VIDEIRA DO CÉU (Homenagem ao Papa Fco) Reunindo as úteis ferramentas com a enxada, O velho lavrador, já cansado pelas diárias, Procurou o conforto de uma folhagem acetinada Para repousar ali suas costas calejadas. Já encostado, destampou a garrafa térmica E tomou o café a que cedo havia passado. Desligado da labuta, desde cedo empunhada, Orou antes a Deus, seu último e maior legado. Com os olhos cerrados, relaxou desta vida real. Deitou-se abrigado para adormecer nessa hora E começou a contar em sonho ao amigo pessoal, O que via na confortável guarida, campo afora: –Uma igrejinha lá no alto daquela colina santa, Cercada pela meiguice de um verde jardim, Guarda com poder o parreiral que acalanta, Enamorado, seu delicado buquê só pra mim. O crucifixo abençoado e cuidadoso sofre em silêncio, Abençoando todas as construções. Lá daquela altura, Elevado telhado pontiagudo, apontado para o céu, Delimita o centro do parreiral a toda santa criatura. Dentro da capela, Deus é um solitário onipotente. Ora para o destino do povo ter caminho distinto. Reboa baixinho e fervoroso um discurso reluzente Sob o manto real da marcante alvorada do inverno. Flutuando suave no clarear da luz em brasa viva, Sibilantes andorinhas batem asas ao vento sul, Enquanto nuvens brancas tremulam pureza altiva Ao pano azul celeste do dia reverenciado ao sol.. Enquanto repousa meu muito velho parreiral, Os cachos de uvas esperam em calma beleza pura, Caminharem as estações acalorando à luz, Aquecendo no ponto certo para maturar a doçura. E olhe só: uma divindade invisível a tudo isso divisa. Sua roupagem resplandece brilhando ao infinito guarado E uma luz vem do seu coração, meneando leve brisa: Ah! Sinto seu frescor em meu rosto encarquilhado. Principiou a discorrer prosa, esplêndido e poderoso: “A determinação do Pai celeste realizou tua vontade. Surgiu tirar-te desse caminho sacrificado no roço. Recompensarei teu esforço honrando a santidade. Estarás eternamente com o nosso poderoso Deus. Conquistastes lugar cativo no palácio contemplado; Cumpre ingressares para sempre no reino dos céus. A partir de hoje o teu labor será muito comemorado.” Mais que de repente, vem o mensageiro na corrida. Epa! Tropeça e acorda o matuto do sonho almejado. Jamais a sua videira teria a hábil cepa esquecida. Chegava em suas mãos admirável decreto do Papado: “Devido ao bom tratamento, teu fruto é campeão. Mais do que lucros estas gentis uvas darão a vocês; O vinho magnífico que elas produzem na oração, Será consumido nas missas do Papa Bento XVI.” (Poema Suplente no Mapa 2011/12)
Posted on: Tue, 23 Jul 2013 05:23:15 +0000
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