimento e dor... Alimentando-se com o fel da amargura, se renderá ao insaciável desejo ininterruptamente inevitável da Vontade Absoluta, irremediavelmente irresoluta e dilacerante, circunscrita numa essência, que transcende o mero instinto de todos os seres, mergulhando desastrosamente nas inexoráveis marés das correntezas rumo às profundezas mais próximas de Tanatos. Desprender-nos-íamos dos laços que nos acorrentam à apostasia niilista atrelada às algemas de vitrais inquebrantáveis, como reflexos das visões pessimistas das telas impressionistas da natureza humana, repleta de tormentos num mundo inteiro de lamentações? Numa insana irracionalidade dos sentimentos, torná-la-íamos suportável diante da solidão, sem paixão, sem coração, manifestada sob as máscaras da face silenciosa nitidamente budista?! Um ascetismo que cultua o Nada, sem risos nem piadas?! Como válvula de escape ao peso desastroso da vida triste e alienista, propõe-se uma espécie de terapia baseada numa sublimação desenfreada só para frear os desejos instintivos. Estes seriam determinados por uma força presunçosamente sobrenatural da Vontade irracional, que, supostamente, acabaria predominando acima de todas as luzes de nossa mente?! À fuga da vida mundana, sem precipícios, sem abismos, sem as chamas infernais das causalidades terrenas, refugiando-se na clausura de um convento ou mosteiro, transformar-nos-íamos em santos canônicos com a redenção de todos os nossos pecados?! Tratar-se-ia, portanto, da desterritorialização do espaço vital à mercê de uma Vontade eloquente, superpotente, sempre presente, cínica, imprudente, imanentemente eterna?! Assim como a metafísica que se propõe apoderar-se de todas as coisas, governando os rumos da nossa existência, a luta contra a louca vontade (in) controlável, constituir-se-ia no fulcro primordial de todo o nosso universo? Que a arte trágica da sublimação, tanto schopenhauereana como freudiana cative pra toda eternidade o espírito humano!!! Vivê-la-íamos num eterno retorno sem fim? Talvez... Mas, por outro lado, não me afeiçôo muito com um discurso nitidamente pessimista, cuja clarividência se expressa e se inspira nas “Dores do Mundo”! Filosoficamente, tudo isto já foi muito bem feito, também desfeito, ou, pelo menos, amenizado em seus efeitos, por meio das notas musicais dos aforismos nietzscheanos. Estes, ao invés de renunciar ao enfrentamento da vida, enaltecem-a na complementaridade indissociável entre o apolíneo e o dionisíaco, entre os princípios artísticos, verdadeiramente criativos em suas formas, da moralidade racional e da embriaguez destrutiva e aniquiladora de todos os modelos reprodutivistas que, por sua vez, subjaz às metáforas de um “trágico hedonismo”! A condição humana de sofrimento e dor, decorrente das pulsões instintivas, não pode ser encarada tão somente como alternativa de fuga do mundo, o que caracteriza uma atitude niilista e pessimista, mas como oportunidade do indivíduo poder (re) encontrar-se a si mesmo, nos subterrâneos solitários, nos laboratórios das experiências de sua própria vivência, enriquecendo, assim, o seu próprio espírito! “Aquele que galga o mais alto das montanhas ri de todas as tragédias lúdicas e de todas as tragédias sérias” (Nietzsche).
Posted on: Sun, 11 Aug 2013 01:31:47 +0000

Trending Topics



Recently Viewed Topics




© 2015